Nick Nelson e Charlie Spring no primeiro episódio, quando se encontram no primeiro dia de aula. (Foto: Netflix)

CRÍTICA: “Heartstopper”, um marco para pessoas LGBTQIA+

Série inspirada em histórias em quadrinhos fala de preconceito, bullying, representatividade, homofobia e saúde mental

Leila Inês
Published in
4 min readAug 31, 2022

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O Brasil, pelo quarto ano seguido, é o país que mais mata pessoas LBTQIA+. O Observatório de Mortes e Violências contra LGBTI+ no Brasil apontou que no ano de 2021, 316 pessoas foram vítimas dessa violência. A série Heartstopper, original da Netflix, chegou para abordar o assunto de uma forma clara e tranquila.

A homofobia é retratada em vários episódios da primeira temporada, além de como isso afeta as pessoas LGBTQ+. Essas discussões se fazem necessárias na atualidade em que vivemos para entender os efeitos negativos gerados pelo bullying.

O drama adolescente, lançado em abril deste ano, é baseado em cinco volumes da história em quadrinhos criada por Alice Oseman. A quadrinista retrata a vida de um garoto que recentemente se assumiu homossexual. Além do tema LGBTQ, preconceito, bullying, representatividade, homofobia e saúde mental também são abordados. Uma série que prende o espectador do primeiro minuto do primeiro episódio até o último segundo. Com apenas oito episódios curtos, é possível maratoná-la em uma tarde de domingo.

Heartstopper é composta por um elenco jovem, o que cria uma aproximação com os telespectadores, abordando realidades do dia a dia, como desilusões amorosas, brigas entre amigos e também novas amizades. Joe Locke, que interpreta Charlie, um dos protagonistas, no primeiro episódio já consegue demonstrar todo o preconceito que sofreu quando assumiu sua sexualidade, mesmo sem essa cena aparecer. Com um grupo de amigos, Charlie se sente confiante em enfrentar um novo ano escolar no Colégio Truham Para Rapazes.

O personagem mantém um relacionamento com Ben Hope, interpretado por Sebastian Croft, ou o que ele imagina ser um relacionamento. No decorrer do primeiro episódio é possível observar que Ben não quer ser visto pelos colegas com Charlie, o que deixa uma pequena confusão na cabeça do garoto. Depois de dar um basta nessa “relação”, ele começa a ver seu novo colega de classe de uma forma diferente.

Nick Nelson, interpretado por Kit Connor, o atleta e também popular aluno do colégio, desperta em Charlie um interesse, porém, ele não consegue entender qual a orientação sexual do seu novo amigo. A partir daí, Nick se torna o novo crush de Charlie. São os amigos dele que aguentam essa “paixonite”, Elle Argent (Yasmin Finney), Tao Xu (William Gao) e Isaac (Tobie Donovan).

Essa rede de apoio que os amigos e familiares demonstram em relação ao assunto é de extrema importância para adolescentes que estão no processo de descobrimento. Como todo filme adolescente, as cenas clichês dos romances não ficam de fora, mas a forma como são inseridas não nos deixam com a sensação de “Ok, já sabia que isso ia acontecer”.

O modo como o processo de aceitação e descobrimento da orientação sexual é retratado deixa a série leve, mostra que as pessoas não precisam ter medo de se assumir, e que esse processo é diferente para cada um. A ideia é não dar spoiler do final, porém, posso dizer que é algo que emociona e que nos faz querer assistir mais de uma vez. Isso resulta numa identificação com os personagens e suas jornadas, visto que eles são adolescentes e passam por isso de uma forma divertida.

O trabalho gráfico desenvolvido para a série também é algo que merece ser destacado. O modo como os cortes de tela fazem referência aos quadrinhos é interessante, porque traz a essência das HQs escritas e ilustradas por Alice. Os desenhos também estão presentes em todos os episódios.

Dentro do drama principal, há outras histórias que também fazem refletir sobre o assunto. Ao longo da série, é possível identificar um “namoro” abusivo, o descobrimento da sexualidade dos protagonistas e o modo como cada um deles lida com esse processo. Mais de uma história de descobertas é abordada, mas essa se passa no Colégio para garotas. Uma forma leve e divertida de abordar esse tema, composto por um romance juvenil alegre.

A trilha sonora que compõe a série tem na sua maioria músicas dançantes. Os temas abordam paixões adolescentes, dramas internos, como é retratado na música Dover Beach, de Baby Queen: “In my self made isolation, you’re my only inspiration” (no meu isolamento criado por mim mesmo, você é minha única inspiração). Além da cantora Arabella Latham, conhecida como Baby Queen, artistas como Girl in Red, Rina Sawayama e Wolf Alice, entre outras, têm suas músicas usadas na série.

Playlist oficial da série, disponibilizada pelo Spotify

O diretor do drama, Euros Lyn, também já dirigiu séries como Doctor Who, e fez um bom trabalho, trazendo referências dos quadrinhos. A representatividade também é vista fora das telas: a escolha do elenco foi pensada em torno do tema. Na última sexta-feira (20/8) a Netflix confirmou que Heartstopper ganhará mais duas temporadas, sendo a segunda programada para começar a ser gravada ainda este ano.

A série ficou alcançou o Top 10 da plataforma por um longo período , em diversos países, dentre eles o Brasil. Heartstopper conseguiu ser uma produção que alcança todas as expectativas. O motivo disso é fazer uma ótima adaptação, sendo uma história de romance que aquece o coração de qualquer um.

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