Semana do Meio Ambiente ganha o apoio do Trashtag Challenge

Desafio estimula o recolhimento de lixo, mas ocorre em meio a um cenário pessimista em relação às políticas ambientais

Gabriela Stähler
Redação Beta
6 min readJun 4, 2019

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Por Gabriela Stähler e Felipe Silva

Trashtag, ou Deasfio do Lixo em português, incentiva o compartilhamento de fotos de práticas ambientais (Foto: Gabriela Stähler/Beta Redação)

Quem utiliza o Instagram possivelmente já se deparou com fotos de práticas ambientais marcadas com uma hashtag diferente. Cheia de curtidas, essa iniciativa vai muito além do engajamento nas redes sociais. Criado em 2015, nos Estados Unidos, o #TrashtagChallenge consiste num desafio que estimula as pessoas a retirar o lixo de locais impróprios, como praças, ruas, terrenos e praias, sendo que os participantes devem postar as fotos do local da intervenção antes e depois da ação.

Devido à proximidade da Semana Mundial do Meio Ambiente, celebrada entre 1 a 5 de junho, a campanha atingiu cerca de 19 mil publicações marcadas com #Trashtagchallenge e 100 mil com #Trashtag. A popularização da tag ultrapassou os limites do país em que foi criada e, aqui no Brasil, já ganhou uma versão em português — o Desafio do Lixo.

Curso da Unisinos promove o Desafio do Lixo

Alunos e professores da Engenharia Ambiental da Unisinos promoveram o próprio Trashtag na universidade. A coordenadora do curso, Amanda Kieling, relata que a intenção era organizar um evento de caráter extensionista e colaborativo, com foco em ações práticas para oferecer soluções para problemas ambientais. Foi a partir dessa ideia que os estudantes sugeriram promover o Desafio do Lixo.

O grupo promoveu um mutirão de limpeza na praça da Rua Almirante Tamandaré, próxima à Estação Unisinos, em São Leopoldo. Em cerca de duas horas foi recolhida uma tonelada de lixo, enviada para o destino correto ao final da ação. Um caminhão da Prefeitura foi disponibilizado para recolher os lixos não-recicláveis, enquanto a empresa Sul Ambiental recolheu o restante dos materiais. A ação, realizada no dia 1 de junho, integrou a programação da Semana do Meio Ambiente da Unisinos.

O evento foi aberto para que voluntários também pudessem ajudar na coleta (Foto: Gabriela Stähler/Beta Redação)

O evento também contou com o apoio de estudantes do curso de Design de Produto da Unisinos Porto Alegre. O coordenador, André Canal Marques, relatou que o grupo se envolveu na criação da marca do evento, assim como na confecção de um pequeno brinde, trabalhando com a reciclagem dos materiais coletados na ação.

O diretor de Limpeza Pública da Prefeitura de São Leopoldo, Gilmar Zwetsch, disponibilizou um caminhão para o recolhimento dos resíduos durante o #TrashtagChallenge, além de auxiliar na coleta. Ele conta que essa foi a primeira parceria da Prefeitura com o curso de Engenharia Ambiental. O trabalho na Secretaria de Mobilidade e Serviços Urbanos envolve a conscientização e a fiscalização na cidade. De acordo com o diretor, as ações ocorrem nos bairros Vicentina e Duque de Caxias.

“Nós fazemos o recolhimento do descarte e colocamos placas de Proibido Colocar Lixo. A comunidade faz as pinturas e coloca flores de forma voluntária nesses locais. A gente fornece pneus, a limpeza do local e mão de obra para a limpeza”, relata Gilmar.

Educação como forma de promover mudanças

A professora Amanda Kieling conta que, na Engenharia Ambiental, se trabalha a ideia de que resíduo é matéria-prima que precisa ser reinserida ao ciclo de produção. “A população tem uma influência grande neste processo, pois atitudes corretas vão conduzir a uma gestão mais eficiente do lixo nas cidades”, aponta.

Ao longo do curso, os alunos visitam usinas de triagem para entender a importância do descarte correto de resíduos. “Reforçamos que a gestão do lixo no Brasil envolve não somente questões ambientais, mas questões sociais de uma mão de obra fundamental para a cadeia”, explica. Segundo ela, os alunos devem entender que a gestão do lixo precisa ser qualificada em termos de coleta, separação e disposição.

O núcleo da Unisinos vinculado ao grupo Engenheiros sem Fronteiras também participou do Desafio do Lixo, com 11 voluntários. O vice-diretor do grupo, Naiton Gama, explica que a professora Amanda Kieling fez o convite para a copromoção e divulgação do projeto. “Nosso lema é promover a justiça socioambiental e acreditamos que não existe crise socioeconômica separada da crise ambiental”, afirma.

