Improviso e adiamentos marcam festas de aniversário na pandemia

Brasileiros de diversos estados contam como se adaptaram para celebrar datas especiais, do primeiro aninho ao 80º

Helen Appelt
Redação Beta
6 min readMay 20, 2020

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João Manoel comemorando seu aniversário de forma inusitada. (Foto: Marília Norma Nunes Silva/Arquivo pessoal)

A palavra aniversário tem origem do latim anniversarius, do termo anno conversus, “o que volta todos os anos”. Com isso, as comemorações de data de nascimento passaram a ser comemoradas em todos os cantos do mundo, além de surgirem diversas simbologias na hora de celebrar mais um ano de vida de acordo com várias culturas e crenças. Na nossa sociedade, balões, bolo, docinhos, bebidas e o clássico “Parabéns pra você” são motivos para juntar familiares e amigos. Mas, desde março de 2020, muitas felicitações passaram a ser apenas virtuais, ou apenas com parte da família.

Em 13 de março o Ministério da Saúde recomendou que a população passasse a evitar qualquer tipo de aglomeração de pessoas, para minimizar a disseminação da Covid-19. Com isso, a necessidade do distanciamento social não só cancelou festas, mas momentos que marcam histórias e conquistas. É o caso de Josiane Schumacher Gaelzer, da cidade de Brochier, no Rio Grande do Sul, que precisou adiar a festa do primeiro ano do Ícaro. Josiane conta que o filho foi muito esperado e desejado por ela e seu marido. Para realizar o sonho de se tornar pais precisaram recorrer à Fertilização In Vitro (FIV). “Temos muito a comemorar neste um ano. Além do nascimento do Ícaro, tivemos o nascimento de uma família”, enfatiza.

Convite da festa do Ícaro já estava pronto e distribuído. (Imagem: Josiane Schumacher/Arquivo pessoal)

A festa, que estava marcada para o dia 24 de maio e já estava paga, precisou ser adiada para o ano que vem. “Foi adiar um sonho que vinha sendo planejado por muitos anos”, comenta. Josiane conta que mesmo não sendo possível realizar a comemoração organizada há meses, não deixará o aniversário do filho passar em branco. Por isso, fará uma pequena reunião em sua casa no dia 23, apenas para os padrinhos, tios e avós de Ícaro, mas levando em conta as medidas de prevenção. “Tentamos organizar da melhor forma possível, com álcool gel, máscaras e o distanciamento necessário, por isso o número mínimo de convidados”, conta.

Para Marília Norma Nunes Silva, moradora de Cuiabá, capital de Mato Grosso, a história não foi diferente. Com tudo preparado para a festa no dia 30 de abril, para 140 convidados, foi necessário adiar a comemoração para o segundo aniversário do pequeno João Manoel. Tudo começou a ser planejado ainda durante a gestação. “Eu sou administradora, faz parte da minha personalidade planejar tudo com antecedência (risos). Passava horas pesquisando temas, mas, quando ele nasceu, tive certeza que o tema seria ‘Príncipe’”, relembra Marília.

João Manoel tinha comemorações mensais e, para que não ficasse sem uma comemoração dos seus 12 meses, os pais optaram por uma festa apenas com os avós e parte da família de Marília. “Logo pela manhã decorei o berço com o tema da quarentena, que vi num site americano, e isso nos rendeu boas risadas e fotos lindas. À noite recebemos nossa família”, conta. Embora a comemoração tenha sido um momento feliz, Marília define que também há um misto de tristeza e frustração, pois comemorar o primeiro aniversário do filho é um momento único, que não voltará.

Em Dois Irmãos, no Rio Grande do Sul, Fernanda Lampert Petry já havia organizado a disponibilização de máscaras e álcool em gel para os convidados, por medida de segurança. Mas, no fim, optou por cancelar a festa de dois anos de Guilherme, para preservar tanto os convidados quanto o filho, que faz parte do grupo de risco devido ao quadro asmático. Para que a empolgação do pequeno não fosse frustrada, organizou uma reunião apenas para os dindos e avós, em três espaços arejados, com todos usando máscaras e higienizando as mãos.

Mesmo sem contato físico direto, Guilherme comemorou seu aniversário. “Não teve beijos e abraços, mas muito carinho. Alguns optaram em participar por videochamada, mas destaco que o principal foi a preocupação com o Guilherme, para que se sentisse amado no dia do seu aniversário”, comenta Fernanda. A festa de três anos, porém, já está sendo planejada para 2021. A mãe conta que pretendem comemorar com um evento maior, como no primeiro ano do filho.

