Crescimento do mercado de produtos biológicos movimenta a agricultura

Estado tem cerca de 40 startups voltadas para o campo, como as que produzem insumos para substituir o uso de agrotóxicos

Renata Garcia
Redação Beta
4 min readSep 5, 2019

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Cada vez mais a tecnologia invade a vida no campo para otimizar as lavouras e qualificar as colheitas. Além de prover novas maneiras de manejo no meio agrícola, as estratégias de inovação voltam olhares para o combate de velhos inimigos das plantações — as pragas. Segundo a Associação Brasileira de Startups, no Brasil são mais de 300 empreendimentos voltados para a gestão Agro.

A BioIn é uma destas startups. A empresa, incubada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), une biotecnologia a sistemas de informação e desde 2016 realiza estudos sobre o controle de pragas por meio de monitoramento. Conforme dados da Associação Brasileira de Defensivos Agrícolas (ABCBio), em 2018 o mercado brasileiro de produtos biológicos de controle movimentou R$ 464,5 milhões, um crescimento de 77% em relação ao ano anterior.

Segundo a diretora de Economia Digital e Startups do Sebrae RS, Débora Chagas, o estado tem uma forte tendência ao crescimento no meio agro. “Certamente, hoje é nosso maior mercado. Ele ainda é pouco digitalizado, mas é um dos mercados que mais oferecem áreas de crescimento. Temos muitas oportunidades para que startups explorem esse meio”, aponta.

O sócio da BioIn e engenheiro mecânico Thiago Kern, explica quais são as vantagens dos biodefensivos no meio agrícola. “O controle biológico nada mais é do que o uso de organismos ou de substâncias de espécie natural no controle de pragas. Uma grande vantagem desse produto é a alta eficácia, além de evitar que agrotóxicos sejam utilizados de forma irresponsável e sem efetividade”, avalia. O monitoramento dos insumos é feito pelo próprio agricultor de forma remota, por meio de um aplicativo disponibilizado pela empresa.

Sistema gera boletins que podem ser utilizados em certificações agrícolas (Foto: Reprodução/Facebook BioIn)

Tecnologia aumenta a qualidade da produção

Atuante há 63 anos no mercado, a Isla Sementes comercializa anualmente cerca de 23 milhões de envelopes de sementes. Com sede em Porto Alegre e unidades espalhadas por todo o Brasil, a empresa teve um 2018 de prejuízo. Em janeiro daquele ano, a colheita de tomate foi comprometida após a fruta ser tomada por uma traça. A perda fez a empresa repensar as práticas agrícolas, sobretudo o controle de pragas.

Em 2018, a traça do tomateiro afetou boa parte da produção da empresa da Isla Sementes (Foto: Acervo Pessoal/Claudio Nunes)

A Isla, então, recorreu aos biodefensivos. O gerente de produtos, Cláudio Nunes Martins, destaca que a eficiência no manejo foi um dos principais diferenciais para a melhora dos números. “Contar com uma plataforma tecnológica e de fácil acesso auxilia muito em nosso dia a dia. O principal diferencial é que conseguimos mensurar e constatar quando o insumo biológico entrará em ação”, garante.

Produzir com segurança e garantir mais sabor ao alimento também são fatores cruciais para a empresa. “Foi quantitativo e qualitativo. Depois que adotamos a ferramenta, tivemos uma melhora de 85% a 90% na última safra. Além de garantir um produto com mais sabor, aliado às boas práticas agrícolas”, finaliza.

Tecnologia no campo

Na prática, os insumos biológicos são técnicas encontradas na natureza para combater as pragas. Eles podem ser microbiológicos, como é o caso da BioIn, que utiliza insetos para combater as pragas. Dentro desse nicho, ainda existe o controle microbiológico, desenvolvido por meio de fungos e bactérias.

Em agosto, a BioIn aprimorou e lançou a plataforma Monitora, na qual o produtor consegue controlar toda a colheita, por meio do envio de arquivos diários ao apoio técnico da startups. “Os dados para a análise são coletados diretamente na propriedade e enviados para uma plataforma de análise, que prevê a entrada de pragas nos cultivos e aumenta o controle”, explica Thiago.

Os dados coletados nas plantações são analisados pela base técnica do Sistema da BioIn (Foto: Reprodução/Facebook)

O monitoramento é feito por meio de um QR Code, enviado para a equipe da BioIn. O sistema gera um relatório, no qual o agricultor tem os dados necessários para a aplicação dos insumos.

A startup também desenvolveu um sistema de drones para a liberação dos insumos biológicos nas lavouras, com cápsulas acopladas que lançam as vespas no campo. A produção do Trichogramma pretiosum, a vespa utilizada no processo, é feita em um laboratório da UFRGS.

Expointer abre espaço para inovação no campo

Ao longo dos nove dias da 42ª Expointer, um dos espaços buscados por quem procurava soluções tecnológicas para o seu negócio foi a Arena Inovação, do Sebrae RS. O espaço promoveu uma espécie de batalha de startups, a Sebrae Like a Farmer, que incluiu 18 empreendimentos voltados para o agronegócio.

A Arena também abrigou debates. Um dos principais pontos levantados nas discussões foi a falta de acessibilidade para novos negócios no interior do estado, como explica Débora. “Mesmo com todos os avanços tecnológicos, a falta de uma boa conexão de internet no campo afeta essa expansão". comenta. É uma das questões a ser desenvolvidas para que a inovação ocorra.

Durante os nove dias de Expointer, debates sobre inovação agrícola foram pautas na Arena da Inovação (Foto: Marcus Berthold/Sebrae RS)

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Renata Garcia
Redação Beta

24 anos e estudante de Jornalismo. Por aqui, relatos do cotidiano. Além disso, falo sobre inovação e tecnologia na @gramadosummit!