Depredação e abandono marcam os monumentos da Redenção

Prefeitura diz que parte dos recursos para revitalização foi usado no combate à pandemia

Beta Redação
Redação Beta
16 min readDec 10, 2020

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Por Carolina Santos, Guilherme Machado, Jessica Montanha, Josi Skieresinski e Luiza Soares

O Monumento do Expedicionário é a referência do Parque Farroupilha (Foto: Carolina Santos)

O patrimônio cultural das cidades está diretamente relacionado à preservação da memória histórica e artística local. Ao longo de seus 248 anos, Porto Alegre acumulou um número notável de expressões artísticas, dentre estas, monumentos e esculturas. Segundo o levantamento obtido via Lei de Acesso à Informação (LAI) junto à Secretaria Municipal da Cultura, a capital conta com 250 obras espalhadas por vários cantos da cidade, com número mais expressivo na área central, e a mais antiga delas é Alfluentes do Guaíba, de 1866. Porém, basta caminhar pela urbe, para notar o visível abandono dos monumentos históricos do município.

Foi assim que começou esta reportagem, há dois meses. O objetivo foi entender quantos eram e qual a situação dos monumentos da capital. Após construir planilhas com informações sobre a história de cada um (artista autor, a quem homenageia, ano em que foi inaugurado e o local onde se encontra a obra)buscou-se informações oficiais e especialistas, e a equipe foi a campo.

Ao cruzar as planilhas, foi possível ver que a maioria dos monumentos não são representativos da nossa diversidade social, étnica e de gênero, com homens brancos sendo grande parte dos homenageados, como mostrou a matéria do Matinal News. Isso nos levou a levantar questões revisionistas de nossa história e do que queremos consagrar nas ruas da cidade. Afinal, como podemos ver aqui este foi um ano marcado pela pandemia e revisão histórica dos monumentos nos EUA e Europa.

Só que este é um julgamento dos moradores, portanto, cada obra pública revela um modo de vida e preservá-las é uma maneira de nos fazer refletir sobre o que ali ocorreu ou o que representa. Outra curiosidade que percebemos ao realizar o cruzamentos: os anos em que mais monumentos foram criados se concentram em 1940, com 58 obras, em 1935 com 18, e por último, o ano de 1997 com a criação de 13 obras.

No dia 22 de novembro, a reportagem foi a campo para conferir e registrar o estado de 27 monumentos distribuídos pela Redenção. Destes, sete estavam em situação de abandono: são monumentos decapitados, reduzidos a uma pedra, muitas vezes sem placas de identificação.

A REDENÇÃO DESFIGURADA

Não é necessário ser um especialista para enxergar o problema. O Parque Farroupilha — mais conhecido como Parque da Redenção — foi fundado em 1835. Mas foi só no início da década de 1930 que a Redenção, como é mais conhecida, começou a tomar a forma que conhecemos hoje. Nessa época foram instalados bancos, afrescos e monumentos, totalizando 45 monumentos distribuídos em 35,7 hectares.

Ao chegar pela avenida Osvaldo Aranha e se direcionar a José Bonifácio, onde ocorre o típico Brique da Redenção, já se avista um dos maiores monumentos da cidade.

1O Monumento ao Expedicionário, inaugurado em 16 de junho de 1957. Sua fundação foi uma ideia lançada pelo jornal Correio do Povo em 1946. O concurso público para elaboração de um Arco do Triunfo teve como vencedor o projeto de Antônio Caringi. O monumento homenageia os soldados da Força Expedicionária Brasileira (FEB), uma força militar aeroterrestre constituída na sua totalidade por 25.834 homens e mulheres, que lutaram na Segunda Guerra Mundial, conhecidos como os pracinhas.

A obra de Caringi vai além da arquitetura, a proposta de um arco bipartido igualmente era para que tanto generais quanto soldados e prisioneiros tivessem uma passagem do mesmo tamanho, promovendo a igualdade entre todos.

