Do judô ao ciclismo: uma vida no esporte

Paulo Wolf lutou nos tatames por quase 40 anos e hoje é um nome importante do ciclismo canoense

Karina Verona
Redação Beta
6 min readOct 30, 2018

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Depois de uma vida inteira ligada ao judô, Paulo Ricardo Wolf se encontrou também no ciclismo (Foto: Arquivo pessoal)

Existem coisas das quais gostamos e que só descobrimos na vida adulta. Outras vezes, é preciso até mesmo esperar a idade avançada chegar para entendermos o que realmente nos faz feliz. No entanto, tem gente que encontra a sua paixão — ou ao menos uma delas — logo cedo, na infância. Foi o que aconteceu com Paulo Ricardo Wolf, que se envolveu com o esporte aos 11 anos e nunca mais largou.

Wolf, como é conhecido, hoje com 60 anos, tem quase 50 de uma vida ligada ao esporte. Iniciou no judô aos 11 anos, sem nem saber muito bem do que se tratava. No final da adolescência, encontrou, por conta própria, um lugar para treinar e seguir praticando em Porto Alegre e em cidades próximas. Dos seus 19 aos 22, foi vinculado à Sogipa (Sociedade de Ginástica Porto Alegre) como sócio-atleta, ou seja, competia pelo clube e precisava conquistar títulos para se manter nessa posição.

Com 21 anos, casou-se e foi morar em Curitiba por conta do seu emprego de gerente de peças automotivas. Lá, logo nos primeiros dias em que chegou, procurou no Clube Curitibano, recomendado pelo professor de Porto Alegre, uma oportunidade de continuar treinando judô. Na época, Wolf já era faixa marrom, mas entrar para o clube não foi tão simples quanto imaginou que seria.

“Em Curitiba foi muito diferente. Aqui (no RS) as pessoas me conheciam, sabiam que eu conseguia uns títulos, lá não”. Por não ser conhecido, o que ouviu do professor, nascido no Japão, foi “clube lotado, clube não tem mais vaga”. Porém, o atleta não desistiu e, com um tempo de conversa, o professor acabou aceitando que Wolf começasse a treinar lá, com o intuito de descobrir qual era seu potencial.

Passados alguns meses, Wolf começou a conquistar seu espaço em Curitiba. Foi na cidade, inclusive, que conquistou sua faixa preta. “Nessa época eu tive que mostrar serviço. Lá o bicho pegava feio, feio mesmo”. E a história se repetiu em outras cidades que ele morou, como Joinville. “Posso dizer que fiz meu nome em Joinville, assim como em Curitiba. Lutei bastante, competia nos Jirgs (Jogos Intermunicipais do Rio Grande do Sul) e em campeonatos estaduais. Sempre vivi competindo”, completa.

Muitos anos depois, ele volta para Canoas e fica cerca de 8 meses desempregado. Após trabalhar grande parte da sua vida com peças de carros, caminhões e ônibus — e mais tarde com máquinas agrícolas — Wolf teve a ideia de abrir um negócio bem diferente do que ele estava acostumado: uma loja voltada para o ciclismo. No seu perfil do Instagram, brinca: “Aposentado do ramo automobilístico e agrícola. Hoje, bicicleta. Bem mais fácil”.

Há anos o ciclismo faz parte da vida pessoal e profissional de Wolf (Foto: Karina Verona)

Criada em 2002, a loja ganhou o nome de Bike Point e é descrita como um estabelecimento “de bens e serviços para bicicletas”. Localizada em Canoas, na Avenida Getúlio Vargas, n° 5215, é referência para os ciclistas da cidade. Wolf abriu a loja e cerca de 6 meses depois foi trabalhar em Vacaria, deixando a gestão do negócio nas mãos da atual esposa, Naia Escouto, 33, e de um funcionário. Naia conta que um dia, pela manhã, Wolf simplesmente disse que abriria uma loja de bicicletas. Ela relembra o que disse para o marido naquele momento: “Loja de bicicleta? Tu nem anda, nunca lidou com isso, eu muito menos!”.

Wolf morou em Vacaria, cidade que fica a 226 km de Canoas, durante 6 anos. Nesse período, conta que praticamente não teve contato com a loja. “O que ajudou muito a progredir é que eu não dependia do dinheiro da loja para sobreviver. Eu tinha meu salário, então todo lucro da loja era revertido lá mesmo”. Porém, essa novidade trouxe uma mudança drástica para a vida de Wolf. “Quando fui morar em Vacaria, uma cidadezinha pequena, não tinha judô. Encontrei uma academia que oferecia Jiu Jitsu, pratiquei por um tempo mas não curti muito”, afirma.

