Espaço para a cultura afro-brasileira
Em Osório, biblioteca temática dá visibilidade às manifestações negras da região
Bonecas negras, enfeitadas com vestidos coloridos, dividem espaço com revistas acadêmicas e teses de doutorado. Entre as estantes, livros de pano e ilustrações infantis convivem com obras de José Abílio Ferreira e Jonatas Conceição da Silva, autores da literatura negra. Na Biblioteca Pública Municipal Oliveira Silveira, em Osório, instrumentos lúdicos e documentos de estudo e pesquisa se articulam para dar conta de um mesmo tema: cultura afro-brasileira.
Com uma programação flexível para atender adultos e crianças, o espaço temático disponibiliza para a comunidade materiais de pesquisa, serviços e atividades culturais especializadas. Inaugurada em 2015, no Centro Cultural José do Patrocínio, a biblioteca trata, principalmente, das manifestações negras do Litoral Norte gaúcho. A escolha temática já está exposta nas paredes do local: quadros contam a história dos Maçambiques, grupo afro-católico que tem raízes históricas em Osório.
Nesse sentido, a bibliotecária responsável pelo espaço, Rosane Hammel, destaca a importância do local para dar visibilidade às manifestações populares. “A tradição Maçambique sempre esteve presente no município, mas hoje ela é reconhecida como uma cultura que é nossa e que permanece viva na cidade”, avalia.
O nome da biblioteca é uma homenagem ao pesquisador e poeta gaúcho Oliveira Ferreira da Silveira (1941–2009), um dos idealizadores da transformação do 20 de novembro no Dia da Consciência Negra no Brasil. Do acervo pessoal do autor, vieram 80% das obras que compõem o espaço, doadas pela filha de Oliveira.
Ao todo, entre livros, jornais, revistas, teses e produtos multimídia, o espaço Oliveira Silveira dispõe de um acervo de 1.500 obras. Além dos documentos que disponibiliza para o público, a biblioteca também oferece uma ampla programação cultural. O espaço é palco de rodas de leitura, oficinas de música e teatro, lançamentos de livros e sessões de autógrafos.
No local, também é organizada a contação de histórias, atividade voltada aos alunos de educação infantil e ensino fundamental das escolas do município. Realizada mediante agendamento prévio, a ação explora práticas e dinâmicas adaptadas para cada faixa etária.
Por meio de textos literários, narrados de forma interativa, a contação busca estimular o gosto pela leitura e o interesse pela arte. Mais do que isso: por trazer a cultura negra como pano de fundo, a atividade provoca, nas crianças, a reflexão sobre as questões raciais.
As atividades de incentivo à leitura chegam ao ápice durante a Semana do Livro, comemorada anualmente no mês de abril. Rosane conta que a Biblioteca Oliveira Silveira, desde sua criação, adere à iniciativa promovida pela Câmara Rio-Grandense do Livro. Trata-se de uma semana dedicada à realização de atividades que coloquem o livro, a leitura e a literatura em destaque.
Na edição deste ano, a biblioteca promoveu uma programação variada entre os dias 19 e 26. O evento abriu com um bate-papo sobre o clássico O Pequeno Príncipe, passou pela análise do racismo na obra de Monteiro Lobato, envolveu sessões de contação de histórias e fechou com o lançamento do livro Sobre raízes e redes: territorialidades negras, do antropólogo Olavo Ramalho Marques.
Maior demanda vem das instituições de ensino
Por ser um espaço especializado, a Biblioteca Oliveira Silveira acaba atendendo a um público mais limitado: a maioria dos usuários e visitantes são membros da comunidade escolar ou acadêmica da região. Além das turmas da educação básica, estudantes e professores universitários procuram o espaço para a mediação de pesquisas, seja por meio do acervo histórico ou pela base de dados disponível.
Rosane relata que a biblioteca ainda recebe pouca atenção da comunidade em geral. Ela atribui a pequena demanda a uma questão cultural da cidade: “As pessoas não ocupam o espaço público como ele deve ser ocupado”. Segundo a bibliotecária, os espaços culturais ainda estão sendo descobertos pela população.
Mas a perspectiva é otimista: a chegada das instituições de ensino federais à cidade, a partir de 2010, contribuiu para o desenvolvimento sociocultural da região. “Agora, os jovens ficam em Osório e começam a usufruir dos espaços culturais”, anuncia Rosane.
O centro cultural
O Centro Cultural José do Patrocínio foi inaugurado em 2012, por uma inciativa da prefeitura. A proposta do Centro era resgatar a memória do antigo clube homônimo, associação de negros que, de tão expressiva, mantinha um time de futebol e uma escola de samba.
Agora, o espaço do Centro Cultural abriga a Biblioteca Oliveira Silveira e o Arquivo Histórico Municipal Antônio Stenzel Filho. Rosane explica que a finalidade do Centro é agregar vários segmentos culturais e disponibilizá-los para a comunidade. O local dispõe de uma vasta área de comunicação e tecnologia para dar suporte à população.
A Biblioteca Pública Municipal Oliveira Silveira atende, no Centro Cultural José do Patrocínio, de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 11h30 e das 13h às 17h. O espaço é aberto à visitação, e o acervo está disponível para pesquisa e consulta no local. Outras atividades podem ser agendadas pelo telefone (51) 3601–2179, ou pelo e-mail bib.oliveirasilveira@gmail.com.