CRÍTICA: O trio de ferro

Em novo modelo, banda Titãs revive grandes sucessos dos 37 anos de carreira com show intimista e acústico

diego mello
Redação Beta
4 min readMay 1, 2019

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Momento em que o grupo cantava “Homem Primata” durante apresentação acústica no Teatro Feevale. (Foto: Reprodução Facebook Oficial Titãs)

N a noite da sexta-feira, 26 de abril, acompanhei o show do trio acústico do Titãs, no Teatro Feevale, em Novo Hamburgo. O público presente era de antigos fãs, na sua maioria composta por pessoas com mais de 40 anos que estavam ansiosas para assistir a um grupo que marcou uma geração. Hoje, a banda, que já teve oito integrantes, conta apenas com três: Branco Mello, Sérgio Britto e Tony Bellotto.

Muitos aplausos, gritos em coro de “Titãs” e “mais uma”. A banda já tinha deixado o palco, mas o público estava todo em pé esperando o bis. E foi assim que se encerrou a noite. O trio retornou e nas duas últimas músicas ninguém se sentou nas cadeiras do teatro para ouvir Homem Primata e Comida, fechando o espetáculo com grande estilo e com pedidos de mais canções que ficaram de fora do repertório.

Durante o show não faltaram sucessos, conversas com o público — histórias sobre a trajetória de 37 anos da banda e sobre a composição das canções. O formato intimista trouxe essa grande aproximação com a plateia. Risadas, aplausos e apoio aos três integrantes foram muito presentes.

Logo que entraram no palco, abriram com Sonífera Ilha, quando também iniciaram as conversas e comentários sobre o formato do show. Para minha surpresa, estava reservado o momento solo, quando cada um dos integrantes cantou duas músicas. Após a terceira canção, Branco e Tony saíram e deixaram o palco somente para Sérgio.

Em seguida foi a vez de Branco. E, por último, a surpresa: Tony Bellotto, o guitarrista da banda, se arriscar no vocal, entendendo o novo momento do grupo. Ele explicou que nos primórdios da banda também cantava, pois sempre foi compositor, mas não tinha espaço como vocalista por causa do grande número de integrantes.

Branco tocando seu baixo, Sérgio ao piano e Tony no violão durante ensaios para a atual turnê do trio. (Foto: Reprodução Facebook Oficial Titãs)

Bellotto fez elogios a Nando Reis e comentou sobre Jimmy Cliff, antes de cantar Querem o Meu Sangue. Logo após cantou o grande clássico Polícia. A música de sua autoria quase ficou de fora do álbum Cabeça de Dinossauro, porque Paulo Miklos, que geralmente gravava as canções compostas pelo guitarrista, não curtiu. Foi Sérgio Britto quem deu uma chance para ela. Já a nova versão ficou um tanto quanto desanimadora — voz e violão não combinaram com a música, destoando do resto da apresentação.

Com o trio de volta ao palco, seguiram com suas histórias e músicas. Foi quando surgiu o primeiro grande momento, justamente na voz de Tony, cantando Pra Dizer Adeus, com uma resposta excelente de todos. Além dos grandes sucessos, também foram cantadas músicas mais recentes do álbum Doze Flores Amarelas e do projeto Ópera Rock. Este foi o momento mais “morno” da noite. Mostrou que, apesar da batalha, a banda não tem conseguido atingir um grande público nos últimos anos.

Depois disso foi a vez de Marvin, reanimando a plateia e colocando o astral para cima. E assim seguiu o show, até o encerramento com as duas canções após os pedidos de bis do público.

O chamado trio de ferro, como o próprio Branco se referiu durante a apresentação, não deixa de ser um recomeço para eles. Mas, ao mesmo tempo, um pouco frustrante em acompanhar músicas que ficaram conhecidas nas vozes de Arnaldo Antunes, Nando Reis e Paulo Miklos serem cantadas por outros artistas. Até aí tudo bem, não foi ontem que a banda deixou de ter integrantes. Arnaldo está fora há quase 20 anos, por exemplo, e nunca deixaram de cantar músicas dele durante esse período.

Também foi legal ver Tony Bellotto se arriscando como vocalista. Não só isso, mas ele saindo da sua zona de conforto, conversando com o público e pedindo ajuda, compreensão e que as pessoas entendam que ele tem que ser mais ativo neste momento. É um evento que vale a pena prestigiar, muito mais pela história da banda e a resistência dos seus atuais integrantes. E para escutar ainda as canções Go Back, É Preciso Saber Viver, Enquanto Houver Sol, 32 Dentes, Televisão, Família, entre outras.

Mas não se esqueça: não deixe sua expectativa muito alta, eles estão tentando se reinventar, nada será igual ao que já foi um dia. É um acústico com três integrantes, não tem orquestra, violões, bateria e vazias vozes cantadas sobrepostas como foi no MTV ao Vivo. É um resgate ao passado com pensamentos futuros, mostrando que estão com vontade de continuar trilhando novos rumos e mantendo o Titãs para as novas gerações.

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