Sua situação nem se compara com os outros 20 avistados ao longo do parque, porém é visível uma pichação em sua lateral esquerda e a sujeira, enquanto os 7 monumentos restantes permanecem intactos. Constituiu-se em uma estrutura de granito, com esculturas em relevo representando soldados e uma estátua em bronze na parte posterior. Em um dos lados, a figura feminina alegórica foi inspirada nas estátuas de Atena, trajando uma armadura e pisando numa serpente.

Monumento ao Expedicionário (1957). (Foto: Carolina Santos)

2 Outro monumento que está marcado pela depredação é o Busto de Alberto Santos Dumond. Inaugurado em 20 de julho de 1973, a peça é uma homenagem ao aviador brasileiro, que projetou, construiu e voou os primeiros balões dirigíveis com motor a gasolina. Sua inauguração deu-se dentro dos festejos alusivos ao centenário de Santos Dumont, foi construída na Fundição do Exército do Rio no Janeiro, numa promoção dos Diários e Emissoras Associados.

Não é possível reconhecer a homenagem. Resta apenas 1/3 da placa com o nome do aviador. A original já foi roubada há muito tempo e não foram poucos os esforços para preservar o monumento, que já passou por muitas revitalizações. Na de 2008, o custo total foi de R$1,38 mil, conforme consta no site da Prefeitura de Porto Alegre. Sua reforma mais recente foi em 2016, onde foram restaurados grande parte dos monumentos da Redenção.

Sua estrutura atual consiste em uma base de concreto, na sua parte direita está o lugar destinado outrora para a placa de identificação e no topo o busto de Dumond, que está com algumas corrosões, típicas de monumentos que ficam ao ar livre. Ao seu lado estão mais três bustos: o Busto do Almirante Tamandaré, o Busto de Mascarenhas de Moraes e o Busto do Duque de Caxias, todas igualmente sem placas e abandonadas às ações da natureza.

Busto de Alberto Santos Dumond (1973). (Fotos: Carolina Santos)

3O Marco em Homenagem aos Mortos no Combate ao Comunismo, é umas das obras mais polêmicas da cidade e foi alvo de vandalismo, data de 1937, quem estava na prefeitura era José Loureiro da Silva, nomeado pelo Estado Novo.

O Marco faz referência ao movimento armado, a Revolta Comunista de 35, também conhecido como Intentona Comunista. O movimento criou as condições para Getúlio Vargas articular o Estado Novo em 1937. Até hoje este movimento “justifica” o anticomunismo dentro do exercito brasileiro. Segundo documento do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), o movimento foi deflagrado a 23 de novembro de 1935 em Natal pelos sargentos, cabos e soldados do 21º Batalhão de Caçadores. Foram ao todo três levantes, promovidos em nome de uma revolução popular e da Aliança Nacional Libertadora (ANL), seu presidente Luís Carlos Prestes voltou ao Brasil e iniciou a luta armada para a tomada do poder e "a instalação de um governo popular- revolucionário, democrático-burguês e antiimperialista, que prepararia a etapa seguinte a do regime socialista".

Pelo seu contexto, a Intentona Comunista foi uma afronta à Getúlio Vargas e é considerada uma tentativa de golpe contra o governo, com apoio do Partido Comunista Brasileiro (PCB). O monumento ressalta o pensamento da época e sofre com os vandalismos recorrentes. A placa original foi roubada em 2003. Em 2015, foi restaurada, porém, em menos de um mês as placas já tinham sido roubadas.

Marco em Homenagem aos Mortos no Combate ao Comunismo (1937). (Foto: Carolina Santos)

4 A Coluna Brasileira — Jônica é um monumento perdido dentro do Parque da Redenção. Para encontrá-la é preciso se perder entre as árvores, localizada perto do lago, junto a Avenida João Pessoa. Ela foi inaugurada em 1940, porém segundo o Arquivo Público de Porto Alegre, essa informação não é confirmada. Tão pouco tem autoria. O especialista José Francisco Alves, em sua obra “A Escultura Pública de Porto Alegre — História, Contexto e Significado” (referência na história da arte pública da cidade), aponta que a coluna foi feita de granito rosa porto-alegrense com um capitel jônico (a parte de cima da coluna). Existia uma placa com um baixo relevo onde havia um mapa desenhado com a sesmaria de Jerônimo de Ornelas. Essa parte já foi roubada há muitos anos.

