Ela é água e ele, Coca-Cola: Jacinda Ardern (Nova Zelândia) e Donald Trump (Estados Unidos) têm posturas contrastantes frente à Covid-19 (Foto: Casa Branca)

PODCAST: Enfrentar a Covid-19 é coisa de mulher?

Especialistas debatem por que países com lideranças femininas têm se destacado no combate à pandemia

Beta Redação
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3 min readJun 25, 2020

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Ainda no mês de abril, praticamente no início do distanciamento social, a colunista Avivah Wittenberg-Cox publicou um artigo na revista Forbes intitulado O que os países com as melhores respostas ao coronavírus têm em comum? Líderes mulheres. Inspiradas na conclusão de Avivah e olhando para as atitudes contrastantes de alguns chefes de estado homens, resolvemos trazer essa questão para debate. Buscando entender melhor até que ponto o gênero influencia na tomada de decisão em momentos de crise, entrevistamos um elenco com cinco Vozes Femininas especialistas no assunto.

Os bons resultados de diversas líderes políticas no combate ao coronavírus pode ser creditado às trajetórias sociais dessas mulheres e onde estão inseridas. Malu Gatto, cientista política, pesquisadora na Universidade de Zurique e professora da universidade College London, conta que esse bom desempenho nos outros países está ligado também a “outros fatores, de instituições governamentais, de saúde, serviços sociais”. Ela também reforça que não é tão simples fazer essa relação, afinal podem haver lideranças femininas que focam mais na ciência e outras que não, assim como os homens também são um grupo heterogêneo.

Mariléia Sell, professora de Comunicação da Unisinos, doutora em Linguística, pesquisadora e cronista, destaca a importância simbólica de haver mulheres bem-sucedidas em posições de liderança, levando em conta a histórica sub-representação feminina na política. “Acostuma as nossas meninas, jovens mulheres, a enxergarem iguais no poder, desnaturalizando o olhar de que política é coisa de homem”, ressalta.

A cientista política da Escola de Humanidades da PUC-RS Teresa Marques complementa lembrando a diferença com que homens e mulheres são tratados dentro da política. Segunda ela, as mulheres são obrigadas ao longo de toda a vida a provar que são capazes de ocupar os seus respectivos cargos, já os homens são tratados como líderes naturais. Teresa afirma que devido a essa aprovação, elas acabam se esforçando para serem mais eficientes. “Sabem que a elas não é garantido o direito ao erro, ao autoritarismo. Sabem da importância das regras democráticas e do trabalho em equipe”, salienta.

Em relação às mulheres na política, a deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL), que atua na vida pública desde 2009, lamenta que o Brasil seja um dos países mais desiguais do mundo. A deputada observa que a figura da mulher ainda está ligada ao cuidado e às tarefas domésticas, e não à questão da gestão pública. Fernanda, nas eleições de 2018, representou a maior votação entre as mulheres eleitas, com 114.302 votos.

Isso tudo traz à tona um antigo debate: a representação feminina na política. No Brasil, elas representam hoje apenas 12% das prefeituras, 10,7% no Congresso Nacional e 15% nas Assembleias. Pensando nisso a Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) lançou a campanha “Uma voz por todas. Por mais mulheres na política”, buscando fazer valer a lei que assegura que pelo menos 30% das candidaturas sejam femininas. A coordenadora de gênero da Famurs, Tânia Feijó, falou sobre o assunto. “Os nossos esforços devem contribuir para a construção de novas posturas nos partidos políticos e eleitorado, mas para isso é necessário educação, para o reconhecimento das diferenças”, finaliza.

Ouça a versão completa deste debate sobre igualdade de gênero e diversidade na política no Spotify e no áudio disponível abaixo:

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A Beta Redação integra diferentes atividades acadêmicas do curso de Jornalismo da Unisinos em laboratórios práticos, divididos em cinco editorias.