Desde então, ele não pratica judô e não vê chances de voltar. “Infelizmente, um atleta quando para, e com a idade pegando, fica ruim de voltar”, explica. “Já pensei em voltar, até porque, hoje em dia, existe a divisão de categorias por idade, não só por peso como antigamente. Mas hoje eu gosto de bicicleta, é o que eu curto”, comenta.

Essa paixão por bicicleta só surgiu quando ele voltou de Vacaria para Canoas. Foi nessa época que começou a pedalar e trouxe o ciclismo para sua vida pessoal e, de vez, para a profissional. “Eu não adotei a loja por causa do ciclismo, eu adotei a loja para ganhar dinheiro”, relata. Sua volta para a cidade teve tudo a ver com isso também. Naia conta que, depois de alguns anos, disse para ele voltar, pois acreditava que eles estavam deixando de ganhar dinheiro com o marido morando longe. “Ele voltou e começamos a nos empenhar mais na loja. Chegamos a abrir uma filial em Porto Alegre, mas fechamos pois estava muito difícil manter”, lamenta

Atualmente, o logista pedala vários dias por semana. Nas segundas e nas quartas-feiras com grupos organizados por ele mesmo, com saída em frente à Bike Point. Segunda-feira é considerado o dia do pedal lento e de menor distância, cerca de 35 km, enquanto quarta, com menos adeptos, exige mais dos ciclistas. Nos outros dias e nos finais da semana, Wolf tem a opção de participar de outro grupos.

Sempre que anda de bicicleta, ele utiliza um aplicativo chamado Strava, que tem a função de acompanhar, arquivar os treinos e registrar cada quilômetro percorrido. Tem uma meta de 400 km por mês, que às vezes é ultrapassada, outras, fica um pouco atrás do que gostaria. “Esse mês estou com 300 km e pouco, viu só? Bem atrás do mês passado, que fiz mais do que 500”, comemora.

O aplicativo permite a demarcação de percursos, chamados Kom. No momento em que um usuário cria um Kom, ele fica visível para todos que utilizam a plataforma. A partir daí, o aplicativo registra o tempo que cada um necessita para cumprir o percurso. Wolf se diverte e se estimula com essas competições existentes dentro das cidades.

Participar de competições é algo que motiva Wolf até hoje. “Eu sou bem competitivo. Acho que tu tens que treinar visualizando alguma coisa, para saber se tu és bom ou não. Eu sempre fui um atleta competidor, desde pequeno. Gostava de ganhar medalhas”, lembra. Hoje, ele procura desafios que o mantenha motivado a ser sempre melhor e o Strava é um grande auxílio nesse quesito.

Essa relação com o ciclismo está longe de ser somente pessoal. Wolf conta, com orgulho, que foi ele quem deu início ao ciclismo de grupo em Canoas. Gian Carlo Alovisi, 33, funcionário da loja desde o seu primeiro ano de existência e atual gerente, expressa muito carinho pelo chefe contando que ele “sempre foi um amante do esporte”. No ciclismo, viu um desafio, pessoal e coletivo. “Proporciona aos clientes da loja desafios em passeios de bicicleta pelas ruas da nossa cidade e até mesmo aventuras em trilhas e estradas no meio do mato” conta.

Registro de um passeio em grupo realizado em Santa Catarina (Foto: Arquivo pessoal)

Wolf enxerga o esporte como um mar de oportunidades. “Eu conheci o Brasil inteiro por causa do esporte, do judô”, conta. Para ele, o esporte é muito importante na formação de caráter do indivíduo, e demonstra isso ao dizer que, na sua opinião, “todo pai tem a obrigação de colocar o filho em algum esporte. Não interessa qual, tem que ver para qual a criança tem aptidão, do que ela gosta”. Pai de um menino, ele só aconselha não cometer o mesmo erro que ele. “Coloquei meu filho no judô porque era o que eu gostava. Devia ter deixado ele escolher”, aponta.

Seja em relação ao judô ou ao ciclismo, Wolf se empenhou e continua se esforçando para fazer um bom trabalho. “Ele é muito focado, muito trabalhador”, elogia sua esposa. “Wolf sempre foi um exemplo a todos, em todos os sentidos, mobilizando amigos e clientes a pedalar ou praticar qualquer esporte. Ele incentiva, dá força, mobiliza, organiza. É um dos fomentadores do ciclismo em Canoas” completa Gian Carlo.

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