Empreendimento a céu aberto

Thais Ramirez
Redação Beta
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5 min readNov 29, 2017

Uso de drones como ferramenta de inovação faz negócios decolarem

O zumbido lembra o de um zangão, o nome traduzido para o português se dá justamente por conta do barulho particular. Drone ou Vant (Veículo aéreo não tripulado) são as denominações populares para o multirotor, equipamento que permite a realização de imagens aéreas, entregas por correspondência e liberação de agrotóxicos em lavouras. A invenção foi feita pelo israelita Abe Karem, nos anos 60, mas foi nos últimos anos que o mecanismo tomou conta dos ares do país.

Controlados por controle remoto drones possibilitam a realização de imagens em lugares de difícil acesso Foto: Thais Ramirez/ Beta Redação

O publicitário Tiago Geremia Oliva sempre se interessou pelo mundo da aviação. Em conversa com um amigo que fazia imagens aéreas por helicóptero ele tomou conhecimento dos drones. “Comecei usando os drones como uma brincadeira, colocava uma GoPro acoplada nele, pois na época não possuía um com câmera.” Foi em 2013 que ele e mais três sócios fundaram a empresa Nine Feet, o nome faz uma analogia aos helicópteros que por conta do grande porte não conseguem captar imagens com o equipamento apenas 9 pés do chão.

Arte: Thais Ramirez/ Beta Redação

A empresa começou produzindo imagens aéreas. Hoje, ela atua também na manutenção de drones, transmissões ao vivo, vendas dos equipamentos e oferta de cursos. “Vendíamos o drone na sexta e na segunda o comprador já estava aqui para realizar a manutenção, percebemos então a necessidade da criação de um curso para os usuários adquirirem maior segurança na hora do uso, pois o valor da manutenção acabaria se tornando mais caro para o cliente do que o curso em si.”

Outro serviço oferecido pela Nine Feet é o registro de fotos de lavoura. As dezenas de imagens captadas pelo drone são montadas por meio de um software, criando a orthophoto, que permite que o agricultor tenha conhecimento dos locais com pouco água ou com a existência de pragas, auxiliando na economia do agricultor e na produção de um solo mais saudável.

Os drones utilizados na empresa de Tiago são produzidos e importados da China, mas aqui mesmo, em solo gaúcho, a empresa SkyDrones produz drones há nove anos no mercado. Os equipamentos podem custar entre R$60.000,00 e R$150.000,00. A empresa produz três tipos de drones, um deles é o Vant asa fixa para mapeamento, chamado Zangão. Ele é capaz de voar a mais de 100 km/h, velocidade necessária em diversas partes do Brasil onde os ventos atuam constantemente. Este equipamento é totalmente automatizado. Ele decola por catapulta e pousa por paraquedas. Pode fazer mapeamentos 2 ou 3D ou buscar anomalias e doenças na área de agricultura de precisão com câmeras multiespectrais.

Já o Strix possui versões para inspeção industrial com câmeras térmicas FLIR, usado em redes elétricas ou nas diversas indústrias, e possui sua versão para a agricultura, Strix AG, onde faz mapeamento em alta resolução das áreas. O diretor da empresa SkyDrones, Ulf Bogdawa, explica a utilização dos veículos produzidos: “Os dois equipamentos, quando utilizados para mapeamentos agrícolas, geram dados georreferenciados para aplicação pulverizada de produtos químicos. Também há um Drone chamado Pelicano que possui radar e outros sensores para garantir que seu voo sempre seja paralelo a superfície. Deste modo garantimos que a altura da pulverização acompanhe a curvatura do terreno e a aplicação é feita automaticamente.”

Zangão, Strix AG e Pelicano respectivamente Fotos: Cristian Hennig

Quem deseja adquirir um drone para uso comercial segundo a norma ICA100–40 (Ministério da Defesa) tem que possuir mais de 18 anos e efetuar registro na Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e no Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA). A cada lugar onde o contratante é contratado para a realização de um serviço ele deverá se cadastrar no site do DECEA, informar a cidade onde deseja utilizar o drone e esperar a autorização que demora cerca de 72 horas para emissão.

Kairo Lenz, dono da produtora de vídeo, Botão Filmes, adquiriu seu primeiro drone em 2017. A empresa, que existe há 4 anos no mercado, foi percebendo uma grande demanda de imagens aéreas nos vídeos que estavam produzindo. “Contratávamos empresas terceirizadas, mas as vezes eu não sabia se o executor que operava sabia fazer o tipo de movimento que eu queria. Tendo o produto em mãos eu consegui criar muito mais imagens, acabei treinando mais os movimentos para que eu mesmo pudesse fazer e isso refletiu no meu vídeo final e consequentemente na venda dos meus vídeos”, conta.

Em setembro deste ano, a nova aquisição da empresa rendeu a produção de um documentário de dança folclórica que levou a equipe até a Coreia do Sul para documentar a apresentação do CTG Aldeia dos anjos, de Gravataí, no Cheonan World dance festival.

Jornalismo guiado por drones

Os Drones auxiliam em uma completa e maior precisão para realizar coberturas e difusão ao vivo de acontecimentos noticiosos de último momento, contribuem para a eficácia do jornalismo investigativo e enriquecimento técnico para criar produções jornalísticas com qualidade cinematográfica. O professor da UFRGS, Gonzalo Prudkin, que ministra a disciplina eletiva pioneira no Brasil, “Introdução ao jornalismo drone” complementa, “ outros ganhos do drone no jornalismo são a redução de custos econômicos pela substituição gradual de helicópteros e aviões para tarefa de filmagem aérea e consequentemente uma filmagem com mais segurança, protegendo a integridade física do repórter no local de desastre natural ou humano, cobertura de conflito armado e cobertura em manifestações na vias públicas.”

A disciplina ministrada por Prudkin é teórico-prática na qual os alunos não só estudam a origem da tecnologia drone, legislação e questões éticas. Além disso, eles analisam os componentes técnicos do drone, considerações técnicas para voar com segurança, e aprender a voar minimamente um drone para captação de foto e filmagem aérea.

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