CRÍTICA: O futuro caótico de WALL-E
Em 2008, a trama do simpático robô já nos alertava sobre os perigos ambientais
Em uma leitura superficial, esta animação, muito provavelmente, é uma história engraçadinha com desafio a ser cumprido até o final de seus 98 minutos. Embora isso seja verdade, a produção apresenta significações bem mais complexas, feitas a partir da jornada de um amigável robô. Em junho de 2008, a Pixar Animation Studios e a Walt Disney Pictures lançavam WALL-E, obra cinematográfica que coleciona um Oscar e um Globo de Ouro, ambos como o melhor filme de animação de 2009, além de outras premiações.
Com direção de Andrew Stanton e produção de Jim Morris, o tema da ficção é mais atual do que nunca. O longa-metragem é uma crítica ao modo de vida irresponsável da sociedade, pois expõe de questões ambientais à ganância. É impossível falar de WALL-E sem citar as intenções humanas maléficas de querer tudo até o ponto de sobrar nada.
O filme merece ser visto (ou revisto) por representar uma experiência interessante de análise dos nossos costumes. A partir disso, decidir: qual o futuro eu pretendo deixar para o planeta?
Na Terra, já devastada há 700 anos, não havia um céu azul sequer. As paisagens ganharam um tom uniforme de aparência desértica, o que sustenta a ideia de não existir vida nesse local. Ao menos, nenhuma além daquela de um robô que recolhe e compacta o lixo dos humanos e de sua barata, companheira de todas as horas.
Assim, WALL-E, o último robô que restou de sua linha, a Waste Allocation Load Lifter — Earth Class (Elevador de Carga para Alocação de Resíduos — Classe Terra), é apresentado. Entretanto, sua vida monótona e solitária não o torna pouco sensível. Ele manifesta suas características emotivas durante a animação de tal modo a encantar os públicos infantil e adulto. Além da humanização nos gestos e nas iniciativas, o protagonista se dedica a ajudar quem está ao seu lado. Isso sem contar seus olhinhos brilhando quando fica admirado, surpreso ou feliz.
Logo no início, descobrimos que ele é muito acumulador — o que não julgo, pois faço o mesmo. Seu costume de coletar tudo que pode ser útil no futuro é um ponto crucial para a história. Encontrou mais um garfo? O WALL-E guarda. Nunca viu uma planta? Sem problemas, o WALL-E guarda também! Sem esse hábito, o filme terminaria antes de completar meia hora.
E então, chega EVA (Extraterrestrial Vegetation Evaluator/Avaliadora de Vegetação Extraterrestre. EVE, em inglês), novo robô com a missão de localizar sinais de vida no planeta Terra. Enquanto WALL-E é quase uma sucata, ela é feita com a mais avançada tecnologia. Não é segredo que ele cria uma paixão por EVA, o que proporciona o desenrolar da trama.
A narrativa é fluida e, por mais que permita espaços reflexivos entre algumas cenas, não se torna cansativa. Pelo contrário. O tempo avança conforme o enredo se desenvolve, após início mais pacato. Mesmo assim, não vemos mudanças frenéticas entre cenas, como aquelas que adicionam o máximo de conteúdo e cores vibrantes em um intervalo limitado.
Do som ambiente e ruídos das máquinas até as músicas que possibilitam o ritmo do filme, tudo se harmoniza perfeitamente. A sonoplastia garante o vigor da produção e, em momentos de apreensão ou alegria, traduz sentimentos, de modo a nos envolver no que é apresentado. A animação se conduz, porém, com interações tão únicas entre os personagens principais que os diálogos convencionais não fazem falta. Os dois pequenos robôs se comunicam basicamente por seus nomes e olhares. Confesso que, se falasse que não sorri vez ou outra quando repetiam seus nomes, estaria mentindo.
Considero WALL-E cativante e dispenso apontamentos negativos. Se aos pequenos traz diversão, aos crescidos oferece uma temática a se pensar pelo seu impacto. Ainda mais que, segundo o novo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima, estamos com tendências críticas no que diz respeito à mudança climática global. De qualquer forma, a animação é uma oportunidade para repensarmos nossos hábitos e atitudes no que diz respeito ao planeta, que ainda é a nossa única casa.