Eleitorado jovem cresce cerca de 47,2% em 2022

Nestas eleições, o Brasil contará com mais de 2 milhões de novos eleitores entre 16 e 18 anos

Mayana Serafini
Redação Beta
5 min readOct 6, 2022

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No início deste ano, diversas campanhas de incentivo ao alistamento eleitoral de jovens foram realizadas nas redes sociais. (Foto: LR Moreira/Secom/TSE)

As eleições deste ano, segundo dados divulgados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), contarão com 2.042.817 novos eleitores entre 16 e 18 anos. Esse total representa um aumento de 47,2% em relação ao período de janeiro a abril alcançado em 2018 e de 57,4% no que se refere ao mesmo período em 2014. Tais números são um reflexo de diversas mobilizações de incentivo realizadas pelo próprio TSE, os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs), influenciadores digitais e pela sociedade civil.

No Vale do Sinos, o movimento Frente Moradia, Pão e Trabalho realizou uma mobilização para conscientizar a população da região sobre a importância do voto, além de auxiliar no alistamento e regularização do título eleitoral. Um dos integrantes do movimento, Maicon Luiz Gama, educador social no bairro Campina, em São Leopoldo, relata que a campanha inicialmente foi lançada através das redes sociais. “A partir disso, começou a vir a procura das pessoas, muitos pais querendo regularizar os adolescentes, muita gente que veio até de outros estados querendo regularizar o título da família inteira e dos jovens”, enfatiza.

Por atuar como educador, Maicon conta que foi procurado por diversos jovens em busca de informações sobre o alistamento eleitoral. O movimento disponibilizou transporte para aqueles que precisavam ir até a Justiça Eleitoral efetuar a regularização e, para os casos em que o deslocamento não foi necessário, o educador os instruiu durante o processo de alistamento no formato on-line. “A campanha em nível nacional, realizada nas redes sociais pelos artistas, influenciou muitos jovens, mas aquilo ali por si não satisfazia. Eles precisavam de alguém próximo para dar aquele último incentivo”, alega Maicon, que estima que cerca de 100 pessoas dessa faixa etária foram auxiliadas pela campanha.

Para Eduardo Pereira, de 16 anos, as eleições deste ano serão as primeiras. Ao ser questionado quanto às motivações que o levaram a solicitar o título de eleitor, mesmo não sendo obrigatório para a sua idade, o adolescente responde: “O motivo de eu ter tirado meu título de eleitor foi a vontade de votar pela primeira vez, o mais cedo possível. A decisão de tirar o título foi por opção e desejo meu”. Eduardo ainda revela que, em seu grupo de amigos, grande parte solicitou o título eleitoral e, em sua visão, há um maior interesse dos jovens por questões políticas.

Em 2022, houve um crescimento de 51% no eleitorado de jovens entre 16 e 17 anos, em comparação a 2018. (Foto: TSE/Divulgação)

O voto para pessoas entre 16 e 17 anos é facultativo, no entanto houve um significativo crescimento pelo alistamento eleitoral entre os jovens dessa faixa etária. Segundo dados consultados na página de Estatística do Portal do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), entre 2018 e 2022, ocorreu um crescimento de mais de 51% no eleitorado facultativo jovem.

Felipe Silva Milanezi, doutorando em Ciência Política do PPGCP-UFRGS, destaca que as campanhas promovidas nas redes sociais para conscientização sobre a importância do voto podem ter gerado um impacto positivo nesses números. Contudo, mesmo com o crescimento significativo de eleitores jovens, o pesquisador aponta que, conforme dados de pesquisas realizadas pelo Núcleo de Pesquisa sobre a América Latina (Nupesal) com jovens do Sul do Brasil, não há indícios de que haja uma mudança significativa no interesse por política, ou em uma maior compreensão acerca da política, ao longo dos anos, por esse grupo. “Não temos elementos que mostrem de forma determinante o porquê deste fenômeno, mas tendo a acreditar que as redes sociais amplificam as vozes mais contundentes e que isso pode gerar uma impressão contrária ao que mostram os números”, enfatiza Felipe.

Para o cientista político Marcelo Kunrath, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do Grupo de Pesquisa Associativismo, Contestação e Engajamento (GPACE), o aumento significativo do alistamento eleitoral dos eleitores de 16 a 18 anos expressa um movimento de politização geral da sociedade. Kunrath destaca que, atualmente, pessoas que não tinham uma militância crescentemente têm se envolvido em processos políticos devido à alta polarização que o país enfrenta. Contudo, ao analisar a juventude, o cientista também destaca as mobilizações digitais promovidas por grandes influências artísticas, que desenvolveram campanhas específicas voltadas para mobilizar esse setor na participação eleitoral. Nesse contexto, Kunrath ressalta a importância das redes sociais para alcançar o público jovem. “Hoje todos somos constantemente mobilizados para se envolver em temas políticos. Recebemos denúncias, recebemos chamamentos, recebemos convocações para participar politicamente, e isso acaba impactando principalmente a juventude que já nasceu nesse contexto de digitalização da vida.”

Além do fácil alcance ao jovens através da internet, o professor destaca o desmantelamento de várias políticas públicas, das quais a juventude era um público-alvo, como um forte estímulo para o envolvimento político desse setor no processo eleitoral. Tal engajamento pode influenciar diretamente no resultado da eleição. “Uma candidatura como a do Bolsonaro precisa sustentar uma base política fortemente conservadora. Ao mesmo tempo, esse conservadorismo tende a gerar um afastamento do eleitorado juvenil, que costuma a ser um eleitorado menos mobilizado por um discurso conservador. Então parece que a juventude vai ter, de acordo com as pesquisas de opinião, um papel muito importante na definição do resultado das eleições”, destaca Kunrath no que se refere à eleição presidencial.

Ao longo dos anos, a juventude protagonizou importantes movimentos na história política brasileira, como ocorreu durante a ditadura militar, nos anos 60 e 70, e as manifestações que aconteceram durante o processo do impeachment do presidente Fernando Collor, em 1992. Nesse aspecto, Kunrath enfatiza a heterogeneidade da juventude, que possui setores com diversos níveis de engajamento político, o que torna difícil a comparação da politização dos jovens atuais com movimentos passados. “É preciso ter cuidado nessa ideia de que hoje os jovens são mais politizados ou menos politizados, são conscientes ou são alienados, porque estamos lidando com o segmento social muito diverso, qualquer tentativa de tratar de uma forma unificada acaba gerando uma interpretação equivocada”, finaliza.

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