Entidade gaúcha se destaca na formação de paratletas

Instituição sem fins lucrativos, RS Paradesporto conta com apoio da Unesco até o final de 2017, quando terá de buscar novos patrocinadores

Rodrigo da Costa Ávalos
Redação Beta
5 min readOct 2, 2017

--

Os treinamentos do paratletismo acontecem no Centro Estadual de Treinamento Esportivo (Cete). (Foto:Rodrigo Ávalos/Beta Redação)

Se os grandes clubes do futebol brasileiro enfrentam dificuldades, imagine a luta que é para uma instituição voltada à formação de atletas com deficiência física. O RS Paradesporto vem há 12 anos trabalhando em Porto Alegre para o desenvolvimento esportivo de Pessoas com Deficiência (PCDs), visando o progresso físico e o surgimento de novos paratletas, além de oferecer apoio social.

Bruna Giacomin é uma das maiores expoentes atuais da instituição. Aos 16 anos, já conta com participação destacada no circuito adulto de paratletismo. Ela é portadora de mielomeningocele, uma malformação congênita da coluna vertebral que a impede de andar. Bruna ficou conhecida como “filha do vento” após vencer as Paraolimpíadas Escolares de 2015, em Natal (RN). A paratleta tem como meta representar o Brasil nas Paraolimpíadas de 2020, no Japão, e segundo Alexandre Cavedini, treinador de Bruna, está no caminho. “As marcas dela em nível escolar são excelentes. E ela ainda é muito jovem. O foco e a garra nos treinos são impressionantes”, exalta.

Bruna Giacomin, 16 anos, conquistou as Paraolimpíadas Escolares em 2015. (Foto: Rodrigo Ávalos/Beta Redação)

Presidente desde a fundação da entidade, em 2005, Luiz Cláudio Portinho, procurador federal e atleta do basquete em cadeira de rodas, salienta que os objetivos da entidade englobam a capacitação e a qualificação dos profissionais envolvidos na construção do processo paraolímpico, o estímulo e o aumento da visibilidade e a empatia do movimento junto à mídia e à sociedade.

A sede da instituição, localizada numa sala comercial de um prédio no centro da capital gaúcha, conta com laboratórios de informática e de leitura, biblioteca e espaço para atendimento psicológico. O RS Paradesporto também oferece auxílio em áreas como fonoaudiologia e assistência jurídica, além de dispor de uma sala de musculação, implantada por Altemir Luís Oliveira, o “Gringo”, corredor profissional em cadeira de rodas desde 1999 e detentor de diversas medalhas e troféus na modalidade.

É na sede do RS Paradesporto que também estão alguns motivos de orgulho da entidade. Troféus conquistados por paratletas do projeto nas mais diversas categorias enfeitam o local, dividindo espaço com os banners de divulgação e imagens que guardam histórias de campeonatos e torneios dos quais a organização participou.

Nilo da Silva, psicólogo da entidade e responsável pelo primeiro contato com as crianças, adolescentes e familiares, explica que o objetivo maior é a formação de atletas de alto desempenho. “Num primeiro momento, é feita uma avaliação psicológica e verificada a Classificação Internacional de Doenças (CID). Depois, encaminhamos o futuro atleta para categorias específicas e treinamentos conforme a avaliação. Crianças e adolescentes geralmente acabam treinando atletismo, e os adultos, basquete em cadeira de rodas. Mas sempre é levada em conta a maior afinidade do aspirante a atleta. O foco é formar paratletas de ponta”, explica.

O RS Paradesporto surgiu a partir de um grupo de basquete em cadeira de rodas da Associação Riograndense de Paralíticos e Amputados (Arpa), extinta no início dos anos 2000. O grupo de basquete se manteve. Mas, com o surgimento de propostas de patrocínios, era necessário adquirir uma identidade jurídica. “O RS Paradesporto não é uma entidade como as outras tradicionais, que congregam pessoas com deficiência com uma finalidade mais social ou de lazer. Ela sempre teve como finalidade promover o paradesporto”, enfatiza Portinho.

A criação da Escola Paraolímpica Gaúcha, em 2009, possibilitou ao clube expandir das modalidades oferecidas ao paratletas no Centro Estadual de Treinamento Esportivo (Cete). Portinho salienta que o projeto foi iniciado com a ajuda de professores voluntários e pais de atletas, utilizando materiais amadores nos treinamentos.

O RS Paradesporto só conquistou a liberação do Cete, espaço propício para a prática esportiva, através de um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) junto ao Ministério Público, obrigando o governo do Estado a ceder o espaço para a escola. Assim o Ministério Público também proporcionou veículos, através da prefeitura, para o transporte dos alunos e atletas.

Aser Mateus de Almeida Ramos, 26 anos, portador de paralisia cerebral grave, é um dos paratletas formados no RS Paradesporto. Está entre os cinco melhores colocados no ranking da sua categoria no salto em distância no país. Atualmente em treinamento para a última etapa do Circuito Loterias Caixa, que ocorrerá de 26 a 29 de outubro no Centro de Treinamento Paralímpico Brasileiro, em São Paulo, ele busca o recorde sul-americano no salto em distância. “Estou ansioso com a chegada da competição. Pretendo ficar entre os melhores e conquistar uma vaga na seleção”, diz Aser.

Aser Ramos está entre os cinco melhores no ranking da sua categoria no salto em distância no país. (Foto: Arquivo pessoal)

Já Igor Joshua Porto Batista, 15 anos, frequenta a Escola Paraolímpica Gaúcha há um ano e meio. Portador de artrogripose, uma doença congênita rara caracterizada pela contratura de várias articulações e rigidez de tecidos moles, o jovem tem dois sonhos: seguir no esporte paraolímpico e participar das Paralimpíadas de 2020.

Igor Batista, 15 anos, conta como iniciou no RS Paradesporto. (Vídeo: Rodrigo Ávalos/Beta Redação)

A Escola Paraolímpica Gaúcha oferece treinamento de maneira gratuita aos paratletas. É mantida por contribuições dos associados e patrocínios de empresas. O edital da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), aprovado em 2012 via Criança Esperança, injetou ânimo novo no projeto, possibilitando a profissionalização de uma iniciativa outrora amadora, com a contratação de professores, assistentes sociais, psicólogos, motorista, além de novo material necessário para as práticas.

“Com esse edital, nós compramos quase R$ 400 mil em cadeiras de rodas e veículo próprio para o transporte das crianças, além de a Unesco arcar com o combustível necessário. Infelizmente, o projeto será apoiado financeiramente pela Unesco somente até 2017, pois o limite é de cinco anos para esse patrocínio”, fala Portinho. Segundo Cíntia Florit, diretora esportiva da entidade, a parceria com Unesco e o Projeto Criança Esperança reafirmou a importância do trabalho e demonstrou que o esporte para crianças com deficiência é uma ferramenta muito eficaz de desenvolvimento.

Atualmente são cerca de 250 crianças e jovens atingidos pelo projeto, além de suas famílias, totalizando 800 pessoas beneficiadas indiretamente. A entidade está aberta a novos patrocínios e busca apoiadores para continuar o trabalho realizado até o momento. “Estamos estudando como faremos após o encerramento do repasse da Unesco para manter o projeto nessa mesma estrutura, porque ele irá se manter, tendo apoio financeiro ou não, nem que voltemos para as origens, contando com a ajuda de voluntários”, finaliza Portinho.

--

--