Crítica: O terror dançante de Prequelle

Uma passagem por aspectos do novo álbum da banda Ghost

Alessandro Garcia
Redação Beta
4 min readJul 2, 2018

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Capa do álbum Prequelle. (Foto:Divulgação @thebandghost).

Os suecos do Ghost lançaram no dia 1 de junho seu novo álbum de estúdio. Prequelle é um conjunto de 10 canções que aparentam uma tentativa de redimensionar a relevância da banda no cenário do rock’in’roll mundial. Se for o caso, baseado na capacidade da engenhosa mente por de trás do grupo, Tobias Forge, há grande chance disso concretizar-se.

Já adianto que do ponto de vista artístico - o que mais me interessa –, a banda acerta em cheio. Neste álbum temos um Ghost flertando ainda mais com sonoridades oitentistas, abusando de refrões melódicos e grudentos, em geral, assimiláveis na primeira audição.

Também, temos a manutenção do clima de terror teatral, característica principal do grupo, potencializado, agora, na figura jovial do Cardinal Copia alter ego de Tobias Forge — que substituiu o antigo líder do grupo, o Papa Emeritus III.

Se você não conhece o Ghost é importante saber, até para apreciar melhor essa crítica, que o grupo ao longo dos anos construiu uma mitologia própria. Flertando com figuras obscuras, associadas à uma contra religião, o grupo tem brincado com cultos relacionados ao príncipe das trevas, sob o mando de personas caricatas de entidades religiosas tradicionais.

Na mitologia de Ghost, o mais recente líder representa o inicio de novos tempos — “a Idade Média” — como anunciou, ano passado, Papa Zero, segundos após interromper o último show da turnê do álbum Meliora, onde, sob suas ordens, seguranças retiraram violentamente Papa Emeritus III do palco.

Ainda, é importante saber do anonimato dos integrantes do grupo. Até pouco tempo, nem mesmo a identidade do líder do grupo, Tobias Forge, era conhecida. Hoje ele segue a frente dos vocais, porém a identidade do restante da banda é uma incógnita. Eles utilizam máscaras e são chamados de “Nameless Ghouls”.

Cardinal Copia rodeado pelos Nameless Ghouls. (Foto: Divulgação @thebandghost).

Voltando à Prequelle. O que este álbum tem de diferente é a intenção que carrega: a ambição da banda de alçar-se de vez ao mainstream. Essa, realmente é a principal impressão que me deixa, e parece ser mesmo o projeto do grupo, que tem agendado para o final deste ano, seu primeiro show de arena como atração principal, dia 16 de novembro no The Forum, em Los Angeles, Califórnia, EUA.

A faixa que abre o álbum é Ashes. Esta é uma canção curta, marcada por um corro de vozes infantis, que cantam uma espécie de ciranda aterrorizante, introduzindo com fidelidade o que seguirá.

A próxima canção é Rats, que também foi a faixa escolhida para o pré-lançamento, ocorrido em 12 de abril. Essa é uma música representa bem a proposta do álbum. É uma canção que escancara a vitalidade dançante desta nova fase do grupo, acrescida por seu novo líder.

Na sequencia vem Faith, dona de um dos mais poderosos riffs de guitarra do disco. Essa composição mantém a temática de dominação e manipulação religiosa, predominante no disco.

See the light é uma das canções mais lindas de Prequelle. Ela é trabalhada em arranjos ricos de teclado em combinação a exclamações de guitarras que ressaltam o refrão “me beba, me coma e então verás a luz”.

Miasma vem a ser a faixa 5 do álbum, e, assim como Helvetesfonster (faixa 9), é um lindo instrumental. Essas faixas são oportunamente utilizadas como transição entre as canções que às precedem e seguem. É nesses instrumentais que novamente brilham as construções melódicas da banda.

Dance Macabre é a faixa 6. Foi a segunda canção a ser disponibilizada pelo grupo. Dentro do álbum ela soa como um anuncio dos seus aspectos principais: dançante e macabro.

Na sequencia temos Pro memoria. Este é um som que materializa a mensagem de horror do grupo. “Não esqueça, você vai morrer”, é a mensagem que encerra o refrão.

Witch Image é a oitava faixa. Ela mantém a característica serena da construção musical e adiciona a mensagem “ o que você fez, nunca poderá desfazer”.

Encerrando o álbum, temos a belíssima Life eternal. Não haveria encerramento mais digno. Esta canção fecha a missa macabra regida por Cardinal Copia sob o questionamento “Você me deixaria tocar sua alma eternamente?”.

De maneira geral, a mensagem de Prequelle segue alimentando e tocando a mitologia sombria de Ghost adiante. É um álbum com instrumental impecável e original, munido de letras que fazem referencia a obscuridade humana. É uma audição prazerosa, sendo um bom indicativo sobre os caminhos futuros do grupo sueco.

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