Dia Internacional da Família gera reflexões sociais
Brasil conta com três datas para celebrar a pluralidade das constituições familiares
O dia 15 de maio é datado como o Dia Internacional da Família, conforme a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), realizada em 1993. Criada com o intuito de divulgar a importância da constituição familiar na sociedade, a data celebra as uniões plurais, sendo todas legítimas e necessárias.
De acordo com o último levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), realizado em 2015, 40% dos lares brasileiros têm a figura feminina à frente da família. No mesmo ano, o Ipea também constatou que 83,8% das crianças menores de 4 anos estão sob a responsabilidade de uma mulher. Davi e Vinícius Barbosa Silva, 3, não estão apenas sob a tutela de uma, mas de duas mulheres. Duas mães.
Gêmeos, os meninos são filhos da professora Aline Cristine da Silva, 41, e da psicóloga Paola Vargas Barbosa, 39, residentes em Esteio. Os irmãos foram gerados por Aline através de procedimento de fertilização in vitro. “A princípio, cada uma de nós passaria por uma gestação, porque queríamos dois filhos”, conta Aline. “Como vieram dois juntos, não vimos a necessidade de eu engravidar também”, completa Paola.
Segundo o casal, Davi e Vinícius frequentam a escola municipal e participam dos eventos comemorativos à família. Além do dia 15 de maio, o calendário brasileiro prevê a Semana Nacional da Família, em agosto. Já o Ministério da Educação comemora a instituição familiar no dia 8 de dezembro. De acordo com Paola, “muitos pensam que o Dia da Família foi criado por famílias LGBTs, mas não. O dia é para todas, tanto para aquelas que têm pai e mãe, quanto para as famílias que têm uma estrutura diferente”, opina.
Por serem pequenos, Aline ressalta que Davi e Vinícius ainda não questionam a ausência paterna e a dupla presença materna. “Eles até comentam sobre o pai de um coleguinha ou outro, mas só. Um dia vamos ter que conversar sobre isso, mas, ao mesmo tempo, acho que quando chegarem na idade de questionar, ter duas mães será tão natural que estará tudo bem”, reflete.
Comunidade escolar não concorda com as datas
De acordo com a professora de educação infantil e graduanda em Pedagogia, Juliana Schuler, atuante em Canoas, muitos profissionais não concordam em manter todas as datas, visto que é mais um desejo dos pais do que das próprias crianças. “Muitos alunos não são contemplados na hora de fazer a tarefa, especialmente no Dia dos Pais, pois a figura paterna muitas vezes é desconhecida. Em compensação, a materna existe, uma vez que alguém da família sempre irá cumprir o papel”, analisa.
Para a profissional, é rara uma turma em que todos os jovens têm pai e mãe morando juntos na mesma residência. Ela relata que nesse ano, por exemplo, no Dia das Mães, comemorado em 12 de maio, seus alunos produziram uma lembrança, mas não exatamente para a mãe, mas sim, para a pessoa que cuida e oferece carinho a eles. Avós, pais e irmãos, além de algumas mães, foram os destinatários. “Escolhemos centrar essa escolha na realidade delas porque acreditamos que o calendário pedagógico não deve ser influenciado pelas datas externas, pois, muitas vezes, nem fazem sentido para as crianças”, defende.
A psicóloga Anelise Feistter vê que a sociedade não deve confundir “o lidar com diferenças com eliminar as diferenças”. Ela explica que ensinar o jovem a manejar situações difíceis é uma forma de cuidado e amor. “Em datas específicas, como o Dia das Mães ou dos Pais, os cuidadores e a comunidade escolar têm a oportunidade de trabalharem de forma objetiva a realidade de cada criança. As diferentes configurações em si não asseguram afeto e segurança, mas são meios dela desenvolver vínculos, valores, base emocional e trabalhar o lado psicossocial”, explica.
A profissional acredita que, independente de quem ocupe os papéis, a atenção concedida, o amor desmedido e o comprometimento com o futuro servirão de suporte para garantir autonomia, empatia, autoconfiança e senso de pertencimento ao mundo.