Esperança em 2020

Embora muitas festas tenham sido adiadas para o próximo ano ou simplesmente canceladas, algumas pessoas esperam não adiar tanto a comemoração de mais um ano de idade que se inicia. Maria Izabel Pimenta, residente de Esplanada, na Bahia, completou 80 anos no dia 17 de abril. A festa para no mínimo 200 convidados estava quase 100% pronta. Familiares do Rio de Janeiro, Aracaju, Salvador, Maranhão, Porto Seguro e São Paulo, entre outras cidades do país, precisaram cancelar suas passagens. “Conversei com minhas filhas e resolvemos adiar. Não sabemos se vamos conseguir comemorar este ano, mas assim que tudo passar vamos festejar”, comenta Maria.

Maria Izabel é religiosa e conta com sua fé para que a pandemia acabe logo. (Foto: Cristiane Pimenta/Arquivo pessoal)

Muito religiosa, a octogenária diz que tem fé que a situação irá melhorar logo e poderá reunir seus amigos e familiares em breve, mantendo seu cronograma de festa, que iniciaria com uma missa, com direito até a um grupo de coral. Festejar os 80 anos de Maria Izabel é uma maneira de rever parentes que moram em várias regiões do país. A filha Edvânia Pimenta conta que a mãe sempre gostou de comemorar o aniversário e que em poucos deles não houve festa. “Mesmo que reuniões pequenas, ela sempre fez algo”, diz. Devido à pandemia, as parabenizações desta vez foram apenas por ligações e videochamadas.

Juliana de Almeida Alves, de Itatiaia, no Rio de Janeiro, estava com a festa de 15 anos da filha, Júlia, quase pronta, faltando apenas alguns ajustes para o dia 4 de abril. As expectativas estavam grandes, pois alguns convidados haviam comprado ou alugado fantasias para cumprir com a temática da festa. Nada foi cancelado, apenas adiado, embora ainda não tenha uma data definida. A mãe da debutante explica que caso seja necessário adiar para os 16 anos, o aniversário será festejado com um segundo tema, “15+1”. No momento, a preocupação era não deixar a data passar em branco. “Fizemos, sim, algo mais íntimo, compramos um bolinho só para nós aqui em casa e cantamos parabéns por videochamada com a família”, conta Juliana.

Viagem de aniversário

Comemorações tradicionais nem sempre são opções para quem quer algo mais marcante, como Nycolli Majevski de Souza, que mora na cidade de Lowell, Massachusetts, nos Estados Unidos. “Foi frustrante cancelar meu planos de viajar. Estava desde o ano passado planejando meu 30 anos, que seriam festejados em Nova Iorque, com meu esposo e um casal de amigos”, conta a brasileira. A viagem de comemoração estava prevista para 14 de março, dois dias após seu aniversário. A pandemia ainda era um assunto muito recente e, por Nycolli estar grávida, o marido achou melhor não prosseguir com a ideia de viajar.

Ela conta que, com cancelamento da viagem, perdeu reserva em hotéis e restaurantes, além de um ensaio fotográfico que já havia contratado. As expectativas eram grandes, pois, quando adolescente, não teve sua festa de debutante, tornando-se um sonho comemorar essa idade que considera tão importante. “Eu sei que o distanciamento foi necessário durante a pandemia, até porque Nova Iorque sofreu momentos de caos, mas confesso que fiquei muito triste. Ao menos as fotos consegui improvisar com meu marido”, relata.

Comemorando com amor e cuidado

Cátia Vargas, moradora de Esteio, no Rio Grande Sul, estava planejando uma festa em casa para o filho Guilherme, desde o início do ano. “Quando ele era pequeno, sempre fazíamos algo em casa. Como nos últimos anos sempre saímos, para os 24 anos queríamos uma festinha caseira”, relata. Com a chegada do novo coronavírus, a celebração não saiu conforme o planejado. A maioria dos amigos e parentes da família parabenizou Guilherme por meios digitais. As avós e uma tia mais próxima não puderam comparecer por fazerem parte do grupo de risco, mas Cátia organizou “marmitinhas” com fatias de torta, docinhos e salgadinhos para serem entregues a elas.

Além dos familiares, Cátia conta que duas amigas do filho não puderam estar presentes, pois também fazem parte do grupo de risco. Elas também foram agraciadas com os comes da festa através de delivery. Para isso, o carro da família foi decorado com balões e serviu como meio de entrega das comidinhas. Já que as convidadas não foram à festa, a festa foi até elas. “A comemoração do Guilherme não deixou de ter alegria, amor e carinho”, diz Cátia.

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