Entre livros e obras de arte

Biblioteca e galeria de artes convivem em harmonia na residência de Sandro Bellorini, artista plástico de Feliz

Verônica Torres Luize
Redação Beta
4 min readApr 13, 2018

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Entrada da casa de Sandro, com a biblioteca presa no muro. (Foto: Verônica Luize/Beta Redação)

Feliz é uma cidade pequena, com pouco mais de 13 mil habitantes, mas muito movimentada. Há culturas diversas e uma forte tradição alemã perpetuada por 50 edições do festival de chope. Em meio a tanta festa, não se imagina que haja um local onde reinam a paz e as artes. Presa no muro, uma casinha de madeira e porta de vidro tem uma placa manuscrita com as palavras “Leia e Devolva”. É um ponto de troca que, como diz seu idealizador Sandro Bellorini, “é uma oportunidade de conhecer mais livros”.

A placa da biblioteca suspensa diz: “Leia e Devolva”. (Imagem: Verônica Luize/Beta Redação)

A pequena biblioteca fez com que muitos habitantes da cidade tivessem o primeiro contato com livros. Houve pessoas que pegaram e nunca devolveram; outras devolveram e doaram mais livros. E teve quem entrasse em contato com Sandro para “trocar uma ideia”. Foi o início de um movimento de troca cultural.

Sandro Bellorini é artista plástico, formado há dois anos pela Feevale. Pelas artes, tem uma paixão desde criança . Na escola, ganhava destaque pelos maravilhosos desenhos que fazia. “A cor sempre me encantou. Tinha uns 8 anos quando respondi que seria desenhista, sendo que eu nem sabia o que era isso. Mas sabia que usava lápis de cor”, conta. Auto-didata, conseguiu sua primeira exposição em 1985, na praça da cidade. O processo artístico de Sandro Bellorini é baseado nas múltiplas intervenções, bem como na exploração do desdobramento da pintura, com ações não convencionais, que conversam com os diversos tipos de matérias, materiais e suportes utilizados durante o trabalho de criação artística.

Óleos sobre tela, por Sandro Bellorini. (Imagem: Sandro Bellorini/Arquivo pessoal)

Mesmo sem formação e com as dificuldades em ser artista, Sandro vendeu quadros para decoração de casa, e, com muito orgulho, levou sua arte até a Alemanha. Ele trabalha meio período como vendedor de apólices de seguro para poder pintar à tarde, pois considera que trabalhar com arte é inconstante e nem sempre rende o suficiente para pagar as contas. Mesmo tendo exposto suas obras, o valor com a venda delas não é suficiente. Há meses em que não vende nada.

Em 2010, Sandro fez um espetáculo de arte em um restaurante da cidade durante o horário de almoço. Expôs suas pinturas nas paredes. Contratou um saxofonista e colocou frases sobre o que era arte em cada mesa. “Eu queria dar uma experiência diferente, queria algo completo. Arte para os olhos, para os ouvidos e para a mente”, explica.

Em 2016, quando cursava Artes Plásticas, teve obras expostas no Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS). Uma delas foi a exposição coletiva futurama 2, que contava com obras de estudantes universitários e artistas independentes. A outra ocorreu em outubro, quando Bellorini fez parte da exposição coletiva Insubmissíveis, organizada pela artista plástica Roberta Agostini.

No mesmo ano, ele também pintou uma enorme pena no muro cinzento da Avenida João Corrêa em São Leopoldo. Com ela, ganhou um prêmio e participou de um livro feito pelo curso de fotografia da Feevale.

Sandro com sua pena do Muro da João Corrêa. (Imagem: Fabiane Machado)

Agora, em 2018, Sandro teve sua arte exposta na Pinacoteca Municipal do Espaço Cultural Albano Hartz. A exposição Passeios Contemporâneos é uma exposição de Sandro e Rafael Jung. Nessa ocasião, Sandro teve a oportunidade de encontrar o público, apresentar sua obra. “Me sinto realizado pelo momento. Poder trazer essa proposta diferente, fazendo o possível para provocar a imaginação do público no instante que eles pisam na tela e deixam vestígios ou lembranças”.

Pintura apresentada em Passeios Contemporâneos. (Imagem: Sandro Bellorini/Arquivo Pessoal)

A obra é trabalhada com cuidado, a tela é deixada na rua, em frente a sua casa, para que os carros passem por cima e, assim, deixem a marca do pneu. Depois é pintada, com tons diferentes da mesma cor e criando uma harmonia com as formas das linhas retas. Algumas vezes, as linhas são feitas de filme fotográfico. Sua obra foi premiada pelo XVI Salão de Artes Visuais da Universidade Feevale.

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Verônica Torres Luize
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26 anos. Comunicadora digital, nerd e fã de tecnologias.