CRÍTICA: Tira o teu racismo do caminho que elas querem passar
Lançado no Dia Internacional das Mulheres, clipe da “50 Tons de Pretas” tem muita representatividade e empoderamento feminino
A vida nunca foi fácil para a população afrodescendente, sobretudo, para as mulheres. Em um estado predominantemente branco como o Rio Grande do Sul, duas negras têm se destacado na cena musical. Para reforçar toda essa representatividade, a dupla “50 Tons de Pretas” escolheu uma data historicamente de luta para todas as mulheres, o 8 de março, para estrear o videoclipe do single “Então vem — Tira o teu racismo do caminho”, na plataforma de streaming YouTube. A música, que fala principalmente sobre racismo e emancipação da mulher, ganhou uma produção audiovisual que fortalece a mulher negra independente e dona de si.
Financiado pelo programa de microcrédito cultural da prefeitura de Canoas, no Rio Grande do Sul, o clipe tem a produção assinada pelas próprias cantoras, Dejeane Arruée e Graziela Pires. Já a filmagem, edição e finalização foi realizada pela Reverber Produtora. O single reúne ainda Gustavo Nunes e Xandy Santos no violão e guitarra, Vladimir Godoy no baixo, João Costa na bateria e Tiago Fagundes na percussão.
Com uma letra que faz referência à situação de racismo vivida por uma mulher, o clipe traz imagens das Pretas — como a dupla também é conhecida, — representando mulheres em diferentes profissões.
Ele achou estranho o cartão no meu nome. Ele estranhou o meu limite bancário. Ele se assustou sem aliança no dedo… (trecho de “Então vem — Tira o teu racismo do caminho”).
Tem empresária, médica, frentista e gari para reforçar a importância da representatividade da mulher negra no mercado de trabalho. A produção visual potencializa a letra da música e ecoa como um grito contra o preconceito, especialmente, nas imagens que compõem o refrão. Isto porque As Pretas estão sentadas em um ambiente de pouca iluminação, com expressão séria, enquanto elas repetem o trecho principal: “tira o teu racismo do caminho que eu quero passar”. Para completar o clipe, o final não poderia ser diferente: através de recortes de telejornais, a dupla denuncia o genocídio da juventude negra no Brasil.
A canção, que foi lançada ainda em 2021, é embalada em muito groove e swing, o que suaviza os impactos da crítica social apresentada na letra. Ela tem uma batida envolvente que desperta a vontade de ouvir de novo, se tornando impossível não ficar com o refrão na cabeça.
O audiovisual segue a linha de trabalho das duas, que acreditam que através da música é possível potencializar debates sociais necessários. É o que evidencia as letras das músicas “Tranças”, “Auxílio Emergencial”, “A mais pura verdade” e “Voa” — esta última dá nome ao primeiro álbum da dupla, lançado em 2020. Aliás, a data escolhida pelas Pretas para a estreia do disco também foi representativa: 20 de novembro, Dia da Consciência Negra.
Contudo, a história das cantoras e compositoras com o 8 de março vai muito além da representatividade da data em si. Neste caso, ela relembra os cinco anos de existência das Pretas, pois foi neste dia, em 2017, que elas se apresentaram pela primeira vez, em Campo Bom, Rio Grande do Sul. As professoras de música da rede pública da cidade iniciaram o projeto ao lado de Monique Brito, que fez parte dele até 2018. Após, elas se tornaram uma dupla que, de lá para cá, vem conquistando espaço na música gaúcha.
Para quem ainda não conhece, a recomendação é conhecer. As Pretas são muito talentosas e o clipe recente de “Então Vem” reforça o motivo delas estarem se destacando. É necessário promover o debate sobre a discriminação de raça e a dupla consegue abordar essa temática de uma forma muito leve, por meio de uma música que “gruda” e da vontade de ouvir mais.
Confira o clipe abaixo:
