CRÍTICA: Emmy e o manual para fazer uma premiação a distância

Premiação teve piadas, discursos e recorde em indicações de negros

Caren Rodrigues
Redação Beta
4 min readSep 25, 2020

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Prêmio contou com videoconferência com todos indicados (Imagem: Invision/AP)

O Emmy Awards, conhecido como “Oscar da televisão”, realizou no último domingo (20/9) sua 72ª edição. Muito pouco se sabia sobre como a cerimônia seria realizada e quais seriam as atrações diante da necessidade de algo remoto devido à pandemia da Covid-19. A pouca informação, porém, trouxe curiosidade e expectativa que poderiam ser quebradas caso o conteúdo não correspondesse a elas. Entretanto, foi surpreendente.

Ao contrário de prêmios anteriores que buscaram fazer uma cópia a distância da cerimônia que seria feita normalmente, o Emmy decidiu abraçar e usar toda criatividade diante dos recursos que dispunha. Logo na entrada do apresentador Jimmy Kimmel, ele falava diante de um teatro com imagens mescladas, dando a impressão que o local estava lotado com os artistas. Em seguida, ele revelou que, na verdade, o teatro estava vazio. Então tudo ficou silencioso e a câmera se abriu para mostrar algumas figuras em papelão na cadeira.

Essa foi a primeira parte das decisões acertadas da equipe organizadora. Quando o apresentador saiu do palco, fugindo de fundos verdes que tentam disfarçar a fala solitária do host, entrou numa sala repleta de televisores onde todos os indicados se encontravam conectados por videoconferência. Eram mais de 100 câmeras conectadas ao mesmo tempo e podia-se ver todos em suas casas ou quartos de hotel, no seu país e do seu jeito, assim como estamos vivendo.

O abraço feito pelos organizadores, mostrado pelas suas decisões, diminuiu o brilho de outros prêmios que se esforçaram para passar uma normalidade diante de uma situação que foge disso. O Emmy aceitou o “fora do normal” e tornou isso ao seu favor. Aliás, Jimmy Kimmel tratou sobre a crítica de se produzir um prêmio em meio a uma pandemia mundial e a real necessidade disso. Ele admitiu que pode ser algo fútil e menor diante de outras questões, mas nesses tempos difíceis, com as pessoas em casa, a televisão se mostrou não só uma distração, mas uma necessidade para se fugir da realidade.

Em diversos momentos todo o estranhamento causado pelo epidemia foi tratado de uma forma leve e engraçada, como Jimmy e a atriz Jenifer Aniston colocando fogo no envelope com o vencedor para “esterilizar”. Os prêmios recebidos em casa, entregues pessoalmente, foram feitos por um contrarregra vestindo uma roupa isolante personalizada em forma de smoking.

Diversos profissionais essenciais foram chamados para anunciarem categorias (Imagem: Invision/AP)

Outra prática adotada foi a valorização de profissionais que estão na frente de batalha durante a pandemia. Algumas categorias foram apresentadas e tiveram os vencedores anunciados por médicos, enfermeiros, fazendeiros, motoristas de caminhão, professores e outros profissionais essenciais que contaram seus relatos individuais de como tinha sido sua reação no início da quarentena e como estão vivendo isso no momento.

Neste ano, houve um recorde de negros indicados nas 16 categorias que tratavam sobre a atuação ou a direção das produções. Enquanto outras cerimônias recebem críticas pela falta de representatividade, a maioria dos apresentadores que auxiliaram o host foram atores e atrizes negros, assim como na música, com o DJ D-Nice, e o destaque para Chadwick Boseman no In Memorian. A cerimônia ainda contou com a presença de Morgan Freeman, Oprah Winfrey e Chris Rock. Os dois últimos foram escolhidos para falar sobre o produtor negro Tyler Perry, que ganhou o Governors Awards, um reconhecimento da academia por seu trabalho com o cinema e a integração de histórias negras no audiovisual norte-americano.

O criador e protagonista da série Black-Ish, Anthony Anderson, celebrou o aumento da representatividade e lamentou o fato de não poderem ter uma plateia e encher aquele teatro com todos aqueles indicados negros. A cerimônia foi bem mais politizada, com referências ao Black Lives Matter, ao caso de Breonna Taylor, jovem negra morta por policiais em sua casa em março deste ano, e também com falas de diversos artistas pedindo a conscientização do voto para os norte-americanos.

A série mais premiada da noite foi a produção da HBO Watchmen, baseada na HQ homônima, que levou 11 estatuetas. Estrelada por Regina King, que ganhou o prêmio por Melhor Atriz em Minissérie ou Filme para a TV, a série é sucesso entre público e crítica. Com nove prêmios, a série de comédia Schitt’s Creek levou todos os prêmios a que foi indicada, concluindo muito bem sua última temporada. A troca de elogios entre o ator Eugene Levy e seu filho, Daniel Levy, emocionou, já que os dois foram protagonistas da série como pai e filho. Zendaya foi a mais jovem ganhadora do prêmio de Melhor Atriz em Série Dramática, com apenas 24 anos. Ela é uma das protagonistas da série Euphoria, da HBO, e em seu discurso pediu que não se parasse de acreditar na juventude.

Afinal, o Emmy foi uma cerimônia que, como Jimmy Kimmel falou no início, tinha “tudo para dar errado”, mas se tornou uma experiência divertida de assistir, como a própria televisão deve ser. A comemoração das famílias dos ganhadores, o telefone tocando logo após a vitória ser anunciada e o “Mãe, ganhei!” aproximaram o telespectador. Fica aqui a dica para as próximas premiações sobre como fazer uma boa cerimônia em tempos de pandemia.

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