A partir de junho, pagamento mínimo do cartão de crédito será restrito
Dívida com as operadoras representam 76,1% da inadimplência no país
Segundo dados da última Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), a taxa de famílias endividadas no Brasil atingiu o índice mais baixo dos últimos dez meses. O índice fechou o mês de abril em 60,2%, mesmo valor de julho de 2017. Foi a quinta queda consecutiva da taxa, que em dezembro de 2017 alcançou 62,2%.
Principal fonte de dívidas dos brasileiros, as pendências com cartão de crédito também caíram. Em abril, elas representavam 76,1% das dívidas dos brasileiros, menor número em três anos.
O descontrole aumenta com as altas taxas do cartão de crédito. Realidade vivida por Bruna Alpert. A analista de sistemas optou por pagar a mínima alguns meses, não avaliando os juros embutidos. “Eu não tinha a real noção do buraco que eu estava me enfiando, quando vi, minha fatura estava em 5 mil, e eu recebia metade disso de salário”, conta.
Para quitar o débito, Bruna precisou renegociar com o banco o parcelamento da conta. Durante esse período, ela deixou de fazer pagamentos no crédito, até que sua fatura estivesse totalmente paga. E após quitar o que devia, optou por usar o cartão só quando não há outra opção de pagamento, como compras online, por exemplo. “Depois do susto que eu tive e da dificuldade que passei pagando, hoje eu só utilizo crédito em emergências”, garante Bruna.
Para o economista Andrei da Rocha, o cartão de crédito segue sendo o principal culpado da inadimplência dos brasileiros por que muitos ainda não aprenderam a usá-lo corretamente. Segundo ele, as pessoas utilizam o crédito como forma de financiar compras e não atentam para os juros abusivos, que podem chegar na casa de 334,5% ao ano, segundo o Banco Central.
Especialista em finanças pessoais, o economista diz que o número de endividados caiu no último mês, principalmente, por conta da crise econômica. Para ele, muitas pessoas que mantiveram seus empregos nesse período acabaram cortando gastos e pagando dívidas pelo receio de uma demissão. “O medo de não ter mais emprego de uma para outra fez com que as pessoas repensassem seus gastos e evitassem contrair dívidas”, explica Rocha.
Mudanças à vista
A partir de 1º de junho, entrará em vigor no país uma norma aprovada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) que restringe o uso do crédito rotativo. O intuito é tornar o cartão mais fácil de ser utilizado e evitar que os clientes contraiam dívidas como a de Bruna. O pagamento mínimo da fatura, que antes era fixado em 15% do valor total, agora passa a ser limitado a uma única vez.
Pelo modelo atual, o cliente que paga o valor mínimo em uma fatura, recebe, no mês seguinte, junto às compras mensais, o que restou do exercício anterior e mais os juros. A partir de junho, o mínimo só poderá ser pago uma única vez. Na fatura seguinte, o banco será obrigado oferecer ajuda para o devedor, por meio de uma linha de crédito, para que ele possa parcelar a dívida, evitando assim, o acúmulo.
Para o economista, essa medida irá beneficiar o usuário do cartão de crédito, que não poderá mais ficar “empurrando a dívida com a barriga”, até ela se tornar insustentável. “Ele será obrigado a negociar com o banco já no segundo mês e o mesmo deverá viabilizar uma forma de pagamento que a pessoa consiga se comprometer. Isso é ótimo para todos: para o cliente que não contrairá dívidas absurdas, e para o banco, que receberá o que deve em um prazo menor”, indica Rocha.