Depois de sofrer forte impacto econômico devido à pandemia, setor têxtil projeta recuperação

Ketlindesiqueira
Redação Beta
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7 min readJun 24, 2021

Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção projeta aumento de 25% nas vendas de vestuário até final deste ano

Segundo a Abit, o setor têxtil possui 1,5 milhões de trabalhadores. (Divulgação/Abit)

A moda é uma indústria que muda constantemente, com novas tendências, estilos e coleções oferecidos a cada estação. O setor têxtil foi um dos que mais cresceu e se desenvolveu ao longo da história da industrialização. Da produção artesanal, feita por costureiras e alfaiates, até as modernas linhas de produção da indústria atual, o segmento avançou de forma significativa em termos de tecidos, maquinário e sistemas produtivos. Porém, com a pandemia, a indústria da moda sofreu diversos impactos, até mesmo com o consumidor final mudando a sua forma de consumir.

Este é o caso da estudante do sétimo semestre do curso de moda da Unisinos, Valentina da Silva Balbi, 20 anos. Ela conta que suas experiências com roupas neste período de pandemia mudaram, principalmente desapegando daquelas peças que não eram mais úteis.

Estudante de Moda, Valetina ressalta que mudou sua forma de consumir moda em razão da pandemia. ( Arquivo pessoal)

“Fiz doações de duas sacolas grandes com vestuários. Antes eu fazia essa limpa pra tirar roupas velhas, mas desta vez, percebi que até roupas mais recentes que eu simplesmente não usava. Como o isolamento social afetou minha vida financeira, optei por comprar novas peças em uma proporção menor do que eu comprava anteriormente. Priorizei nessas compras o conforto para o meu dia a dia e também a minha autoestima. Comprei peças que vão ter um uso mais frequente e não algo de usar somente em uma situação específica” comenta Valentina.

O impacto nas cadeias produtivas da moda

Além do consumidor final, a pandemia afetou o varejo da moda. Segundo a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) a indústria da moda no Brasil tem quase 200 anos , sendo a última cadeia têxtil completa do Ocidente, da produção das fibras, como plantação de algodão, até os desfiles de moda, passando por fiações, tecelagens, beneficiadoras, confecções e varejo.

Abvtex destaca que houve dificuldades da indústria por falta de matéria-prima para recompor os estoques da primeira reabertura das lojas. ( Divulgação/Abit)

A longa cadeia produtiva da indústria da moda tem um impacto gigantesco na economia, principalmente por fazer um uso intensivo da mão de obra. Só no Brasil são, segundo Abit, 1,5 milhão de empregados diretos e 8 milhões de trabalhadores indiretos, sendo 75% mulheres.

Conforme o diretor executivo da Abvtex, Edmundo Lima, a Associação Brasileira do Varejo Têxtil reúne as 26 mais importantes redes de varejo nacionais e internacionais, que representam mais de 100 marcas que comercializam vestuário, calçados, acessórios de moda e artigos têxteis para o lar.

“Em 2020, com a retomada do consumo a partir da reabertura das lojas depois da primeira onda da pandemia no País, o varejo de moda brasileiro enfrentou um momento em que as empresas precisavam recompor os estoques. Também fomos afetados pelo aumento dos preços por parte da indústria pela ausência de insumos”, comenta Lima.

Processo da produção têxtil desde o campo até o consumidor final. (Fonte: Sindivestuário)

Mesmo assim, de acordo com números da Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE, a queda acumulada em 2020 foi de quase 23% na comparação com 2019. Pela primeira vez desde 1998, o setor de vestuário registrou recuo de 1,1%. O cenário para os próximos anos não aponta para uma recuperação rápida dos prejuízos do ano passado. De acordo com projeções da Mosaiclab — empresa de tecnologia em pesquisa e consultoria- as vendas de vestuário cresceram em média 5,9% ao ano, entre 2021 e 2023, o que não será suficiente para recompor as perdas de 2020.

Porém, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) projeta aumento de 25% nas vendas de vestuário em 2021, um incremento de R$228,9 bilhões. O diretor executivo da Abvtex, Edmundo Lima, ressalta que o grande desafio para o varejo têxtil é a aceleração por mudanças no consumo da moda e o crescimento da digitalização do setor.

“As marcas tiveram de ampliar seus canais de vendas para se adequar à nova realidade de preferência pela compra online por parte dos consumidores. Os grandes varejistas de moda criaram ou ampliaram a loja virtual e incentivaram a venda direta por WhatsApp, Facebook e Instagram, pelos colaboradores e até consumidores que se tornaram revendedores”, comenta.

