Especialistas apontam hibridismo como futuro da educação

Congresso anual reúne profissionais ligados à educação a distância para debater as transformações no setor

Arthur Menezes
Redação Beta
4 min readOct 23, 2019

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Entre os dias 20 e 24 de outubro, em Poços de Caldas (MG), está ocorrendo o 25º Congresso Internacional Abed de Educação a Distância (Ciaed). O maior evento da modalidade EaD está reunindo cerca de 2 mil pessoas, com palestrantes entre brasileiros e estrangeiros, tratando dos mais diversos temas que incluem as novas modalidades de ensino e aprendizagem.

Neste ano, o tema da convenção organizada pela Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed) é o hibridismo. Segundo especialistas, a educação híbrida passou de uma possibilidade futura para uma realidade. A professora doutora Luciana Backes, pesquisadora na área, explica como esse conceito está ganhando força: “O conceito híbrido é inicialmente explorado pela Biologia. Darwin define ‘híbridos’ os seres que são a mistura de espécies distintas, resultando no cruzamento. Outras áreas do conhecimento já se apropriaram desse conceito, e na Educação ele ganha cada vez mais força, à medida que novas tecnologias ganham espaço”, retoma.

“Com o EaD, começou a se debater mais fortemente a presença do aluno nos espaços físicos e digitais virtuais. E nós tivemos essa ideia separação entre uma ou outra possibilidade por algum tempo explorada por professores, mas a verdade é que, no processo de ensino e aprendizagem, estabelecemos a conexão entre os espaços geográficos e digitais virtuais, ou seja, criamos espaços híbridos”, complementa.

Nas concepções em que operam os players de Educação à Distância no Brasil, o hibridismo já é muito presente, ao menos nas propostas pedagógicas. Mas o teórico José Morán tem alertado em sua trajetória para a complexidade do conceito e seus desafios na prática. Segundo o professor, há que se ter a clareza de que a educação híbrida não se limita à modalidade semi-presencial, que para muitos seria o modelo que naturalmente implicaria na união entre os benefícios dos espaços físico e digital. Pelo contrário, ele reconhece que o hibridismo está em qualquer espaço que o aluno conjugue esses dois mundos — sem relação necessária com a proposta formal de ensino semi-presencial das instituições.

É com base nessa interpretação complexa do hibridismo que o 25° Ciaed propõe as discussões deste ano. A pauta principal do evento passa a interessar a todos os educadores, uma vez que não se limita aos modelos formais, como destacado, mas obviamente ganha força a partir do crescimento das instituições de ensino que operam com a EaD no Brasil.

“Os números de acadêmicos que procuram a Educação à Distância estão crescendo de forma acelerada nos últimos anos. Os dados do Censo da Educação, realizado pelo Inep em parceria com o Ministério da Educação, apontam que pela primeira vez a oferta de vagas nos cursos de graduação na modalidade EaD, supera a presencial. O ensino híbrido passou de ser algo pensado para o futuro, é uma realidade atual”, aponta Mario Pool, diretor nacional de EaD da Universidade La Salle.

O Censo da Educação Superior mencionado por Pool foi divulgado no último dia 19, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e pelo MEC, e aponta que em 2018 foram ofertadas 7,1 milhões de vagas nos cursos de educação a distância e 6,3 milhões em cursos presenciais. O número de cursos EaD cresceu 50% em um ano, passando de 2.108 em 2017 para 3.177 em 2018.

Esse crescimento nos cursos na modalidade a distância é frequentemente vinculado à crise econômica do país e os baixos custos de operação da modalidade se comparada com o presencial. Por outro lado, pode ser considerado fruto de um trabalho bem alinhado pelas instituições de ensino, além é claro, dos investimentos em tecnologias que são fundamentais para que a modalidade obtenha êxito.

Jonas Saraiva falou no primeiro dia de Congresso sobre o contexto da aprendizagem na contemporaneidade. (Foto: Arquivo Pessoal/Jonas Saraiva)

Para o professor Dr. Jonas Saraiva, coordenador de produção de material didático para EaD, o Ciaed tem um papel relevante nesse aspecto. “Esse encontro anual é o maior evento de educação à distância do Brasil, tem uma feira em que todas as empresas expõem funcionalidades, aplicativos, tecnologias diferenciadas para educação à distância e tudo mais. Aqui, podemos conversar sobre isso, estabelecer relações outras instituições. Esse tipo de networking, essa troca de experiências, é muito importante para o desenvolvimento da EaD no país”, afirma.

Para Mario Pool, o método de realização do evento é a peça chave para que ocorra a interação entre as pessoas que trabalham para o crescimento dos cursos à distância. “O encontro de educação a distância é um congresso de quatro dias, mas ele trabalha com processo de mediação como se fosse uma feira, em que os negócios bons acontecem, tanto na contratação de produtos e insumos, como também na parte de parcerias entre produtos realizados, distribuição de matérias de ensino, enfim, as pessoas que fazem a EaD trocam informações e saberes”, enfatiza.

Durante o evento, serão realizados oito minicursos que abordam temas importantes para o universo do EaD, promovidos simultaneamente no dia 24 de outubro, nos períodos da manhã e tarde. Sendo o Congresso um evento plural e interdisciplinar, ele não se limita ao hibridismo. Além dos trabalhos científicos e exposição, o congresso irá, nesses cinco dias, contar com 75 mesas redondas com mais de 500 especialistas.

“Impressiona a organização. O evento conta com uma infraestrutura invejável, o local é amplo, os estandes são esteticamente muito bonitos e nota-se que pelo grande número de participantes, a modalidade Ead está em franca ascensão”, relata Michele Kreme, coordenadora administrativa e pedagógica de um polo EaD da Universidade La Salle.

Ao refletir sobre o protagonismo do hibridismo na educação brasileira, o professor Renato Teixeira avalia que essa é mais uma perspectiva impulsionada a partir da EaD. “O ensino híbrido vem sendo cada vez mais presente na vida dos acadêmicos brasileiros e acabou se consolidando como uma das tendências mais importantes na área da educação neste século. O modelo pode ser um dos responsáveis por uma verdadeira transformação no ensino, uma vez que tem a possibilidade de dar autonomia e estimular a criatividade, por exemplo”, destaca.

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