Eleitores refletem sobre influência da religião no voto

Beta Redação acompanhou a votação em Farroupilha e ouviu cristãos sobre a relação entre fé e política

João Teixeira
Redação Beta
3 min readOct 30, 2022

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Igreja Nossa Senhora da Salete encontra-se ao lado do principal local de votação da comunidade da Salete em Farroupilha (Foto: João Teixeira/Beta Redação)

O segundo turno das eleições de 2022 foi movimentado por diversos atos e comícios a fim da conquista de votos dos eleitores. Durante o período de quase 30 dias que separou o primeiro turno do segundo, os candidatos à presidência da República investiram em diversas pautas — inclusive a religiosa — para conquistar os indecisos e impulsionar as candidaturas às vésperas da votação.

Em Farroupilha, na serra gaúcha, a Beta Redação conversou com fiéis católicos e evangélicos a fim de entender a importância da religião na decisão de cada um para o pleito eleitoral. A advogada católica Giane Marrone, 56 anos, afirma que a igreja tem como função política em uma sociedade engajar e valorizar os direitos individuais de cada cidadão. De acordo com a advogada, trabalhar para o bem comum é um dever de todo cristão.

“A política é uma caridade, fiéis devem pensar assim, pois promove o bem comum”, aponta Giane.

Ela reforça que o envolvimento cristão é extremamente necessário na política — seja a política no seu bairro, cidade, estado ou país. Questionada sobre o voto religioso, ela demonstra insatisfação com as declarações e apelações feitas na televisão por parte dos candidatos a presidente.

Giane enfatiza que a moral cristã não deve ser enfraquecida por parte do povo. “Deve-se defender o país e votar com consciência e segundo os princípios morais”, opina.

Também cristã, a estudante de direito Camila Casanova, 21 anos, acredita que a religião e a política andam lado a lado desde as eleições de 2018, quando o atual presidente produziu sua campanha sob um discurso que citava recorrentemente a religião. De acordo com a jovem, muitos eleitores levam em conta a proximidade entre os tópicos para tomar sua decisão, porque se identificam.

Camila relembra que, apesar de a Constituição brasileira prever liberdade e proteção a todas as manifestações religiosas, muitas pessoas não percebem que um líder que sempre reverencia uma religião específica, sob postura de imposição, vai contra o princípio de liberdade. Camila ainda pontua a repercussão do apoio direto manifestado por líderes influentes dentro de instituições religiosas, o que também induz fiéis ou quem tem esses líderes como referências.

“Devemos saber que, por viver em um país laico, onde, como sociedade, não pertencemos ou estamos sujeitos a nenhuma religião determinada, não podemos ser influenciados por elas”, ressalta a jovem.

Por fim, Camila reitera que a religião está ligada à política. Convicta, ela declara que essa distinção entre os dois campos irá refletir no segundo turno. Camila ainda avalia que, ao mesmo tempo que muitos votam em um candidato pelo discurso sobre a família tradicional brasileira e a religião cristã, uma parcela da população sente medo, justamente por não se encaixar nesse grupo, o que também deve ser comprovado pelas urnas.

Aos 26 anos, o empresário evangélico Alexandre Ferronato concorda com a separação entre religião e política. De acordo com ele, a laicidade do Estado brasileiro garantida pela Constituição deve permitir que o governo acolha as diferentes crenças ou ausência delas.

“O governante tem que ter braços para todas as religiões”, declara Alexandre.

O empresário ainda critica a situação do assunto na atual conjuntura brasileira, devido ao uso da fé das pessoas para fazer política, contrariando princípios expostos na Constituição brasileira.

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