Duplicação das pontes do Parque dos Anjos muda a rotina de gravataienses

Obra de 248 metros diminui o tempo dos moradores no trânsito

Arthur Menezes
Redação Beta
5 min readNov 13, 2019

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Com Thiago Greco

Após 12 dias da sua inauguração, a duplicação das pontes do bairro Parque dos Anjos apresentou resultados positivos e eliminou os congestionamentos no trecho. O resultado, ainda que insipiente, deixa a população otimista. Nessa perspectiva, a obra marca não só uma nova estrutura para a mobilidade urbana, mas um período de integração entre os diferentes pontos da cidade.

O morador de Gravataí se localiza na cidade de uma forma particular. Algo visto também em municípios como Cachoeirinha, Viamão e Alvorada, mas estranho aos moradores das demais cidades da Região Metropolitana. É muito comum que o gravataiense se refira ao lugar da cidade que pretende mencionar a partir da “parada” em que se encontra. As “paradas” fazem referência às paradas de ônibus, que são numeradas, o que dá uma pista de como a cidade se organiza ao longo da Avenida Dorival Cândido Luz de Oliveira, sua principal via.

Em Gravataí, porém, nem tudo gira em torno da “Dorival”, como chamam os moradores. É bem verdade que boa parte do fluxo de pessoas se dá entre a parada 59, na divisa com Cachoeirinha, onde começa a avenida, e o Centro de Gravataí, onde ela acaba. É como se os bairros que não estão conectados a esse trajeto fossem independentes, ou seja, fizessem parte de outras “Gravataís”. A falta de acesso aos pontos que não têm ligação pela via principal sempre foram conhecidos, com destaque para as pontes do Parque dos Anjos.

Inauguração das pontes reuniu a população em torno da obra (Foto: Thiago Greco/Beta Redação)

Se Gravataí está organizada, e intimamente ligada ao transporte público pelos números das paradas de ônibus, também faz sentido dizer que as linhas são marcas registradas das regiões da cidade. Qualquer um que pegue as linhas Norte ou Sul da empresa Sogil tem a total compreensão de que fará um tour pelo município. Do início ao fim da linha, a viagem pode levar até quatro horas.

Entram nesse bojo de linhas de ônibus com simbolismos especiais todas aquelas que têm de passar pelas pontes do Parque — que são assim conhecidas porque separam o Parque dos Anjos do Centro da cidade. Essa entrada no hall da fama dos “busões” ocorre porque há muito se sabe do verdadeiro problema que é cruzar esse trecho.

Antes de mão única, agora as pontes que passam sobre os arroios Demétrio e Passo dos Ferreiros ostentam vias duplas (Foto: Thiago Greco/Beta Redação)

“Tinha que acordar muito cedo. Perdia vários minutos no trânsito, mas, às vezes, a tranqueira era ainda pior. Era um estresse no início da jornada de trabalho”, comenta Maiki Douglas, 26 anos, funcionário da Prometeom — antiga Pirelli. Maiki relata o problema de atravessar para “o outro lado da cidade”, mas o atraso ficou no passado, já que se mudou para o lado de lá da ponte. Dessa forma, deixou de pegar o trânsito diário antes do trabalho, transferindo as irritações com o fluxo em funil para alguns eventuais finais de semana.

A solução encontrada pelo trabalhador representa o dilema das travessias pelo Parque nas últimas décadas. Um infortúnio digno de mudança de moradia e de vida. Mas essa realidade não é mais a mesma desde 1º de novembro, quando a pomposa inauguração da duplicação passou a permitir o tráfego de 45 mil carros por dia, segundo a Prefeitura. Isso representa um acréscimo de 5 mil carros em relação ao fluxo anterior, ou seja, 12,5% a mais.

Para a Prefeitura, os resultados iniciais são motivo de comemoração. Segundo o vereador Clebes Mendes (MDB), atual presidente da Câmara de Vereadores, “o governo considera esta a principal obra de infraestrutura da história da cidade”. Os primeiros dias de teste, por assim dizer, confirmam o ânimo: segundo a Prefeitura, não houve ainda qualquer incidência de congestionamento no local depois da inauguração. Levando em consideração o acréscimo de veículos que passam pelo local, o trânsito flui com mais qualidade não só neste ponto, mas em outros pelos quais os carros, antes, deviam fazer desvios.

A festa da atual gestão, porém, não contará com o pior momento de qualquer comemoração: pagar a conta. O investimento de R$ 6 milhões que vai pagar a obra de 248 metros, juntamente com a Rótula do Aldeião, foi conquistado por meio de um financiamento. Ou seja, a conta vai chegar nos próximos mandatos.

A obra, e seu respectivo financiamento, não são pontos isolados. Estão no contexto de uma reformulação da cidade que se iniciou na duplicação da Avenida Centenário e passou ainda pela revitalização da Avenida Adolfo Inácio de Barcelos. Somada a estas, as obras nas pontes e na rótula representam os R$ 20 milhões conseguidos juntos ao Banco do Brasil.

O morador do Parque dos Anjos, André Luiz Moraes, 21 anos, acredita que o investimento trará retorno para a localidade. “A duplicação traz, a longo prazo, benefícios. A urbanização crescerá no entorno e vai valorizar a região. Há muita indústria da ponte pra cá, então as pessoas vêm de todos os lugares e a obra impacta todo mundo”, destaca.

Para a felicidade do morador, e ainda ampliando suas expectativas, a Prefeitura municipalizou mais um trecho da ERS-030 e está trabalhando na duplicação das pistas até a entrada da antiga Pirelli. Este trecho deverá ficar totalmente concluído em março de 2020, segundo a Administração Municipal.

“Eu passo cerca de 4 a 6 vezes por dia nas pontes, por conta do trabalho ou demais questões. Vivencio o trânsito ali desde que nasci, até porque o Centro de Gravataí é referência para toda a cidade. A ponte sempre foi a única passagem. É uma mudança enorme. Antes, qualquer saída de casa precisava de programação, mas, agora, saio a hora que quiser e chego ao Centro em cinco minutos. Com as outras obras na região vai melhorar ainda mais”, define.

Euclides Ribeiro dos Santos, 73 anos, já havia perdido as esperanças na duplicação das pontes. “Eu vi esses congestionamentos começando lá nos anos 1980. Depois, pioraram nos 1990. E, então, chegaram a essa situação insustentável que a gente vivia. Agora, vai dar qualidade de vida para as pessoas que moram do lado de cá”, comemora o morador. Para o aposentado, os 10 meses que se passaram durante as obras foram de enorme expectativa, que agora se materializam em satisfação.

A passagem por sobre os arroios Demétrio e Passo dos Ferreiros deve ser menos penosa a partir de agora. Com o fluxo seguindo tranquilamente por sobre as águas, sem o clássico funil de outrora, talvez os bairros do Parque dos Anjos em diante deixem de ser o lado de lá das pontes. Sem as tranqueiras, as paradas depois do Centro talvez se tornem apenas mais algumas paradas.

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