Estados Unidos longe da sustentabilidade

Apesar do Trashtag Challenge ter surgido nos Estados Unidos, a preocupação pela preservação do ambiente por parte da população norte-americana não é compartilhada pelo governo Trump. Desde o início da atual gestão foram articuladas modificações polêmicas nas políticas ambientais do país, tais como:

Segundo o World Resources Institute de 2018, os Estados Unidos são o segundo país mais poluente do mundo, gerando aproximadamente 14% de toda a poluição mundial.

A fundadora da empresa de sustentabilidade Oficina Pasárgada, Fabíola Pecce, observa, em contrapartida, que há pontos positivos na política ambiental norte-americana. “Na Califórnia, por exemplo, tem uma lei conhecida como Lixo Zero há mais de 30 anos. Lá é proibido levar lixo para aterro sanitário”, observa.

Ranking Mundial de Poluição, segundo o World Resources Institute de 2018 (Arte: Felipe Silva/Beta Redação)

Situação ambiental no Brasil

O Brasil ocupa a sexta posição no ranking dos países que mais poluem, sendo responsável por 2% de toda a produção de lixo ambiental mundial. Segundo a Revista Science, Brasil e Estados Unidos foram os países que mais retroagiram em relação às diretrizes firmadas no Acordo de Paris nos últimos cem anos.

Para o Instituto Nature Climate Change, a omissão dos Estados Unidos pode tornar inalcançável a Meta do Acordo de Paris. A estimativa é que, caso os norte-americanos não cumpram as metas firmadas no documento, a temperatura global aumente 0,3°C até 2100.

Apesar do engajamento de parte da população brasileira às causas ambientais, acontecimentos recentes relacionados ao clima na política brasileira deixaram os ambientalistas em alerta:

  • Abertura de um processo para investigar as políticas ambientais do governo Bolsonaro, em maio de 2019 pelo TCU. O objetivo é apurar se está ocorrendo a fiscalização do desmatamento ilegal
  • Afirmação de Bolsonaro sobre a intenção de transformar a Estação Ecológica de Tamoios em uma “Cancún brasileira”, o que rendeu críticas de ambientalistas
  • Pesquisa da revista Science apontando que 4% das áreas protegidas já foram afetadas no país, sendo 48% dos casos entre 2010 e 2017.

#Trashtag ao redor do mundo

Ação do desafio do lixo na Nova Zelândia (Foto: Reprodução/ Instagram)

Entre os países mobilizados na causa, a Rússia, quinta maior poluidora do mundo, reuniu centenas de sacos de lixo, dos quais 75% serão encaminhados para reciclagem. Na Índia, a atividade alcançou cerca de 22 mil usuários com a tag na linguagem local, sendo que a maior parte das publicações abordou a limpeza de vias públicas.

Nos países não classificados como principais poluidores também houve mobilização para combater os prejuízos à natureza. Em Auckland, maior cidade da Nova Zelândia, foram coletadas mais de 2,5 mil garrafas e latas de refrigerante — 90% delas serão destinadas à reciclagem.

O Brasil é um dos países que mais participa da Trashtag. Entre as inúmeras ações mobilizadas nas redes sociais, ganhou destaque a campanha realizada no litoral do Espírito Santo visando a limpeza das praias. As imagens do antes e depois evidenciam a mudança drástica na paisagem.

Fabíola Pecce afirma que esse tipo de iniciativa comprova que simples atitudes podem baratear o custo da coleta de resíduos. Fabíola também destaca o poder educativo e a capacidade da ação em sensibilizar o público sobre o assunto.

Unisinos tem programação especial na Semana do Meio Ambiente

A Unisinos Campus São Leopoldo oferece diversas atividades de conscientização ambiental até o dia 7 de junho. Entre os destaques está a Coleta de Resíduos Eletrônicos, promovida pela Engenharia Ambiental, que ocorre todos os dias da semana, das 8h30 às 19h30, no Centro Comunitário (Andar Térreo — Sala entre a Opus Pilates e GMAP). No espaço serão recolhidos celulares, computadores, televisores, câmeras e outros equipamentos eletrônicos.

Na quinta-feira, 6 de junho, será realizada a oficina “O que você faz ou deve fazer com seu resíduo eletroeletrônico?”. A atividade é organizada pelo professor da Engenharia Ambiental, Carlos Moraes, em parceria com a mestranda Emanuele Caroline Araújo dos Santos, a graduanda do curso, Jenifer Lima da Silva, e o representante da Cooperativa Paulo Freire, José Paulo.

A programação completa pode ser acessada no site da Unisinos.

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