E-commerce e as lojas físicas

O setor foi fortemente impactado pela pandemia devido ao período precisou fechar as portas, na fase mais rígida das regras de distanciamento social. O resultado poderia ter sido ainda pior, caso não ocorresse a expansão do e-commerce, que colaborou para o comércio se manter. De acordo com o Relatório do E-commerce no Brasil Abril/2021 — realizado pela agência Conversion — o faturamento das vendas online subiu cerca de 63,18%. As vendas online foram a saída encontrada para manter o faturamento não apenas pelas grandes redes de lojas. A empreendedora e estudante de moda, Milli Bruna Mustzamberg, 23 anos, proprietária da loja Millmares, ressalta que o que a salvou durante a pandemia foram as vendas pelo site.

Site da loja Millamares com vestuário para moda feminina. ( Reprodução)

“A peça que mais vendo é a legging, percebo que as pessoas gostam dessa peça por ser versátil, podendo usar para ficar em casa, ir na academia ou até mesmo sair, só precisa saber compor o look. Em média vendo 50 leggings por semana de forma online e todas minhas roupas custam até R$100,00”, comenta.

Outro caso similar é o da loja de vestuário feminino Vorrace. Proprietária da loja há 9 anos, Marilene Ribeiro, 47 anos, conta que precisou se reinventar durante a pandemia. Ela destaca que também precisou focar na venda pelo site da loja e redes sociais. “Desde março de 2020, estávamos com dificuldades de vender, desta forma, decidi fazer um site e todos os dias dar prioridade de postar, responder os clientes no Instagram, pois a venda física era quase nula. Antes da pandemia vendíamos muito o jeans. Eram aproximadamente 40 calças por semana, que passaram a ser apenas duas no mesmo período de tempo. O que ajudou realmente a ficarmos de portas abertas foi a venda online”, revela.

Entre janeiro e março de 2021, o e-commerce de moda faturou cerca de R$ 134 milhões, registrando um volume de 244% de crescimento em pedidos, de acordo com a Nuvemshop — plataforma de desenvolvimento de e-commerce. O mercado continuou lançando novas tendências de vestuário e se adequando a um novo conceito, em que o conforto e a liberdade se tornaram características fundamentais na compra de um novo modelo de roupa.

Outro fator que pode ajudar as lojas físicas a recuperar parte de seus prejuízos a curto prazo é a chegada da frente fria, motivando compras de artigos de inverno. Os varejistas de moda de pequeno porte comemoram as baixas temperaturas, que podem trazer impacto positivo nas venda. Pelo frio que faz aqui na Serra Gaúcha, aumenta a atratividade dos produtos utilizados no inverno, especialmente em datas comemorativas, como foi o Dia dos Namorados e agora o Dia dos Pais”, destaca a proprietária da Nice Fashion Modas, Anelice Vegas.

Conforme a pesquisa do IEMI — Inteligência de Mercado, o cenário é favorável para o varejo de moda devido à intenção de compra para a coleção Outono/Inverno. Sete de cada 10 brasileiros pretendem comprar roupas de frio. O levantamento mediu a aderência e a intenção de compra de produtos de vestuário nesta coleção envolvendo 1.200 entrevistados com mais de 18 anos de todas as regiões do país. O IEMI aponta que o gasto médio destes consumidores com roupas da coleção será de R$ 288,97.

Consultora dá dicas para realizar um consumo consciente

Além da escolha das marcas que merecem o olhar, o autoconhecimento é fundamental. Saber suas necessidades, as peças que realmente precisa e evitar as compras por impulso, é o que destaca a consultora de imagem e estilo, Linda Oliveira. “É legal olhar o que tem, desapegar com consciência, questionar os motivos pelos quais você comprou uma peça e nunca a usou. Entender e se identificar com as suas roupas é fundamental”, diz.

Análise de Coloração pessoal é um teste realizado para descobrir as cores certas para cada pessoa. ( Arquivo Pessoal)

Linda trabalha com consultoria há 7 anos e destaca que seu serviço tem como objetivo ajudar as pessoas a se vestirem melhor, com as roupas que já tem em seu guarda-roupa, sem necessidade de comprar outras, além de aliar seu modo de vestir com objetivos profissionais e pessoais a uma aparência. Essa metodologia varia entre R$250,00 a R$500,00. Esse valor depende do pacote que a pessoa escolher.

Ela também conta que o seu trabalho foi afetado pela pandemia. “Precisei diminuir o valor da consultoria e passei a atender de forma online. Agora com o ‘novo normal’, algumas pessoas já estão preferindo a volta da consultoria presencial”, comenta.

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