Empreendedorismo por meio de impressoras 3D funciona no Brasil

Para Yago e Murilo, a tecnologia dessas máquinas oportunizou duas carreiras

Milla Lima
Redação Beta
6 min readJun 7, 2023

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A All3DP, revista digital especializada no assunto, testou diversas impressoras para indicar os melhores modelos do mercado em 2023. (Imagem: Pexels/Vanessa Loring)

A produção com impressoras 3D é assunto há mais de uma década. Essa tecnologia está inserida em diversos segmentos, de peças sendo impressas para aeronaves da Boeing, até action figures que ficam nas prateleiras dos fãs da cultura nerd. Uma das primeiras empresas a utilizar esta tecnologia em grande escala foi a Nike, que imprimiu chuteiras para jogadores do Super Bowl em 2014. Nove anos depois, já é possível encontrar máquinas a partir de mil e quinhentos reais no site da Amazon. Esse fácil acesso, com um custo razoável para um investimento inicial, trouxe ao mercado uma leva de empreendedores e entusiastas, popularizando a fabricação de produtos que podem ser feitos em casa por qualquer pessoa.

De acordo com estudo publicado pela Markets and Markets, empresa global de pesquisa e consultoria de mercado, o volume de recursos movimentados, em todo o mundo, pela atividade de produção em impressoras 3D deve crescer de 12,6 bilhões, em 2021, para 34,8 bilhões de dólares, em 2026, trazendo uma previsão de evolução anual de 22,5%. Isso se reflete, também, no Brasil. Lojas de produtos criados a partir desta tecnologia são cada vez mais comuns. “É o novo smartphone. Acredito fortemente que, em pouco tempo, todo mundo vai ter uma impressora 3D em casa”, conta Murilo Martins Laffranchi.

Murilo tem 38 anos e é criador de conteúdo gratuito sobre impressão 3D para fazer “qualquer um se tornar um especialista no assunto”, como divulga no seu Instagram. O influenciador digital coleciona 79,8 mil seguidores em sua conta e 227 mil em seu canal no Youtube.

Murilo, que é paulista, acredita que as pessoas estão descobrindo, com as impressoras 3D, uma oportunidade de empreendedorismo. “Eu já vi vários casos de pessoas que estão vivendo de impressão 3D, deram a volta por cima, estão vendendo produtos específicos, personalizados, nichados e estão conseguindo atender esse mercado muito bem”, explica.

Formado em engenharia da computação, ele começou os experimentos com a impressora para produzir uma máscara do Homem de Ferro, que, no fim, nunca foi feita. Ainda assim, a experimentação abriu um novo horizonte e deu espaço para realizar um antigo sonho: o de ser influencer.

“Eu ficava até muito tarde, à noite, tentando resolver os problemas da impressora 3D. Estamos falando de nove, dez anos atrás. Não tinha material sobre isso na internet. Você tinha que aprender sozinho, com isso eu fui ganhando muito conhecimento”. Murilo conta que a ideia de começar um canal foi de um amigo. Assim, a partir da formação em engenharia e da vontade de expandir o mercado, uma nova carreira foi iniciada. Além dos seus conteúdos, Murilo também realiza consultorias e palestras.

O vídeo mais assistido do canal de Murilo foi o que ensina como ganhar dinheiro com impressoras 3D (Foto: Reprodução/Youtube)

Yago Martins e a Loja de 3D são outro exemplo de como a ideia de empreender nesta área pode dar certo. O engenheiro civil de 28 anos teve seu primeiro contato com impressoras 3D em 2018, através do namorado que trabalhava com a tecnologia. Por curiosidade, compraram uma máquina.

Porém, foi apenas durante a pandemia que o paranaense iniciou sua loja. “Na época, eu estava no oitavo período de Engenharia Civil e meu contrato de estágio estava acabando. Eu precisava dar conta dos boletos, então decidi utilizar a experiência e conhecimentos adquiridos nos três anos que participei da empresa júnior da faculdade e comecei meu próprio negócio, a Loja de 3D. Com o apoio técnico do meu namorado, fui aprendendo cada vez mais e os clientes foram aparecendo muito por conta da nossa atuação nas redes sociais. O poder dos tweets e posts virais ajudou bastante a gente nesse crescimento”, conta o engenheiro.

