CRÍTICA: Tensão racial é tratada com humor, drama e trilha impecável em “Atlanta”

Série disponível na Netflix já tem mais duas temporadas anunciadas

Lorenzo Panassolo
Redação Beta
3 min readNov 29, 2019

--

Atlanta é um exemplo de série que soube equilibrar dois gêneros — drama e comédia — durante os 21 episódios das suas duas temporadas. Criada e estrelada por Donald Glover, mais conhecido no ambiente de Hollywood como Childish Gambino, o seriado foi lançado em 2016, depois de o diretor estabelecer um contrato de produção com o canal FX.

O enredo de Atlanta conta a história de Earnest “Earn” Marks como agente de seu primo, Alfred “Paper Boi” Miles, na indústria do rap americano. Em meio a tudo isso, Paper Boi possui um amigo fiel, Darius, personagem mais cômico da série. Nos episódios entre 23 e 35 minutos, o público encontra uma narrativa envolvente e dona de premiações importantes, como Emmy (Melhor Série de Comédia em 2018) e Globo de Ouro (Melhor Série de Comédia ou Musical e Melhor Ator em Série de TV — Comédia ou Musical em 2017).

Na trama, Earn é um homem fracassado, que não tem dinheiro, renda ou casa fixa e precisa criar sua filha. Ele vive de favores da família e da ex-namorada, Vanessa “Van” Keefer, que possui uma melhor estabilidade financeira. Earn quer crescer na vida junto com seu primo Paper Boi e, na busca desse sonho, são mostradas as dificuldades que os negros encontram no dia a dia, além do que eles passam para alcançar o sucesso musical.

Primeira temporada conta com 10 episódios.

Ao longo da série, temas sociais como pobreza, racismo, violência nos Estados Unidos, oportunidades no mercado de trabalho e desigualdade são retratados. Muitas vezes esses assuntos são expostos como piadas durante as cenas, em certos momentos até com sarcasmo. O roteiro de Atlanta consegue conversar diretamente com o espectador e deixa lacunas para que as pessoas façam interpretações das cenas e criem suas próprias discussões a partir disso.

Nada em Atlanta é forçado. A espontaneidade das atuações para expor as características dos personagens faz com que suas ações sejam naturais. Eles cometem erros, aprendem com eles, passam por dilemas e retratam suas realidades individuais e coletivas. A série não possui introdução nem abertura. Os episódios começam e, em 1 minuto — mais ou menos —, percebemos que o nome “Atlanta” aparece em algum contexto da cena. Isso mostra que a série não precisa seguir padrões para entregar um conteúdo de extrema importância e qualidade.

A trilha sonora é outro ponto de grande destaque em Atlanta. E não poderia ser diferente. Repleta de rap, funk e afins, as músicas contribuem para dar uma atmosfera perfeita às cenas. 21 Savage, Dua Lipa, OutKast e Young Thug são alguns dos artistas que possuem músicas na playlist da série. Além deles, o próprio Donald Glover — ou melhor, Childish Gambino no cenário musical — , contribui para a trilha sonora da produção.

Outro grande trunfo de Atlanta é a fotografia. Em alguns momentos, o tom cinzento e escurecido é usado para mostrar a tensão que os personagens passam em situações do cotidiano. Por outro lado, em outras cenas, cores vivas são utilizadas para dar equilíbrio aos episódios.

A terceira e quarta temporada já foram anunciadas pela FX. A ideia da emissora é que cada ano tenha oito episódios, totalizando no mínimo mais 16 para a série. Se você ainda não assistiu a Atlanta, acompanhe as duas primeiras temporadas no Netflix.

--

--