CRÍTICA: O fenômeno Lizzo

Estamos cansadas da sua opinião sobre nossos corpos

Tina Borba
Redação Beta
3 min readDec 3, 2019

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Imagem de divulgação da turnê do álbum Cuz I Love You. (Instagram @lizzobeeating)

“Acabei de fazer um teste de DNA, o resultado é que eu sou 100% fodona”, esse é o segundo verso da canção de maior sucesso de Melissa Viviane Jefferson, a Lizzo. Com oito indicações ao Grammy 2020, dentre elas quatro nas principais categorias (melhor álbum, melhor canção, melhor artista revelação e melhor gravação do ano), a rapper e flautista de 31 anos é militante e ativista.

Ela canta sobre gordofobia, machismo e o mundo LGBTQ+. Lizzo apresenta letras polêmicas e também fala em suas composições sobre aceitação e positividade, como em “Juice”, uma música sobre amor próprio: “Espelho, espelho meu/ Não diga, porque eu já sei que sou linda”.

Lizzo já está na estrada há oito anos, e somente em 2019, com seu terceiro álbum, Cuz I Love You, é que chegou às paradas de sucesso, desbancando nomes famosos da música pop como Justin Timberlake.

Este ano conquistou o recorde, antes pertencente a Cardi B, de cantora feminina de rap com música solo a figurar por mais tempo no topo da Billboard Hot 100, com a música Truth Hurts. A rapper ficou na lista por quatro semanas seguidas.

Lizzo é formada em performance musical, com especialização em flauta, na Universidade de Houston e não tem medo de usar lingeries em seus clipes e também nos shows, onde está sempre acompanhada por bailarinas plus sizes, chamadas de “Big Grrrls”. Em suas letras, ela celebra quem é e não admite nada menos do que qualquer uma de nós merece, independente do nosso peso: “Ouvi você dizer que eu não sou a vadia mais foda, você mentiu”. Ela vem conquistando fãs por onde passa com seu jeito autêntico. As cantoras Beyoncé e Rihanna já declararam ter vontade de gravar a artista.

Lizzo durante o American Music Awards, novembro/2019. (Instagram @lizzobeeating)

Nas redes sociais, o público parece se dividir entre amar e odiar mulheres como Lizzo, que assumem seus corpos fora do “padrão Victoria Secrets” — grife de lingeries que recentemente preferiu cancelar um de seus desfiles devido a polêmica envolvendo a falta de representatividade pela ausência de modelos plus size, ao invés de efetivamente colocar uma modelo com tais medidas no casting. A cantora mescla pop e rap com excentricidade e militância pelo amor-próprio e é provocativa o tempo todo. A última vez que ocupou as manchetes foi durante o red carpet do American Music Awards (AMA) 2019, no mês de novembro, quando surgiu com um vestido laranja cheio de babados e aquela que deve ser a menor bolsa já vista, ambas assinadas pelo designer italiano Valentino Garavani. Em seu Instagram, Lizzo justificou o uso do acessório com a seguinte legenda: “Bolsa grande o suficiente para caber o quanto me importo”.

Essa tem sido uma posição cada vez mais adotada pela geração Z, com mulheres que tendem a começar suas militâncias nas redes sociais e passam a ganhar espaço nos meios de comunicação tradicionais. Mulheres orgulhosas de seus corpos grandes, negros, imperfeitos. Elevando o tom da voz e se fazendo ouvir, com isso dando voz e coragem àquelas que ainda duvidam de si mesmas. Esse, sem dúvidas, é um serviço de utilidade pública cada vez mais necessário, ainda mais em tempos de ascensão da direita conservadora pelo mundo. Não se engane, nossos corpos gordos são políticos, nossa opinião sobre eles também é.

Em setembro deste ano, após um tweet de apoio ao impeachment de Donald Trump, a cantora manifestou novamente sua posição política durante um show. (Instagram @lizzobeeating)

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Tina Borba
Redação Beta

Brand&Content Creative na LEADedu | Apresentadora e Produtora de Vídeos na Zero Vídeo | Jornalista | Poetisa