E o destaque da noite vai para… a solidão!

Espetáculo aborda temática na perspectiva do compositor Renato Russo, ex-Legião Urbana

Érika Ferraz
Redação Beta
3 min readJun 22, 2018

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No pequeno palco do Teatro de Arena, em Porto Alegre, o artista independente Samuca Luna apresentou, na noite do último dia 30, o show “Cronovisor”, nome alusivo à lenda de uma máquina do tempo que poderia resgatar imagens e sons de acontecimentos do passado.

Samuca não tinha uma máquina do tempo, de fato, mas conseguiu resgatar memórias tão vivas do compositor e ex-líder da banda Legião Urbana, Renato Russo, que emocionou o público.

O tema da turnê foi “A História da Solidão”, narrada e contada a partir dos registros e das letras das músicas da autoria de Renato. E não poderia ser de outra forma que Samuca apresentaria, a não ser sozinho em palco, a história de um dos sentimentos mais temidos, e ao mesmo tempo, mais comum entre os mortais, que é a solidão.

Em sua narrativa, Samuca — em voz e violão — cantou canções de Renato, em que expressava o quanto se sentia sozinho. O “show-espetáculo” (expressão usada pelo artista sobre sua apresentação, pois mistura elementos do teatro e de um show) é carregado de psicologia e arte, e você se vê imerso nos pensamentos e sentimentos conflitantes que Renato tentava exprimir entre uma música e outra.

Canções com trechos como “o mal do século é a solidão” (Esperando Por Mim), “é complicado estar só, quem está sozinho que o diga, […] quando tudo é solidão” (Natália), “e dizem que a solidão até que me cai bem” (Maurício), “muitos temores nascem do cansaço e da solidão” (Há Tempos), entre outras músicas, fizeram parte do repertório pretensioso para refletir sobre tema.

Samuel Tenório Cavalcanti Luna passou, em 2015, a ser o artista Samuca Luna, através do projeto Cronovisor. Foto: Érika Ferraz/Beta Redação.

“Cronovisor — A história da Solidão” não atende as expectativas de quem procura um show para se divertir. Samuca propõe um momento de reflexão e emoção. Propositalmente, procura palcos pequenos para suas apresentações, para uma maior interação, comoção e aproximação com o público. Divide suas falas com projeções em um telão com citações de autores como Clarice Lispector e Carlos Drummond de Andrade. Em outros momentos, simplesmente, apresenta uma interpretação nova de alguma canção de Renato.

O projeto “Cronovisor” nasceu ao formar-se em Psicologia em 2010, em Pernambuco. Em sua monografia, Samuca tentava entender como os compositores transformavam dor emocional em música. O artista acumulou tanto material sobre o Renato Russo que viu a oportunidade de revelar suas conclusões a fãs que, mesmo após 22 anos de sua morte, ainda procuram entendê-lo e conhecê-lo.

Mas entender sentimentos nunca foi tarefa fácil. Quem dirá explicá-los. Em seu show, Samuca deixa em aberto o que se entende por solidão: se é um estado de espírito ou um sentimento passageiro, alertando para doenças como a depressão, a mesma na qual Renato tinha sido diagnosticado em vida.

O show encerrou com a música “Mais Uma Vez”, canção otimista de Renato sobre a vida e si próprio. Por mais que sua melancolia sobressaltasse em suas obras, Renato sempre quis instaurar sentimentos bons como esperança e amor. Solidão é apenas a consequência de momentos da vida em que enfrentamos o mundo sozinho. E tudo bem.

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