A história do monumento é um tanto curiosa: o então prefeito José Loureiro da Silva, cometeu uma gafe histórica, que ficou conhecida como o “Falso Bicentenário de Porto Alegre”. Segundo o Arquivo Público de Porto Alegre, em 1939 houve uma pesquisa do Instituto Histórico e Geográfico do Estado que revelou um documento para o prefeito: uma carta de doação de terras de uma sesmaria à beira do Guaíba para Jerônimo de Ornellas, local onde iniciaria Porto Alegre. O documento era datado de 05 de novembro de 1740.

Com a descoberta, Loureiro da Silva preparou grandes festejos para que, em 1940 fosse comemorado o bicentenário da cidade. Com intuito de promover suas obras ele acabou montado desfiles grandiosos pelas ruas do Centro, além da construção da Coluna Brasileira.

O prefeito queria demonstrar a ligação dele com o fundador da cidade, Jerônimo de Ornellas. No entanto, em 1971 um documento acabou com a festa de Loureiro. Nele, Porto Alegre era elevada para à categoria de freguesia em 26 de março de 1772. A definição foi aprovada pela Câmara de Vereadores e o novo bicentenário foi comemorado em 1972.

O que revela como a Coluna Brasileira é o resultado de como os monumentos são em si história viva, em todos os cantos. Sua nova placa, feita em 2014, com materiais, não tão atraentes para o furto, e que por essa razão ainda está intacta, anuncia: “Coluna Brasileira homenagem ao bicentenário da fundação de Porto Alegre”.

Coluna Brasileira — Jônica (1940). (Fotos: Carolina Santos)

5 O mesmo ocorreu com o busto de dois homens, também brancos como a maioria dos homenageados, que também dão nome a ruas da capital. Annes Dias foi um médico brasileiro, deputado à Constituindo no RJ, um dos membros fundadores do Sindicato Médico Rio-Grandense. Em maio de 1933, se elegeu deputado à Assembleia Nacional Constituinte pelo Rio Grande do Sul. Em novembro do mesmo ano, foi para o Distrito Federal, na época o Rio de Janeiro, para iniciar o mandato. Durante sua atuação como deputado constituinte, realizou proposições contra o divórcio e sobre endemias rurais.

O monumento, inaugurado em 1949 e restaurado em 2014, está localizado junto à Avenida João Pessoa, sua situação é a que se repete ao longo do Parque. Há uma pichação na sua parte traseira e seu estado de conservação não é dos piores, porém é notável a corrosão do busto.

Busto de Annes Dias (1949). (Fotos: Carolina Santos)

6 Outro homem que figura num dos bustos expostos na Redenção, é Carlos Gomes, inaugurado em 1936, em comemoração ao centenário de nascimento do compositor, foi elaborado por Fernando Corona. A obra está localizada em frente ao espelho d’água do Araújo Viana e está no lote de monumentos restaurados em 2014.

Carlos Gomes, destacou-se pelo estilo romântico, com o qual obteve carreira de destaque na Europa. Foi o primeiro compositor brasileiro a ter suas obras apresentadas no renomado Teatro alla Scala, em Milão, na Itália. É o autor da ópera O Guarani e patrono da cadeira de número 15 da Academia Brasileira de Música. A obra que homenageia o artista, agora é a morada de um João-de- barro, que fez um ninho em sua nuca.

Busto de Carlos Gomes (1936). (Fotos: Carolina Santos)

7A Redenção é cercada de recantos, que se distribuem pelo parque. Um deles é o Recanto Ocidental, onde podemos encontrar a escultura de Buda e colunas orientais constituem o Templo de Buda. No jardim, uma miniatura do vulcão Fuji-Yama, montanha sagrada dos japoneses. Há ainda um lago com a forma de um dragão, com pequenas pontes. A estátua do Buda, inaugurada em 1940 é quase um ícone da redenção, as pichações estão em todos os lugares ao longo de sua estrutura.

