Dólar mais alto reflete no turismo interno

Valorização da moeda torna as viagens internacionais mais caras e fortalece procura por destinos brasileiros

Laura Pavessi
Redação Beta
4 min readDec 5, 2019

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Secretaria de Turismo de Canela espera mais turistas com a alta do dólar (Foto: Laura Pavessi/Beta Redação)

S e a subida constante do dólar tem preocupado especialistas que estimam efeitos negativos para a economia brasileira, como na inflação e nos custos para empresas, o turismo é o setor mais afetado imediatamente. Em novembro, a moeda chegou ao seu maior valor nominal histórico, R$ 4,27. Com isso, as viagens internacionais, especialmente para os Estados Unidos, se tornaram mais caras até para quem já está com tudo planejado.

“Não deixamos de viajar porque esse é um momento de reencontro da família, mas estamos indo com um orçamento bem apertado”, conta André Silveira, 42 anos, que se prepara para viajar para Boston com a mulher e o filho. Ele revela que a família planeja essa viagem em quase todos os finais de ano para visitar o irmão que vive na cidade norte-americana e passar o Natal juntos. “Nos últimos anos temos priorizado que eles venham, por conta do valor que só cresce. Este ano nos ajudaram com a compra das passagens, mas levaremos menos dólares para os passeios, refeições e compras”, completa.

Região de Gramado e Canela é um dos destinos mais procurados do país. (Foto: Laura Pavessi/Beta Redação)

Turismo interno

Só em 2019, a valorização da moeda chegou a 9,43% até o fim de novembro. Nesse cenário, os destinos brasileiros levam vantagem. “Como as pessoas deixam de viajar para o exterior, acabam subindo à Serra Gaúcha, consomem mais, permanecem mais tempo aqui. Sentimos muito essa diferença”, afirma o secretário de Turismo e Cultura de Canela, Ângelo Sanches Thurler. A cidade, colada em Gramado, é um dos destinos mais famosos do país, e a expectativa é de receber ainda mais turistas conforme o dólar sobe.

Já para turistas estrangeiros, em muitos casos, visitar o Brasil se tornou mais acessível, o que pode aumentar a proporção de visitantes internacionais da cidade, que gira em torno de 15%. O crescimento, no entanto, não deve gerar inflação dos preços no destino, garante o secretário. “Já há um preço padrão durante o ano, com variações estabelecidas para determinadas épocas. E a maioria dos pacotes são vendidos antecipadamente”, conclui.

Viagens internacionais

Para a CVC, maior operadora de viagens do país, com mais de 1.400 lojas franqueadas, esse é o mesmo motivo para que a oscilação mais intensa da moeda ainda não tenha provocado grandes reflexos. Fernanda Pajares, assessora de imprensa da empresa, ressalta que os consumidores que seguem rumo ao exterior costumam se planejar com antecedência entre 4 e 6 meses da data do embarque, comprando ao longo desse período a hospedagem, locação de carro, ingressos, entre outros serviços que compõem a viagem. O maior impacto da alta do dólar é sentido nos gastos extras. “Mas geralmente esses consumidores aproveitam para fazer a compra da moeda de maneira espaçada, em diversas épocas antes da viagem, para ter um valor médio da moeda antes do embarque”, explica.

Com o começo do verão no hemisfério sul, 70% dos clientes da operadora viajam dentro do Brasil. Dos 30% que viajam internacionalmente, muitos optam por promoções, especialmente das passagens aéreas. O consumidor demonstra fazer concessões e ajustes nas datas e duração das viagens, mas mantém os planos de embarcar para o exterior. Iniciativas como câmbio reduzido, cotado pela empresa a R$ 3,89 para a conversão de pacotes em reais, incentivam as compras. As promoções de Black Friday ofertadas por companhias aéreas, redes hoteleiras e empresas de locação de carro também facilitam as condições para que o consumidor não deixe de viajar para fora com a alta do dólar.

Por último, Fernanda compartilha algumas dicas para quem quer viajar para o exterior em tempos de valor recorde da moeda americana:

  • Optar pelo “destino que cabe no bolso” no lugar do “destino dos sonhos” — que às vezes não ficam tão distantes;
  • Garimpar promoções como os “saldões” de viagens;
  • Para os gastos de viagem, usar o cartão pré-pago ou moeda em espécie para limitar os gastos com antecedência;
  • Escolher hospedagens que já considerem pensão completa, o que evita gastos extras na região com refeições;
  • Também optar por pacotes que ofereçam passeios inclusos, seguro viagem, assistência de guia, já que esses serviços opcionais podem ser comprados no Brasil, com conversão de câmbio para reais mais em conta no ato da compra;
  • Estudar se é possível usar outros meios de transporte para chegar até o destino. As viagens rodoviárias entre países levam mais tempo mas podem ser bem divertidas;
  • Ficar de olho nas economias de outros países e os reflexos disso para o turismo. A Argentina, por exemplo, está mais atrativa para brasileiros, por conta da desvalorização do peso argentino, o que torna passeios, alimentação, shows e hospedagens mais em conta.

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