Dilema do hospital de Estância Velha chega ao fim

Escolhido pelo Estado, Hospital Centenário, de São Leopoldo, passa a realizar os partos da região

Stephany Foscarini
Redação Beta
7 min readNov 12, 2019

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Lianna Kelly Kunst e Stephany Foscarini

Fachada do HMGV, que atualmente realiza apenas partos de emergência (Foto: Stephany Foscarini/Beta Redação)

Desde o dia 1° de novembro, gestantes de Estância Velha, Lindolfo Collor, Ivoti, São José do Hortêncio e Presidente Lucena passaram a realizar os trabalhos de partos no Hospital Centenário, em São Leopoldo.

Entre os dias 1 e 12 de novembro, o Hospital Centenário atendeu 17 internações de gestantes vindas dessas cinco cidades. Destas, uma gestante precisou ser reencaminhada para Novo Hamburgo e, outra, permanece internada em São Leopoldo.

Entre junho e setembro, depois que o Hospital Municipal Getúlio Vargas (HMGV), de Estância Velha, foi atingido por um curto-circuito, os trabalhos de parto na região foram, provisoriamente, transferidos para hospitais de Esteio e Sapucaia do Sul. A Beta Redação publicou, à época, matéria que revelou a situação do hospital, no qual eram realizados apenas partos de emergência.

Estrutura do Hospital Centenário

Nos 12 primeiros dias de novembro, 15 partos, das cinco cidades recebidas, foram realizados no Hospital Centenário (Foto: Assessoria de imprensa/Centenário)

Conforme a assessoria de imprensa do Centenário, a maternidade do hospital possui 22 leitos para internação, sala de acolhimento, sala de espera e posto de enfermagem. As gestantes encaminhadas ao hospital dão entrada na maternidade e no centro obstétrico, onde passam pelo acolhimento. O hospital, ainda segundo a assessoria, tem capacidade física e profissionais qualificados para atender à demanda solicitada pela Secretaria Estadual da Saúde.

Para mostrar as instalações e garantir a tranquilidade das gestantes, na última quinta-feira de todos os meses, às 14h, ocorre uma visita guiada ao hospital. O projeto Acolher Gestante, promovido pelo município de São Leopoldo desde 2017, agora conta com o apoio da Secretaria Municipal da Saúde de Estância Velha, que disponibiliza transporte às gestantes. Vale lembrar que é gratuito e não necessita inscrição.

Além da visita, a enfermeira coordenadora da maternidade e do centro obstétrico, Simone de Souza, explica às gestantes sobre a importância do exame de pré-natal, de uma dieta adequada e de outros cuidados com a mãe. Simone ainda tira dúvidas sobre a hora certa de ir para a maternidade, além de explicar as diferenças entre parto normal e cesárea. A importância da amamentação e as normas e rotinas da unidade também são explicadas durante a visita, que procura garantir às gestantes mais preparo para o momento do parto.

Estrutura da maternidade do Centenário disponibiliza 22 leitos (Fotos: Assessoria de imprensa/Centenário)

Samanta Goetz, 23 anos, participou da primeira visita realizada ao Hospital Centenário, no dia 31 de outubro. “O bom é que, toda última quinta-feira do mês, esse passeio se repete. As gestantes aguardam pelo transporte da prefeitura na unidade de saúde do seu bairro, que as leva e traz assim que a visita acaba. Junto com as gestantes vão enfermeiras e a equipe responsável pela área da saúde”, explica.

Grávida de 33 semanas, Samanta Goetz está com o parto agendado para o dia 28 de dezembro (Foto: Arquivo Pessoal)

Conforme Samanta, que tem o parto marcado para o dia 28 de dezembro, o objetivo é que cada gestante possa ver com seus próprios olhos como será um pouco da sua experiência em um local “desconhecido” e tirar suas dúvidas para evitar desconfortos. Quando soube que o parto ocorreria no Centenário, Samanta ficou apreensiva, mas a visita serviu para tranquilizá-la. “O hospital tem uma variedade de recursos para fazer com que o parto aconteça de forma segura”, acredita.

No entanto, ela conta que se sentiria mais feliz se o parto ocorresse em Estância Velha. “É perto de casa e temos mais intimidade com o hospital. Sem contar a questão do transporte, que a prefeitura até disponibiliza”, ressalta. No ponto de vista de Samanta, o Centenário tem praticamente a mesma estrutura que o Hospital Getúlio Vargas, com “a vantagem de contar com a estrutura de uma UTI Neonatal”, afirma.