8O Marco João Wesley , de 15 de janeiro de 1953, ao longo dos anos teve duas versões a de Luiz Henrique Mayer, de 2016, e a original de Romano Reif, que já foi há muito tempo perdida. O monumento, que homenageia o fundador da Igreja Metodista, foi erguido pela comunidade Metodista do Rio Grande do Sul alusivo ao sesquicentenário do fundador da Igreja. O estado do marco é de total esquecimento, sendo impossível de identificar do que se trata. As placas restauradas em 2016, já foram roubadas e mais uma vez as pichações estão presentes.

Marco João Wesley (1953). (Foto: Carolina Santos)

9A Herma Licínio Cardoso é mais uma das homenagens a médicos no Parque. Inaugurado em 1952, a pedido da Liga Homeopática, foi restaurado em 2014. A estátua faz referência ao médico homeopata gaúcho.

No dia de nossa saída de campo, foi possível ver uma intervenção na herma, em que foi colocado uma máscara e flores em seu busto. Uma referência aos tempos em que vivemos, com a pandemia de Covid-19. É possível ver também uma pichação em sua parte traseira e apesar dela, seu estado de conservação é notável, estando bem cuidada.

Herma Licínio Cardoso (1952). (Foto: Carolina Santos)

10O Monumento a Chopin, inaugurado em 15 de novembro de 1963 e feito por Fernando Corona, homenageia o sesquicentenário do compositor polonês, Frédéric François Chopin. O monumento ao pianista polonês, é o retrato da depredação. Ao seu redor estão destroços do que um dia foi um chão pavimentado, em seu lado esquerdo estão pichações e não é possível mais presenciar o busto que ficava em cima da pedra de mármore. Sua situação é o resultado do descaso com a preservação das obras.

Monumento à Chopin (1963). (Foto: Carolina Santos)

11O Monumento à Assis Brasil, foi inaugurado em 24 de dezembro de 1942. As placas originais de autoria de Luís Sanguin, foram roubadas ainda na década de 60. Em 1977, ocorreu uma campanha que acabou restaurando estas peças, sendo novamente levadas em outubro de 1999. A herma, que antes figurava o topo do monumento, foi retirada pela Prefeitura antes que também a levassem. Sua situação atual, reflete seu passado. São várias as pichações, tanto na parte frontal, quanto traseira.

Joaquim Francisco de Assis Brasil, foi fundador do Partido Libertador, deputado e membro da junta governativa gaúcha de 1891. Amigo de Julho de Castilhos, casou-se com Cecília Prates de Castilhos, irmã de Júlio de Castilhos. Ele foi um grande nome defensor da Revolução Farroupilha.

Monumento à Assis Brasil (1942). (Foto: Carolina Santos)

PREFEITURA DA CAPITAL ADMITE NÃO TER CONTROLE SOBRE A SITUAÇÃO DAS OBRAS

Os monumentos da Redenção, não são os únicos depredados. O problema é que a administração municipal relata não ter um controle da situação atual das obras e nem o orçamento para eventuais restauros. A Prefeitura diz não ter uma planilha com a situação de cada obra e aponta que a obrigação da vistoria é da Guarda Municipal, conforme resposta recebida pela reportagem por e-mail.

Para a reportagem, a Guarda Municipal de Porto Alegre informou por e-mail que o Disque Pichação (153) tinha recebido 2020, até a data do contato (10/11 ), 24 ocorrências atendidas e registradas de vandalismo. Destas, 19 foram denúncias e cinco foram constatadas em policiamento.

Quem é pego danificando monumentos, é conduzido à delegacia de polícia, onde pode ser indiciado por dano ao patrimônio público e autuado com base no Código de Conduta Municipal, ainda de acordo com a Guarda Municipal. Segundo a Lei Complementar de Nº 832/2018 a multa varia de R$ 1.000 a R$ 100.000 para danos causados aos bens do patrimônio público municipal. Solicitamos ainda à Guarda os dados de anos anteriores sobre vandalismo em monumentos. Entretanto, o órgão negou o acesso à informação sem prestar justificativa.

