Diagnóstico precoce aumenta as chances de cura do câncer de próstata e de testículo

Campanhas de conscientização, como o Novembro Azul, são fundamentais para alertar sobre a questão, diz especialista

Émerson Santos
Redação Beta
5 min readNov 3, 2020

--

Novembro Azul busca conscientizar sobre a importância do diagnóstico precoce no tratamento do câncer de próstata. (Foto: Shutterstock/Divulgação)

D e acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), há estimativa de que 65.840 novos casos de câncer de próstata sejam diagnosticados no Brasil em 2020. Foram 15.576 óbitos registrados pela doença em 2018 no país, segundo estatísticas do instituto. O número é alto, ainda mais tratando-se de uma enfermidade em que as chances de cura aumentam a partir do diagnóstico precoce.

“Excetuando-se os tumores de pele não melanoma, é o tumor maligno mais comum no homem e a segunda causa de morte relacionada a tumores malignos”, afirma o urologista Marlon Fiorentini, que é graduado em Medicina pela UFRGS e detém título de especialista pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).

“Muitos homens não procuram atendimento médico por vergonha, medo e mesmo por descuido com sua própria saúde”, observa Fiorentini. A partir disso, ele revela que a maioria das consultas dos homens são agendadas por mulheres e entende que o tabu relacionado ao diagnóstico do câncer de próstata não está associado apenas ao exame de toque.

A próstata é uma glândula que só o homem possui, produz parte do sêmen e se localiza na parte baixa do abdômen. Segundo o Inca, o câncer de próstata é considerado um câncer da terceira idade, já que cerca de 75% dos casos ocorrem a partir dos 65 anos.

O instituto também afirma que houve um aumento observado no número de novos casos nos últimos anos, o que pode ser parcialmente justificado pela evolução dos métodos diagnósticos, pela melhoria na qualidade dos sistemas de informação do país e pelo aumento na expectativa de vida.

O urologista é o profissional responsável pelo diagnóstico e tratamento do câncer de próstata. (Foto: Arquivo pessoal/Marlon Fiorentini)

O urologista Fiorentini afirma que a SBU recomenda que os homens a partir de 50 anos realizem uma avaliação urológica. “Esse rastreamento tem por objetivo o diagnóstico precoce e, com isso, o tratamento da doença em estágios mais iniciais e com maiores chances de cura”, revela. Ele também afirma que os métodos e a periodicidade dos exames são avaliados a partir da situação de cada paciente.

Rogério Samuel da Silva, 47 anos, é outro que entende a importância dos exames periódicos. Mesmo tendo menos de 50 anos, ele já faz os exames de diagnóstico regularmente, conforme orientação do seu médico. “Ainda não precisei fazer o exame de toque, mas faço todo o ano o exame de sangue”, explica.

“Cerca de 20% dos casos de câncer de próstata já apresentam estágios avançados da doença no momento diagnóstico”, lamenta Fiorentini, que reitera a importância do diagnóstico precoce na análise de risco de cada paciente, o que possibilita estratégias terapêuticas individualizadas. O urologista aponta que o tratamento da doença pode envolver a vigilância ativa, quando há o acompanhamento a partir de avaliações e exames regulares, cirurgia e radioterapia.

“Para casos de alto risco pode-se associar à radioterapia o tratamento hormonal, o bloqueio de hormônios sexuais masculinos. Já os pacientes portadores de doença avançada e com metástases frequentemente necessitam de uma combinação de tratamentos que podem envolver hormioterapia, quimioterapia, imunoterapia, além de outras modalidades terapêuticas”, completa.

Nesse contexto, Fiorentini exalta as campanhas de conscientização, como o Novembro Azul.

“Essas campanhas visam estimular os homens a cuidarem melhor da saúde. E cuidar da saúde envolve mais do que apenas conscientizar sobre o câncer de próstata, mas também ter atenção com cuidados preventivos como consultas médicas regulares, prática de atividades físicas, cuidados com dieta e a suspensão do tabagismo”, finaliza Fiorentini.

Câncer de testículo

O Novembro Azul, entretanto, não busca conscientizar apenas a respeito da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata. A campanha aborda as doenças masculinas, e entre elas está o câncer de testículo. Foi contra esse tipo de câncer que Julieber Soares Conceição, de 35 anos, lutou e venceu, muito graças ao diagnóstico da doença em estágio inicial. “Descobri cedo que estava com câncer de testículo, e ainda assim perdi um testículo e um rim. Mas ganhei minha vida de novo. Foi difícil, mas estou aqui, graças ao diagnóstico precoce”, testemunha.

Julieber conta que foi ao médico quando surgiram as primeiras dores musculares na região abdominal. O médico suspeitou que fossem pedras nos rins e pediu uma ecografia total do abdômen. “Então, na eco apareceram metástases (células cancerosas fora da região do câncer primário) em torno do meu rim esquerdo. Logo o médico diagnosticou que era devido a um tumor no meu testículo esquerdo”, revela.

“Esse momento foi bem complicado, um ano de tratamento, em que vivi com reações da quimioterapia e das duas cirurgias (do testículo e do rim). Minha filha tinha apenas três anos, e eu perdi 25 quilos na época”, relembra Julieber. O momento mais difícil, entretanto, foi superado. O homem conta que, após a retirada do rim, exames de sangue e de imagem mostraram que ele estava curado. Ainda assim, foi preciso acompanhamento médico durante cinco anos. “A cada vez que fazia os exames, sentia ansiedade e medo do câncer ter voltado, mas graças a Deus isso não aconteceu. Após cinco anos, recebi alta”, comemora.

Julieber venceu o câncer de testículo e foi pai depois disso. (Foto: Arquivo pessoal)

Julieber conta que, após a vitória contra o câncer, a família cresceu ainda mais. Hoje ele é pai do pequeno Rafael, de dois anos. “Eu diria que estou vivo graças ao diagnóstico precoce e por ter deixado a vergonha de ir ao médico de lado”, finaliza.

O urologista Fiorentini também reitera a importância do diagnóstico precoce no tratamento do câncer de testículo. “Apesar de raro, é um tumor muito agressivo”, destaca. De acordo com o Inca, 395 homens morreram pela causa no país em 2018. Fiorentini informa que o diagnóstico desse tipo de câncer é suspeitado pela palpação de um nódulo testicular. “O diagnóstico definitivo é feito por meio da análise do testículo após sua remoção em um procedimento denominado orquiectomia radical”, esclarece.

Por fim, o urologista faz um alerta aos homens: “Muitas doenças podem ser prevenidas e outras podem ser curadas se diagnosticadas precocemente. A vida pode não te dar uma segunda chance”.

--

--