Escolas municipais de São Leopoldo retomam o ano letivo em ambiente virtual

Com aulas suspensas desde março, município adota modelo não presencial como alternativa para o cumprimento do calendário escolar

Grégori Soranso
Redação Beta
5 min readAug 31, 2020

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Ambiente virtual passa a ser a principal ferramenta para os alunos do ensino fundamental. (Crédito: SMED-PMSL/Divulgação)

Exatos cinco meses após a suspensão das atividades em sala de aula, os alunos do ensino fundamental da rede pública municipal retomaram o ano letivo nas escolas de São Leopoldo. Para os estudantes do quinto ao nono ano, as aulas estão ocorrendo desde o dia 19 de agosto. Já os alunos dos anos iniciais têm a volta agendada para o dia 02 de setembro. Na educação infantil, não há previsão de retorno para as crianças de zero a seis anos de idade.

A volta das atividades no município ocorre no momento em que o Governo do Estado sinaliza com a possibilidade de autorização das aulas presenciais no Rio Grande do Sul. Esta alternativa, contudo, não é uma tendência a ser seguida pelas escolas leopoldenses.

Segundo a diretora pedagógica Carla Escosteguy, a administração debateu com o Conselho Municipal de Educação e com o Sindicato dos Professores a viabilidade da conclusão do ano letivo em 2020. “O nosso planejamento está organizado para acontecer de agosto a dezembro de forma remota. À medida que esse plano de ação é executado, ele pode ser aprimorado, mas não temos intenção de modificá-lo, pois isso causaria insegurança nas famílias e nos professores”, afirma a representante da Secretaria Municipal de Educação (SMED).

A forma escolhida para as interações entre alunos e professores é a plataforma Google Sala de Aula, a mesma que já vem sendo utilizada pela rede estadual. Para quem não possui acesso à internet, as escolas vão disponibilizar as lições em material impresso. A cada 10 dias, um familiar deve retirar as atividades com o professor. De acordo com a diretora da SMED, o município ainda estuda uma forma de viabilizar o uso da plataforma virtual para todos os alunos. “Nossa pesquisa junto às escolas apontou que em torno de 25% das famílias não possuem acesso à internet em casa”, relata Carla.

Mães refletem sobre modelo de estudo remoto

Edinéia de Souza Matos, 33 anos, é mãe de uma estudante do sétimo ano da Escola Paulo Beck, que está localizada em uma região de alta vulnerabilidade do município. Em razão de todo o contexto causado pela pandemia do novo coronavírus, ela acredita que o modelo adotado seja a melhor maneira de concluir os estudos em 2020. “Mesmo sabendo que muitos têm dificuldades com relação à internet ou apoio de uma pessoa com maior formação para ajudar nas atividades, ainda assim concordo plenamente com a suspensão das aulas presenciais”, revela.

Atualmente trabalhando com confeitaria em casa, Edinéia conta que no passado já atuou em ambientes escolares, tanto na rede pública quanto na rede privada. Por esta razão, não vê outra solução para a continuidade das aulas. “As crianças menores não têm muita noção do perigo e dos cuidados necessários. Acho que as dificuldades dos professores em lidar com essa situação só aumentaria o desgaste entre eles. Os pequenos têm mais dificuldades? Sim. Mas ainda assim é a melhor opção”, conclui.

Edinéia (esquerda) disponibiliza o celular para que Emily acompanhe as aulas (Crédito: Edinéia Matos/Arquivo pessoal)

Embora o computador utilizado pela filha Emily, de 12 anos, tenha estragado justamente durante o período de isolamento, Edinéia diz não ter problemas para acessar os conteúdos digitais. “Ela recebe as matérias via e-mail no celular. Instalei um programa de arquivos e documentos em PDF e assim vamos fazendo o possível”, conta.

Sobre um eventual retorno presencial, como sugere o governo estadual, a mãe de Emily é enfática. “Pessoas importantes para mim perderam a vida. Eram pessoas novas, cheias de planos e sonhos. Então, enfrentaria a justiça, mas não permitiria o retorno dela”, afirma.

Já Gislaine Portela Do Carmo, 31 anos, trabalha como monitora em uma escola privada de educação infantil e tem uma percepção diferente sobre o modelo de ensino remoto. “Há muitas crianças que têm dificuldades na aprendizagem e precisam de um suporte profissional. Não tem como avaliar uma criança sem ter o contato com ela. Muitos pais não estão preparados para auxiliar seus filhos até mesmo por não entender o conteúdo”, opina.

Gislaine acompanha de perto as tarefas dos filhos Diego, 11, e Isadora, 6. (Crédito: Gislaine Portela Do Carmo/Arquivo pessoal)

Mãe de duas crianças que estudam em escolas diferentes da rede municipal, Gislaine, que também é estudante de Pedagogia, demonstra maior preocupação com a situação da filha mais nova, que está no primeiro ano do ensino fundamental. “Como alfabetizar uma criança com aulas online?”, questiona.

Para ela, uma opção seria oferecer uma modalidade de retorno presencial opcional, cabendo à família a decisão de frequentar ou não as aulas neste período. “Quem sabe se montassem um protocolo de segurança com um plano de contingência e rodízio de crianças, seguindo todas as regras de distanciamento e com horários reduzidos,” sugere.

Educação infantil ainda sem previsão de retorno

Além das Escolas Municipais de Educação Infantil (EMEI’s), cujas atividades não serão retomadas neste momento, o município mantém convênio com outras 43 instituições privadas nesta modalidade de ensino.

Fabiane Bitello também é Coordenadora Estadual da União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação do RS. (Crédito: Fabiane Bitello/Arquivo pessoal)

Conforme explica Fabiane Bitello, presidenta do Conselho Municipal de Educação (CME), o diálogo com a Prefeitura e com o Ministério Público já está em andamento, visando uma possível autorização do governo gaúcho para o retorno presencial. “Mesmo entendendo que ainda não é o momento ideal, estamos auxiliando para que, quando haja essa liberação, as escolas estejam aptas para receber as crianças de forma segura, tanto do ponto de vista administrativo, quanto no aspecto sanitário”, comenta Fabiane.

São Leopoldo possui 37 escolas municipais de ensino fundamental e 13 de educação infantil, além dos convênios mantidos com instituições privadas para vagas de crianças de zero a seis anos. No total, mais de 27 mil crianças e adolescentes são atendidos apenas pela rede municipal de educação da cidade.

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