CRÍTICA: Obra de Claudia Paim provoca reflexão sobre mortalidade

Fotografias presentes na exposição “Acervo em Movimento”, do MARGS, trazem a ideia de fragilidade e finitude

Leonardo Martins
Redação Beta
3 min readApr 14, 2023

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Costumo me sentir um peixe fora d’água quando entro em exposições de arte ou algo do gênero. Nunca fui uma pessoa erudita e que tem a capacidade de expressar bem o impacto de uma obra abstrata (ou não). E não foi diferente durante meus primeiros passos dentro da exposição “Acervo em Movimento”, do Museu de Arte do Rio Grande do Sul (MARGS) — que está com nova seleção de obras desde março, com o título “Aquisições 2019–2022”.

Entre a minha andança pelo meio das obras de arte, pouco entendia algumas coisas e já começava a pensar “o que diabos eu vou escrever?”. Na busca de algo palpável, observava a obra Corpopaisagem#Amálgamas (2013), de Claudia Paim. A fotografia da própria autora deitada na areia de alguma praia — que não consegui decifrar — estava exposta ao lado de outro retrato de Claudia, esse que veio como um estalo.

Corpopaisagem#Amálgamas — Claudia Paim (2013)

Na obra sem título datada de 2010, Cláudia aparece de cabelos raspados, em preto e branco, e olhando para o lado oposto da fotografia. Não faço ideia da situação de saúde dela naquele momento, tampouco encontrei nas pesquisas que fiz sobre a artista. Mas a sensação de fragilidade ficou na minha cabeça.

A mesma sensação que tenho quando encontro minha avó, Uiara, que luta arduamente contra as agruras de um câncer de pulmão. Claudia faleceu em 2018, não encontrei o motivo e na verdade pouco ele é relevante. Intencional ou não, a marca que a fotografia me deixou é a mesma de quando observo os cabelos raspados de Uiara.

Sem título — Cláudia Paim (2010)

O câncer é uma doença que pode trazer à tona muitas reflexões sobre a mortalidade. A morte é uma parte inevitável da vida, mas muitas vezes evitamos pensar nisso até que somos confrontados com a possibilidade do nosso próprio fim ou de um ente querido. O câncer nos força a encarar essa realidade de frente e a refletir sobre o que realmente importa em nossas vidas.

A doença nos lembra de valorizar nossas experiências, de estar presentes com as pessoas que amamos e de buscar alegria e significado em nossas vidas cotidianas. Ao mesmo tempo, pode nos inspirar a buscar propósito e significado em nossas vidas, encontrando maneiras de impactar positivamente as pessoas ao nosso redor, como a arte. Uiara faz isso, com seus bonequinhos de biscuit que sempre me presenteia. Cláudia me presenteou com o sentimento, seja ele proposital ou não.

A mortalidade não precisa ser vista como algo sombrio ou assustador. Enquanto enfrentamos a finitude, podemos buscar conforto e esperança em nossas crenças pessoais, encontrar apoio nas pessoas próximas e desenvolver um novo sentido de perspectiva em relação à vida. É uma jornada difícil e desafiadora, mas também pode ser uma oportunidade para crescer, aprender e encontrar paz e propósito.

Com uma imagem cheia de significado, Claudia me fez pensar em tudo isso. Ela não controla como a mensagem vai chegar até mim, talvez tenha sido sem querer. Ou será que não foi?

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