Defesa até o fim

Ato a favor de Lula, na Esquina Democrática, é marcado por críticas à Justiça e pelo pedido de que o ex-presidente não se entregue à PF

Anderson Guerreiro
Redação Beta
4 min readApr 7, 2018

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Foto: Anderson Guerreiro/Beta Redação

Quando a manifestação em favor do ex-presidente Lula iniciou na Esquina Democrática, no Centro de Porto Alegre, pouco depois das 17h30, não se sabia se, ao final do ato, ele estaria preso ou não. Segundo os organizadores, cerca de 5 mil pessoas se reuniram no tradicional ponto de manifestação da esquerda na capital gaúcha, mas as atenções se voltavam para São Bernardo do Campo (SP), onde, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Lula havia entrado 12 horas antes e de lá se negava a se entregar à polícia.

Grupos de WhatsApp e atualizações no Twitter demonstravam a grande preocupação dos manifestantes quanto ao desenrolar da resistência do ex-presidente. Os semblantes eram de uma tristeza mesclada com raiva. Os cânticos puxados pela sindicalista Silvana Conti chegavam a formar um grande coro e, em outros momentos, se dispersavam. Lideranças do PT, PCdoB e PSol se revezavam nos discursos junto a sindicalistas da CUT-RS, a Central Única dos Trabalhadores, e a CTB, a Central dos Trabalhadores do Brasil, além de movimentos como a Frente Povo Sem Medo, ligada ao PSol, a União da Juventude Socialista, do PCdoB, e o Levante Popular da Juventude, vinculado ao PT.

As críticas ao juiz Sérgio Moro, ao procurador Deltan Dallagnol, ao Supremo Tribunal Federal e à Rede Globo deram o tom do ato. Igualmente, os discursos atacaram as elites econômicas brasileiras, o neoliberalismo e os partidos de direita. Do palanque, o presidente estadual do PT, deputado federal Pepe Vargas, bradou que a prisão de Lula é “tão imoral quanto a decisão da Carmen Lúcia de não ter colocado em votação as Ações Declaratórias de Inconstitucionalidade para obrigar a votação do habeas corpus e criar um movimento articulado, principalmente, pela eterna golpista Rede Globo de Televisão, que sempre esteve atrás, na frente e do lado de tudo que é golpe que aconteceu na história do nosso país”.

(Foto: Anderson Guerreiro/Beta Redação)

Uma faixa dizia que era preciso “fortalecer a unidade e ampliar a resistência”. O fato de o PSol, nascido a partir da ruptura de políticos com o PT, em 2004, ter se alinhado com PT, PCdoB e outros partidos de centro-esquerda na defesa do ex-presidente Lula demonstra uma mínima afinação que, na visão da funcionária pública aposentada Rosa Maria Gusmão, deveria significar uma união para as eleições deste ano. “Eu tenho esperança que a gente ainda consiga, senão o próprio Lula, que agora a esquerda se una e tenha mais força para ganhar”, defendeu.

A maior reação do público sempre ocorria quando alguém, ao microfone, defendia que Lula não se entregasse à Polícia Federal. “O presidente não se entregou pra eles. A prisão do Lula não é a prisão de um sujeito, mas a prisão de um projeto”, discursou o metalúrgico Claudir Néspolo, presidente da CUT-RS. Pela CTB, Guiomar Vidor defendeu que “não podemos aceitar passivamente que um homem honrado, como Lula, seja preso”.

A jornalista Maricélia Pinheiro, presente no ato, era taxativa quanto às irregularidades na condenação e prisão de Lula, mas tinha dúvidas quanto ao futuro do país a partir das eleições. “Estou aqui defendendo a democracia. Acho a prisão do Lula injusta. Foi feito tudo fora do que diz a Constituição, uma prisão inconstitucional. Eu acredito na inocência do Lula e acredito que ele pode trazer dias melhores para o Brasil. Sinceramente, não sei (se vai concorrer). Mas a gente tem que resistir. A gente não pode aceitar calada”, afirmou.

Camisetas com fotos recentes e antigas de Lula, frases falando em luta e resistência e acusando que a eleição sem ele é uma fraude tomavam conta da Esquina Democrática. Também era possível comprar faixas com a inscrição “Lula vale a luta” e bótons com o rosto do ex-presidente.

(Foto: Anderson Guerreiro/Beta Redação)

Pouco depois das 19h, os manifestantes saíram em marcha pela Avenida Borges de Medeiros até o Largo Zumbi dos Palmares, na Cidade Baixa. No caminho, carros se dividiam entre buzinaços de apoio e de reclamação. Nas calçadas da Borges, o assunto era somente Lula. Pouco após o ato se encerrar, a Polícia Federal confirmou que a prisão não seria mais realizada na noite de sexta-feira (6) e, segundo lideranças ligadas ao ex-presidente, ele deveria se entregar neste sábado, após uma missa em memória à esposa, Maria Letícia, morta no ano passado, que faria aniversário no dia 7 de abril.

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