Crossfit diminui o isolamento social com treinos online

Modalidade que já virou um estilo de vida mantém a comunidade próxima, mesmo distante geograficamente

Laura Hahner Nienow
Redação Beta
5 min readApr 6, 2020

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Crossfit reúne musculação, alongamento e capacidade respiratória. (Foto: Inspired Horizons/Divulgação)

Antes do isolamento preventivo à pandemia do Covid-19, os boxes de crossfit estavam sempre cheios de praticantes. Nos últimos anos, a modalidade viralizou e conquistou pessoas de todas as idades, gêneros e portes físicos. Todo mundo conhece alguém que pratica e que, ainda, é identificado por isso. “É aquele que faz crossfit”, dizem.

Crossfit é uma modalidade que reúne benefícios de outros esportes como a força muscular, da musculação; a flexibilidade, das aulas de alongamento; e a capacidade respiratória, da natação.

Neste período de isolamento social, boxes de crossfit se adaptam à nova condição e oferecem aulas e treinos online. O proprietário do Crossfit Esteio, Lucas Laux, 31 anos, doutorando em Clínica Médica, conta que desde o dia 16 de março o box adquiriu novos hábitos. “Mudamos a forma como fazíamos a higienização do box. Compramos álcool gel e álcool 70% e todos que chegavam da rua tinham que passar por higienização antes de entrar”, conta. No dia 19, contudo, um decreto municipal determinou a suspensão de serviços não essenciais. Foi quando Lucas cancelou as atividades presenciais.

Na mesma semana, o Crossfit Esteio começou a disponibilizar treinos online. Para Lucas, é necessário que durante a quarentena as pessoas continuem se movimentando. “O exercício físico, claro que até certo ponto, ajuda na imunidade, no combate ao estresse e à depressão”, ressalta. Os coaches, ou treinadores, montaram treinos não tão intensos para que os alunos continuem se movimentando em casa. “Assim continuamos prestando o serviço que prometemos, mesmo que a distância”, completa.

O Crossfit Esteio funciona online por meio de um aplicativo destinado exclusivamente aos alunos. Na plataforma, os professores disponibilizam o treino do dia seguinte, explicam todos os movimentos e, ainda, permitem ao aluno tirar dúvidas sobre os exercícios um dia antes, seja pelo aplicativo ou mesmo por WhatsApp. Para estimular a prática de exercícios, o box desafiou os alunos a postarem uma foto ou vídeo dos treinos nas redes sociais. No final da quarentena, quem tiver mais treinos registrados nas redes sociais ganhará prêmios, como descontos na mensalidade.

Bárbara já havia praticado pilates, treinamento funcional e musculação antes do crossfit. (Crédito: Bárbara Santos/Arquivo pessoal)

Praticante da modalidade há oito meses, Luísa Jacobus, 23 anos, continua fazendo os treinos online durante o período de isolamento e, claro, posta o WOD (“Work Out of the Day” ou “treino do dia”) nas redes sociais. Musicista e estudante de Psicologia, Luísa conta que já havia experimentado diversas atividades físicas, como natação, musculação e dança, mas que optou pelo crossfit por dois motivos: condicionamento físico e rápidos resultados.

Assim como Luísa, Bárbara Santos, 27 anos, também pratica os treinos online disponibilizados pelo box de crossfit que frequenta em Porto Alegre há sete meses. De acordo com a publicitária, as aulas são guiadas por videoconferência, sem deixar perder nada em comparação ao presencial. “O coach dá as orientações e vai acompanhando por vídeo o desempenho e a execução dos movimentos feitos pelos alunos. Já em relação aos pesos, nessa época de isolamento estamos nos virando e usando muito da criatividade: mochila cheia de livros, saco de ração e galão de água. Vale tudo”, conta.

Bárbara utiliza a prática para extravasar energias. (Crédito: Bárbara Santos/Arquivo pessoal)

Lucas comenta que, durante essas duas semanas, o box ainda não recebeu nenhum pedido de cancelamento dos cerca de 400 alunos. Ele acredita que o fato se dá pela transparência com que a gestão do box está lidando com cada aluno. “Se todos trancarem a matrícula, o box vai falir porque não terá como pagar as suas contas”, indica Lucas em suas conversas com os alunos.

No box que Bárbara frequenta na capital, assim como no Crossfit Esteio, os professores também estão disponíveis em todos os canais online. “Acredito que tenham entendido que nesse momento é importante oferecer um atendimento de muita qualidade e de muita conexão com os alunos para fortalecer a comunidade e voltarem ainda mais forte após o isolamento”, aposta.

O esporte que construiu uma comunidade

Quem convive com alguém que pratica crossfit percebe que, na maioria dos casos, a pessoa não apenas pratica um exercício físico, mas que ela passa a fazer parte de uma atividade muito singular. O envolvimento com a modalidade ultrapassa os treinos e inclui uma rotina de convivência. Por que isso acontece?

Para Lucas, o principal motivo do crossfit ultrapassar a atividade física se dá pelo fato dos treinos serem feitos em grupo. O Crossfit Esteio tem cerca de 1.500 m², espaço que comporta uma turma de até 60 alunos. “Mesmo que os alunos não tenham um horário fixo de aula, pela rotina de cada um, acabam indo sempre no mesmo horário e treinando sempre com quase a mesma turma. Isso faz com que criem um vínculo”, conclui. O box de Esteio também investe na área de convívio, disponibilizando videogame, fliperama e espaço de alimentação, o que faz com que os alunos passem mais tempo lá dentro. “Também fazemos eventos, festas e campeonatos. Isso acaba gerando esse senso de comunidade”, acrescenta.

Crossfit ultrapassa as aulas e envolve uma rotina de convivência entre os alunos. (Crédito: Lucas Laux/Arquivo pessoal)

Para Luísa, os praticantes da modalidade não a veem apenas como uma atividade física. “As pessoas criam amizades, se reúnem depois do treino e se encontram nos finais de semana. Percebo também que é uma atividade que vira lazer. São feitos campeonatos no final de semana e as pessoas levam as famílias para assistir e para estar junto. Por isso, acho que o crossfit já virou um estilo de vida”, opina.

A estudante de Psicologia também acredita que há outra motivação para a prática do crossfit: a possibilidade de construir uma identidade. “Se tornar crossfiteiro possibilita uma identidade que se diz saudável, uma identidade que tem amigos, que gosta de campeonato e de competição”, analisa Luísa.

Bárbara já tinha se aventurado em outras atividades, como pilates, treinamento funcional e a famosa musculação, mas foi no crossfit que a publicitária encontrou o que procurava. “Ganhou meu coração recentemente por duas coisas: além de ser uma atividade completa, trabalha flexibilidade, força, técnica e resistência física”, destaca. Para ela, a rotina fica muito melhor com as aula de crossfit. “É o momento de relaxar e extravasar energias, além, claro, de rever os colegas de treino”, completa.

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