Como lembra a gestante, um curto-circuito afetou o sistema elétrico do hospital de Estância Velha, deixando a ala obstétrica sem infraestrutura para realizar os partos. Segundo a jovem, o hospital também não conta com um espaço especializado para a realização de partos normais, que é exigido por lei, apenas bloco cirúrgico destinado às cesarianas. “A prefeitura até está atrás de recursos para a construção de um centro de partos normais, mas o custo é muito alto e teria que ceder leitos do hospital para essa mudança, o que prejudicaria outros atendimentos”, explica.

Situação do Hospital Getúlio Vargas

De acordo com o diretor médico da Secretaria Municipal da Saúde (Semsa), Ricardo Siegle, o pré-natal nas unidades básicas de saúde, em Estância Velha, continua sendo realizado normalmente. O que mudou foi somente o local de realização do parto, já que o hospital da cidade não dispõe mais dos serviços de obstetrícia e anestesia. “A equipe da saúde estanciense já realizou visitas técnicas para conhecer o espaço em São Leopoldo e garantiu que está tudo adequado às gestantes”, destaca o diretor, que também atua como médico da família responsável pelo pré-natal e infectologista.

Durante o pré-natal, a orientação é de que, em situação de instabilidade, o Centenário seja procurado imediatamente, sem a necessidade da gestante consultar na casa de saúde de Estância Velha. Já em casos de emergência, a gestante deve procurar o HMGV, que continua dispondo de clínico e pediatra 24 horas. “É uma situação rara, mas pode acontecer. Temos equipe médica e kits preparados para a ocasião. Depois de estabilizada, a gestante é encaminhada ao Centenário para concluir o trabalho”, esclarece Ricardo Siegle. Para garantir o transporte até São Leopoldo, Estância Velha conta com ambulâncias disponíveis.

O médico afirma que as gestantes ainda se sentem apreensivas em relação ao acolhimento no Hospital Centenário. “Tento tranquilizá-las, pois tenho convicção que o Centenário fará um bom trabalho. Claro que o andar da carruagem vai mostrar se estou certo, mas o hospital tem ampla experiência no assunto e capacidade de receber um acréscimo de 45 partos por mês”, comenta Siegle.

Na opinião do médico, os pontos positivos dessa mudança são a estrutura e a economia. Estância Velha gastava, em média, R$ 320 mil com o hospital e o Estado ajudava com apenas R$ 48 mil. “Temos a ideia de voltar a realizar partos no município, mas será necessário uma reestruturação. Claro que na prática eu queria que os partos continuassem aqui, mas há uma questão maior do que eu preferir”, acrescenta.

Novo Hamburgo é o município mais próximo, e conforme Siegle, foi o primeiro a ser lembrado porque também passou por uma reforma recente no centro obstétrico. Porém, Novo Hamburgo pediu pelo menos 18 meses para se adequar às necessidades que a demanda exigiria. Como a situação precisava de uma decisão urgente, ficou a cargo de São Leopoldo.

Segundo a Secretaria da Saúde do Estado, a decisão de estabelecer o Hospital Centenário como referência de Estância Velha, Presidente Lucena, Lindolfo Collor, São José do Hortêncio e Ivoti foi pactuada pela Comissão Intergestores Regionais do Vale do Sinos. Isso quer dizer que é uma decisão consensual entre os municípios da região e o Estado.

A rede de atendimento a gestantes é constantemente qualificada pelo Estado para melhor atender o usuário do SUS, independentemente da região. Todas as mudanças buscam aprimorar a prestação do serviço com mais segurança às gestantes e seus familiares, sempre usando como referência instituições que apresentem as condições técnicas para prestar o atendimento.

Secretária da Saúde, Lenir Reichert, e o médico Ricardo Siegle (Foto: Stephany Foscarini/Beta Redação)

A secretária municipal da Saúde de Estância Velha, Lenir Reichert, reitera que o registro de nascimentos permanece ocorrendo no município. Os familiares recebem um documento do Hospital Centenário e podem realizar o registro em Estância Velha. “Não vamos ficar sem estancienses, pelo contrário, o registro poderá ser feito imediatamente. A naturalidade será na cidade de escolha dos pais: Estância Velha ou São Leopoldo”, pontua. “Vamos manter a esperança, pois toda mudança é pelo bem-estar das nossas pacientes”, conclui.

Mas afinal, você sabe qual a importância do pré-natal?

Acompanhe na íntegra a explicação do médico da família Ricardo Siegle.

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