Na outra ponta, a Coordenação da Memória Cultural da Secretaria Municipal de Cultura (SMC), comunicou por e-mail que não tem planilhas detalhadas, contendo orçamentos de serviços em monumentos e obras de artes, pois “os trabalhos dessa natureza são pontuais e bastante variáveis”. Outra justificativa apontada pelo departamento da SMC, é que na maior parte das vezes as restaurações são realizadas por meio de parcerias com o setor privado.

A conservação e preservação dos monumentos de Porto Alegre já foram de responsabilidade da Secretaria do Meio Ambiente (SMAM), mas desde 2014, essa atribuição passou a ser exercida pela Secretaria da Cultura, por meio da Coordenação da Memória Cultural, conforme aponta Manuela de Costa, arquiteta que faz parte do departamento. A arquiteta respondeu os questionamentos da reportagem também por e-mail. Na mensagem de correio eletrônico do dia 19 de outubro, ela informou que a Secretaria não possui uma estratégia ampla que vise cuidar e preservar as obras públicas. “Desde lá [2014], foram feitas ações pontuais, mas não existe ainda um plano geral”, afirmou a arquiteta.

Conversamos também por Whatsapp com uma das maiores autoridades quando o assunto é escultura pública. Luiz Antônio Bolcato Custódio é arquiteto, pesquisador há mais de 30 anos sobre o tema, e especialista em restauro de monumentos e sítios históricos. Custódio também foi coordenador da Memória Cultural(departamento da Secretaria Municipal da Cultura) entre maio de 2009 e dezembro de 2016. Ele entende que a troca de responsabilidades foi mal construída, que há um vácuo nesta área: “Resolveu a SMAM que os monumentos iriam passar para a cultura, porém não foram passados nenhum recurso, condições ou informação e isso não foi uma coisa formalizada, mas dentro do mesmo governo a Cultura passou a assumir”, ressalta.

PREFEITURA NÃO UTILIZOU OS RECURSOS DO FUNDO MONUMENTA DISPONÍVEIS PARA RESTAURO

O Fundo Monumenta Porto Alegre (Fumonpoa) tem como objetivo o financiamento de ações de preservação e conservação e a recuperação dos valores históricos de áreas públicas, edificações e monumentos. Nos últimos três anos, foram destinados R$ 1.113.145 para o Fumonpoa. No entanto, a Prefeitura utilizou apenas R$114,00 deste recurso, conforme consta no portal do Tribunal de Contas do Estado (TCE-RS).

Segundo o analista pesquisador no Departamento de Economia e Estatística da Secretaria do Planejamento do Rio Grande do Sul (SEPLAG/RS), Tarson Nuñez, a não utilização desses recursos decorre da “incompetência e inépcia” do atual governo municipal.

Para onde foi destinado o R$ 1.113.031 restantes ainda é incerto, mas há certeza de que a falta de preservação dos monumentos afeta também a indústria do turismo de Porto Alegre. De acordo com Nuñez, o patrimônio histórico é um bem público que se constitui um elemento importante para a visitação externa, por gerar empregos, renda e oportunidades de negócios. “Os monumentos são uma materialização estética da história de um lugar, que é uma das coisas que os turistas buscam quando visitam uma cidade. Neste sentido, a preservação dos monumentos é um elemento importante não apenas para a memória, mas também para a economia local”, explica o pesquisador.

A falta do investimento municipal nos monumentos e o abandono das obras vandalizadas, não geram expectativa para futuras peças que possam ser espalhadas pela cidade com o objetivo de homenagear figuras do contexto atual em que vivemos. Para o analista pesquisador da SEPLAG, dada a escassez de recursos públicos, novas homenagens deveriam ficar em segundo plano em relação à preservação do acervo existente.

O arquiteto e ex-Coordenador da Memória Cultural, Luiz Custódio, afirma que na época em que atuou no órgão havia recursos destinados aos monumentos — apesar de escassos — e que parte desse investimento foi utilizado em parcerias público/privadas.

