Cresce o número de jogadores de poker no Brasil

Altas premiações, jogos online e proximidade com profissionais têm atraído novos adeptos da modalidade

Bruno Flores
Redação Beta
5 min readNov 11, 2019

--

O poker é um jogo de cartas famoso nos cassinos do mundo. A modalidade mais praticada é o Texas Hold’em, em que o jogador fica com duas cartas na mão e tem de combinar seu jogo com as cinco da mesa. De acordo com a Confederação Brasileira de Texas Hold’em (CBTH), há 7 milhões de jogadores de poker no Brasil e, a cada ano, meio milhão de pessoas passam a praticar o jogo.

Esse crescimento é motivado, entre outras razões, pelo fato da International Mind Sports Association (IMSA) ter reconhecido o poker como um esporte que desenvolve o intelecto do jogador. Em 2010, a associação incluiu o poker no grupo dos “esportes da mente”, ao lado de xadrez, dama e bridge

Os altos valores pagos nos torneios chamam a atenção. O circuito Brazilian Series Of Poker (BSOP) é a principal série de torneios realizada no país. O próximo evento, chamado BSOP Millions, acontece entre 26 de novembro e 5 de dezembro, no Hotel Sheraton, em São Paulo, e vai pagar um total de R$ 15 milhões em prêmios.

Outro vetor que contribuiu para a popularização do poker foi a expansão do esporte no ambiente virtual. Sites como PokerStars, 888Poker e PartyPoker permitem a jogadores disputar partidas através do celular. Nos últimos anos, o aumento das transmissões de torneios de poker brasileiros e internacionais, por canais de TV como ESPN e Bandsports, também impulsionou a modalidade.

Além das transmissões televisivas, muitos jogadores consagrados, como o campeão mundial André Akkari, têm canais no YouTube e oferecem dicas de jogo. O canal de André tem mais de 50 mil inscritos e, alguns de seus vídeos, totalizam quase 1 milhão de visualizações.

Além disso, famosos praticantes da modalidade, como os jogadores Ronaldo e Neymar, o ex-piloto da F1, Felipe Massa, e a ex-atleta, Maurren Maggi, ajudam a popularizar o poker no Brasil.

Uma hospedagem paga nas cartas

Os vídeos publicados no YouTube servem como forma de estudo para jogadores, especialmente iniciantes. Fernando Potrick, de 33 anos, é dono de uma empresa de marketing e conheceu o esporte em 2009. Desde 2013 tem praticado com maior frequência e, segundo ele, as dicas dos profissionais ajudam muito na hora dos torneios.

Potrick se considera um jogador recreativo, contudo, não arrisca o orçamento familiar nas fichas. “Eu separo uma parte da minha renda que posso perder. Quando perco, não me desespero. Quando ganho, não me emociono”, explica. De acordo com o jogador, ele já perdeu muito mais do que ganhou. Porém, em dezembro de 2017, as cartas lhe renderam uma hospedagem.

“Eu estava em Buenos Aires com um amigo. Tínhamos acompanhado o Mundial do Grêmio em Dubai e nossa escala de volta era na Argentina. O problema é que houve uma greve e nós tivemos que ficar uns dias a mais por conta do atraso dos voos. Tínhamos uma noite e um dia para passar em Buenos Aires. Já tínhamos gastado muito com toda a viagem, mas juntamos o resto da nossa grana e fomos para as mesas de poker. Em três horas, meu amigo saiu com R$ 1 mil de lucro e eu com R$ 700,00. Conseguimos pagar tudo e ainda lucrar, mas foi bem tenso”, conta.

Vivendo do poker

O amigo de Fernando Potrick que vivenciou a aventura em Buenos Aires é Leonardo Riva. Aos 33 anos, ele é jogador de poker profissional. No início de 2018, resolveu deixar uma academia da qual era sócio-proprietário para se dedicar exclusivamente às cartas. Formado em Educação Física, ele relata que hoje ganha significativamente mais do que quando atuava na sua área de formação.

Riva é um dos integrantes do MZ Team, uma equipe composta por cerca de 20 jogadores brasileiros e argentinos. A rotina dele não segue uma regra, mas exige dedicação. “Geralmente estudo e jogo dez horas por dia de segunda à quinta e folgo nas sextas-feiras. No sábado, tiro um pequeno tempo de folga. No domingo, mal vejo minha família. Domingo é o dia que muitos prêmios chegam a dobrar de valor, então começo às 11h e vou até as 2h jogando direto”, relata.

Leonardo Riva estuda e pratica poker online cerca de 10 horas por dia (Foto: Divulgação/Acervo Pessoal)

Além dos jogos, a rotina de Riva inclui estudos técnicos sobre as partidas e videoaulas com os coachs do time, que são profissionais com mais tempo de jogo que transmitem seus conhecimentos por aulas via Skype.

De acordo com Riva, os lucros e as perdas são divididos entre todo o time. Ele conta que hoje paga todas as contas e consegue manter com mais tranquilidade a esposa e o filho recém-nascido. Segundo o jogador, há preconceito pela profissão ainda ser associada a jogos de azar. No âmbito familiar, o fato de ele ter ganhos significativos, especialmente no primeiro mês, ajudou na aceitação. Nos trinta dias iniciais como profissional, Riva faturou R$ 30 mil nas mesas de poker.

Leonardo Riva disputa uma etapa do Campeonato Gaúcho de Poker (Foto: Divulgação/CGP)

Hoje, Leonardo pratica diariamente em torneios online e ajusta a agenda para, em algumas oportunidades, selecionar competições ao vivo para jogar. O poker já proporcionou a ele viagens nacionais, além de idas a Madri, na Espanha, e a Cancún, no México, exclusivamente para torneios da modalidade, com todas as despesas pagas para ele e a esposa.

River¹ Grande do Sul: polo da modalidade

O Rio Grande do Sul, mais precisamente Porto Alegre, é um dos centros nacionais de poker. No bairro Moinhos de Vento está localizado o Ypiranga Texas Club, uma casa especializada na modalidade. O local, fundado em 2008, tem escala de torneios semanais e tem mesas cheias todos os dias.

“O Ypiranga tem 6 mil associados. Se não estou enganado, é o segundo maior clube do Brasil. Só perde para o H2, de São Paulo. Mas considerando o tamanho e o PIB das cidades, é impossível concorrer com São Paulo”, conta o sócio-proprietário do clube, Fernando Sartori Seabra.

O clube, hoje, é gerido por Fernando e mais dois sócios. A história da sociedade é curiosa. Um dos sócios criou o clube enquanto Fernando e o terceiro parceiro eram donos dos seus próprios clubes. Todos concorrentes, porém amigos. Vários eventos eram organizados em conjunto entre eles, até que, em 2014, os empresários se fundiram sob o nome do Ypiranga.

“Apesar de concorrentes, sempre fomos amigos. Fazíamos torneios juntos. Até que, há 5 anos, resolvemos nos juntar. E a ideia é que vá longe”, expõe Fernando.

¹River é o nome da quinta carta posicionada na mesa de Poker, nas modalidades Texas Hold’em e Omaha

--

--