CRÍTICA: “Violeta” é o espelho da América Latina nos últimos 100 anos

Em formato de carta, livro de Isabel Allende conta a história de uma mulher forte e complexa

Laura Blos
Redação Beta
3 min readSep 13, 2022

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Violeta foi lançado no Brasil em fevereiro de 2022. (Foto: Editora Bertrand Brasil)

“Essa história de que todos os homens são iguais perante a lei e aos olhos de Deus é uma balela, Camilo. Espero que não acredites nisso. Nem a lei, nem Deus nos tratam a todos do mesmo modo. Isso é óbvio neste país.”

É com frases como esta que Isabel Allende traz em seu mais recente livro, Violeta, a história de uma vida em um país de mentira com histórias de verdade. É através do realismo mágico, assim como em outras de suas obras, que a escritora chilena aborda os mais diferentes períodos históricos vividos pela centenária Violeta Del Valle.

A trama é narrada em primeira pessoa, e divide a vida da protagonista em quatro períodos de forma fluída entre si, destacando momentos importantes da trajetória e da personalidade de Violeta.

Desde seu nascimento, durante a chegada da Gripe Espanhola na América do Sul, em um país marcado pelo preconceito de classe e racial, até sua morte, durante a pandemia de coronavírus, a personagem enfrenta tristezas, alegrias, pobreza, fortuna, amor, desencanto, dor e entusiasmo.

Quando criança, perdera o pai em suas falcatruas, que se encerraram na Grande Depressão. Violeta foi morar no interior do país, e viveu com simplicidade, diferentemente da forma distinta em que vivera até então. À distância viu os impactos da Segunda Grande Guerra. Perpassara a Revolução Cubana e a Guerra Fria que levaram o seu país a ser massacrado por uma ditadura militar, que lhe tirou a liberdade e pessoas amadas. Chorou as perdas e comemorou as vitórias.

E em meio a todos esses eventos esteve passiva ou ativamente envolvida com a luta pelos direitos das mulheres. Assim como tantas, foi vítima de violência doméstica sem nomeá-la como tal. Foi ao fundo do poço, levantou e ajudou outras a se levantarem.

“Minha vida é digna de ser contada, não tanto por minhas virtudes quanto por meus pecados.”

Mais que um romance histórico, o livro aborda assuntos místicos para a época a que se refere e que, de certa forma, ainda são tabus em nossa sociedade atual. Violeta fala sobre o amor entre pessoas do mesmo sexo, a luta das mulheres, dos crimes da ditadura, trata sobre o etarismo e o amor na velhice. Fala sobre violência, drogas, banditismo, religião, traição e cumplicidade.

De forma impecável, Allende resume 100 anos de uma vida hipotética em trezentas e tantas folhas de paixão e dor, fazendo jus aos seus mais de 60 prêmios conquistados desde a primeira e mais famosa obra, A Casa dos Espíritos. Com aspectos comuns entre si, os dois livros contam com o realismo mágico da autora, que traz luz à força da mulher, à distância da figura paterna e aos eventos vividos em anos de história.

Violeta

Autora: Isabel Allende

Editora: Bertrand Brasil

Páginas: 320

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