A nossa equipe de reportagem entrou em contato com a atual coordenadora da Memória Cultural da prefeitura de Porto Alegre, Ronice Giacomet Borges. Por Whatsapp ela explicou que a prefeitura monitora as denúncias de vandalismo nos monumentos. “No exercício de 2020 fechamos um relatório com registro de todos. Como esse ano foi atípico tivemos um processo que foi dado início para que fosse licitado um projeto de conservação de monumentos.”, explica a coordenadora.

Ela comentou ainda que "os últimos projetos de restauro no Parque da Redenção foram feitos a partir de um recurso chamado Termo de Conversão de Área Pública (TCAP) com a empresa Cyrela Sul Empreendimentos Imobiliários, e coordenado pela SMAM". Esta publicação postada no site da Prefeitura, informa que em outubro de 2019, foi investido quase R$ 4 milhões proveniente de um TCAP para a revitalização do Parque Farroupilha, juntamente com o projeto de Revitalização de de Praças e Parques da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (SMSUrb) que investiu R$ 465 mil nas obras.

A postagem informava ainda que a proposta previa a pintura de 390 bancos, a recuperação de 200m² de pedra portuguesa, a recuperação de 250 metros de basalto, além da reforma no Recanto Alpino, Recanto da Ilha, Fonte Luminosa, Recanto Europeu e do Postinho (antiga bilheteria). Tudo na Redenção.

Mas, segundo a coordenadora da Memória Cultural de Porto Alegre, os planos de restauração e preservação dos monumentos de Porto Alegre tiveram que ser adiados novamente por conta da nova pandemia do coronavírus. De acordo com Ronice, a Prefeitura Municipal de Porto Alegre (PMPA) destinou os recursos que deveriam ser investidos em vistorias e licitações dos monumentos, para o combate do Covid-19.

A coordenadora informou também que há ainda o decreto que prevê adoção de monumentos por empresas, que também foi prejudicado pela crise financeira ocasionada pela pandemia. Por isso, juntamente com o Grupo BMPar (mesmo grupo que está executando as obras do projeto Estaleiro Só, mais conhecido como Pontal, na Zona Sul de Porto Alegre), está sendo realizado um trabalho de resgate da escultura do artista Vasco Prado no Museu Joaquim José Felizardo, localizado no bairro Cidade Baixa.

“ Dentro das previsões no exercício de 2021 está previsto o restauro da estátua do Laçador que será feito através de um projeto cultural do Sindicato das Indústrias da Construção Civil no Estado do Rio Grande do Sul (SINDUSCON/RS), através de captação de recursos na Lei de Incentivo a Cultura (LIC)”, afirma Ronice Borges.

O uso da lei de Incentivo à Cultura foi um importante instrumento para realizar a última revitalização das obras em 2016, como é possível ver nesta outra matéria .

SOLUÇÃO PODE ESTAR NA EDUCAÇÃO

A coordenadora técnica do projeto “Resgate do Patrimônio Histórico: Construção Cultural Parque Farroupilha 2016”, Verônica Di Benedetti, acredita que também é necessário investir na educação patrimonial como alternativa mais barata e consistente para a preservação dos monumentos. “Restaurar não é a solução se realizada de forma isolada. Uma sociedade que preza pelo seu patrimônio deve pensar na restauração como o último recurso. Aqui se restaura e dá as costas para o monumento deixando-o entregue à própria sorte”, explica a coordenadora.

Integrante do mesmo projeto, o arquiteto Luiz Custódio também afirma que o melhor investimento a ser feito é educar para o patrimônio público: “o fato de se fazer o restauro é uma questão educativa que gera muita gente que presta atenção e que vê ‘bom foi cuidado’”. Para ele, esse tipo de relação transforma o público que frequenta os espaços em que os monumentos estão localizados em aliados e “fiscais”, que procuram saber se a obra está sendo tratada e cuidada. “Então sempre vale a pena, não só pela questão de preservação dos monumentos como tais, como também da ação educativa que essas ações produzem”, explica o arquiteto.

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A Beta Redação integra diferentes atividades acadêmicas do curso de Jornalismo da Unisinos em laboratórios práticos, divididos em cinco editorias.