Os suportes de CD estão entre os 10 produtos mais populares na Loja de 3D. (Foto: Reprodução/Loja de 3D).

Na loja virtual de Yago, é possível encontrar desde suporte de CD personalizado até modelos de Grammy — cerimônia de premiação da indústria musical. Tanto ele quanto Murilo contam que, mesmo os insumos parecendo ter um custo alto, a rentabilidade é boa para quem trabalha com impressoras 3D. Existe espaço, inclusive, para investir em uma matéria-prima mais ecológica. “Atualmente, eu trabalho apenas com o PLA (Poliácido Láctico), um tipo de material sustentável de origem vegetal bastante comum na impressão 3D”, explica o empreendedor. Segundo ele, o PLA tem materiais como cascas de batata e resíduos da colheita de cana em sua composição. O que o diferencia do ABS (Acrilonitrila Butadieno Estireno), por exemplo, que é derivado do petróleo.

“Mesmo com a diferença de valor, que gira em torno dos 15% a 25% no quilo do material, optamos por trabalhar apenas com o PLA por entender que precisamos de processos mais sustentáveis. Existem clientes que se identificam com essa filosofia. Em questão de lucro, busco sempre manter algo em torno de 10 a 15 reais por hora de impressão, já considerando os custos inerentes ao processo, mas isso varia de profissional para profissional. O importante é focar em entregar peças com bom acabamento e que atendam as expectativas dos clientes”, explica Yago.

As impressoras que Yago utiliza são Stella 3 Lite e Stella 3 PRO, produzidas em Curitiba. (Foto: Reprodução/Loja de 3D).

Murilo concorda, afirmando que a margem de lucro é muito boa. “O quilo do filamento varia de acordo com o tipo. O PLA gira em torno de 100 reais o quilo. Dependendo do tamanho da peça, você consegue imprimir muita coisa. O custo de produção sai muito barato”, explica o influencer, que, recentemente, produziu um ukulele na impressora 3D. Além do instrumento funcionar perfeitamente, ele teve um custo de apenas 42 reais. Para comparação, um instrumento tradicional pode ser vendido no Mercado Livre por 167 reais.

Como funciona uma impressora 3D?

Segundo o Tecnoblog, é possível produzir um objeto a partir de um modelo digital no computador. Ele é enviado para o programa da impressora, definindo dimensões e detalhes de textura. Este “desenho” é fatiado em camadas de impressão, que são produzidas uma a uma, até que se forme por completo. Existem vários tipos de impressoras 3D, sendo por injetor de matéria quente ou emissão de luzes sobre um material moldável. As mais comuns são por fusão a laser, fundição a vácuo e moldagem por injeção.

Murilo explica que, no início, não é um processo fácil. “Existe uma curva de aprendizado, é exponencial. No começo, você sofre bastante e aí pega o jeito. Todo o processo começa com a escolha do modelo 3D. Você tem que fabricar o modelo digitalmente no computador, depois você tem que utilizar um software, que a gente chama de fatiador. É como se você pegasse uma faca e cortasse o seu modelo várias vezes. Só depois disso, você vai jogar ele na sua impressora 3D, porque a impressora funciona imprimindo camadas, então ela sempre começa na parte de baixo e vai subindo”, explica brevemente.

Yago conta que o mais difícil é entender os inúmeros parâmetros que influenciam na boa impressão de uma peça. “Ajuste de nivelamento de mesa, umidade do ar, umidade do filamento, diâmetro da ponteira e o controle de temperatura e fluxo são alguns pontos de atenção que devem ser observados sempre, para qualquer impressão. Uma vez que dominei isso, depois de meses e inúmeras peças inacabadas, ficou bem tranquilo organizar o processo. Quando um pedido chega no site da loja, já sei quanto tempo levarei para finalizar as peças e consigo planejar a produção de forma que não comprometa meus outros projetos de engenharia”, conta.

Para conhecer o trabalho de Yago, basta acessar a Loja de 3D. Para um maior entendimento da tecnologia, de maneira didática, é só seguir o Murilo, no Instagram, em @3dgeekshow.

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