Em 12 meses, inflação sobre serviço de streaming acumula 13,29%

O índice, somado ao aumento no preço da cesta básica, tem colaborado para o cancelamento de assinaturas

Patrícia Wisnieski
Redação Beta
4 min readOct 6, 2022

--

Para assinar 11 plataformas disponíveis no Brasil é preciso desembolsar em média R$268 por mês. (Foto: Glenn Carstens-Peters/Unsplash)

Assim como os demais produtos consumidos no Brasil, o preço dos serviços de streaming foi afetado com o aumento da inflação. Entre janeiro e agosto de 2022, a alta foi de 8,08% e, no período de 12 meses, a variação chegou a 13,29%, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Somado ao custo de produtos essenciais, como os alimentos, muitas pessoas não têm encontrado outra opção a não ser cancelar as assinaturas.

Uma delas é Gabriele Soares, 22 anos. A estudante de jornalismo diz que, com o aumento no preço de plataformas como a Netflix e o Amazon Prime Video, teve que cancelar os planos e passou a usar assinaturas de amigos. “Para não deixar de consumir filmes e séries, a melhor opção que tive foi usar a Netflix emprestada por um amigo. Isso tem feito muita diferença lá em casa”, destaca.

A jovem conta que reside com a mãe e o salário das duas não tem sido suficiente para sustentar as assinaturas. “Em 2021, quando a Netflix passou a custar 56 reais mensais, tentamos adaptar. Mas, nos últimos meses, com o preço da comida tão alto, não tivemos como manter. Todo valor faz diferença, não tem como pagar esse preço pelo entretenimento com os alimentos custando tão caro”, comenta Gabriele.

A situação da estudante não é isolada. De acordo com a pesquisa “Streaming 2022”, realizada pela empresa especializada em monitoramento de mercado e consumo Hibou, 71% dos brasileiros afirmam assinar ou já ter assinado algum serviço. Destes, 52% dizem ter cancelado as assinaturas em algum momento. O motivo apresentado por 24% dos entrevistados é a alta nos preços.

A reportagem calculou o preço de 11 serviços de streaming oferecidos no país e chegou ao valor de R$268 por mês. Isso representa 22,1% do salário mínimo, hoje em torno de R$1.212. Ao mesmo tempo, com a inflação sobre os alimentos, o custo da cesta básica chega a R$748,06 em Porto Alegre. Conforme a pesquisa mensal de preços realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), esse valor representa 66,73% do salário mínimo.

O relatório de agosto de 2022 do DIEESE estima que, com a alta na inflação, um brasileiro precisaria de R$6.298,91 mensais para dar conta de todas as suas necessidades. O documento leva em consideração que a constituição brasileira determina que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e de sua família com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência.

Aumento no preço também é resultado da variedade de serviços

Hoje em dia, há diversas plataformas de streaming disponíveis, com preços que vão de R$9,90 a R$55,90. Conforme a tabela de preços de cada serviço, em 2019, para assinar Netflix, Amazon Prime Video e Globoplay era preciso um investimento de R$77,70 por mês. Em comparação com 2022, a assinatura dos três streamings chega a R$95,70, representando um aumento de 23,2% no período.

Além da alta da inflação, durante a pandemia de Covid-19 diversas plataformas surgiram, como o HBO Max, Disney +, o que tornou o mercado mais competitivo e incentivou o aumento nos preços.

A tabela apresenta a comparação entre os preços de 11 serviços disponíveis no Brasil (Imagem: Patrícia Wisnieski/Beta Redação)

Virou conta fixa

Para quem não cancelou as plataformas de streaming, os serviços viraram conta fixa dentro do orçamento. É o caso de Laura Santos, assistente de processos de uma instituição financeira. A jovem de 24 anos diz que não precisou escolher entre as assinaturas, pois elas fazem parte do orçamento mensal. “Como o valor vai direto pro cartão de crédito, a gente nem vê e acaba sendo um gasto fixo”, expõe.

Ela mantém assinatura de oito plataformas disponíveis e percebe que o investimento se aproxima de R$300 por mês. “O valor é alto e, obviamente, para dar conta de tudo, eu acabo escolhendo mais o que comprar no mercado. Não percebo que deixo de comprar alguma coisa por conta disso, mas como faz parte das contas do mês acho que naturalmente tenho que economizar no resto para pagar tudo”, expressa.

Laura conta que optou pelas plataformas de streaming quando o preço da TV por assinatura ficou muito alto. “Antes nós tínhamos TV por assinatura, mas o preço ficou muito alto para o que era oferecido. A gente viu que valia mais a pena manter as plataformas de streaming pela quantidade de conteúdo que passamos a ter acesso”, conclui.

--

--