Estudante de NH cria sistema que reduz desperdício de água na agricultura

Iniciativa rendeu a Fabiane Kuhn, de 21 anos, o reconhecimento de melhor jovem empreendedora universitária do país no Global Student Entrepreneur Award

Vanessa Souza
Redação Beta
4 min readJun 6, 2018

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Fabiane Kuhn divide a sociedade da startup Raks com Guilherme de Oliveira Ramos e Vinícius Müller Silveira. (Foto: Vanessa Souza/Beta Redação)

Tecnologia para um mundo mais sustentável. É esse o propósito do sistema de otimização de irrigação agrícola criado por Fabiane Kuhn, de 21 anos. O projeto nasceu de um trabalho acadêmico e se transformou em uma promissora e premiada startup, alçando Fabiane à condição de primeira mulher brasileira a representar o país no Global Student Entrepreneur Award (GSEA), principal programa de empreendedorismo universitário do mundo.

A história começou nos tempos de escola, quando Fabiane decidiu entrar no Curso Técnico em Eletrônica da Fundação Liberato, em Novo Hamburgo. Quando foi desenvolver o seu trabalho de conclusão, em 2014, a então adolescente deparou com uma das maiores crises hídricas do país. Após algumas pesquisas, viu que 70% da água do mundo é destinada à agricultura, e aproximadamente 50% desse total é desperdiçado pela falta de tecnologia no campo. “Então decidimos criar algo para ajudar nessa questão do desperdício de água na agricultura. Não tem nenhum agricultor na minha família e nem na família do meu colega, o Guilherme (Ramos), que era minha dupla na época do curso e agora é meu sócio. Tudo veio a partir da preocupação com o meio ambiente, porque água é essencial para a vida e precisamos cuidar melhor dos nossos recursos”, conta.

O projeto do sistema, que recebeu orientação do professor Marcos César Sauer, visa indicar o momento certo para acionar a irrigação nas lavouras, otimizando o trabalho dos agricultores e reduzindo o desperdício de água. Foi criado então um novo sensor que mede a umidade do solo e fica fixo em campo, sendo alimentado por placas solares, que não precisam ser trocados a cada medição. Todas as informações são transmitidas para uma central que armazena os dados na nuvem e os repassa para o aplicativo e o site em forma de gráficos e tabelas, assim o agricultor pode monitorar a irrigação de qualquer lugar do mundo.

Fabiane explica que os sensores utilizam a tecnologia conhecida como TDR, que é a reflectometria no domínio do tempo. “O TDR é um princípio físico de reflexão de ondas. Ele consiste na emissão de um impulso em duas hastes paralelas e na medição do tempo que leva para esse impulso ir e voltar. Ele é muito preciso porque o que altera esse tempo é a constante dielétrica (capacidade isolante) do meio em que ele está envolvido. Esse princípio físico de reflexão de ondas utilizado nos sensores é a principal chave de inovação do nosso sistema, e isso lhe confere muita precisão”, acrescenta.

Início da startup Raks

Após o trabalho receber diversos prêmios como pesquisa acadêmica, Fabiane sentiu a necessidade de colocar o sistema em prática e “realmente impactar a vida das pessoas”. Foi quando resolveram transformar o projeto em produto e foram participar do Prêmio Roser, uma competição de empreendedorismo da Unisinos. Ganharam o terceiro lugar e um período de incubação na Unidade de Inovação e Tecnologia (Unitec) da universidade. Assim nasceu a startup Raks Tecnologia Agrícola.

Além de Fabiane, que atualmente estuda Ciências da Computação na Unisinos, fazem parte da empresa Marcos, o professor que orientou o projeto, e dois ex-colegas dela no curso técnico: Guilherme de Oliveira Ramos, estudante de Engenharia Eletrônica, e Vinícius Müller Silveira, estudante de Engenharia da Computação, ambos de 20 anos.

Graças ao sistema e à criação da Raks, Fabiane esteve em Toronto, no Canadá, participando do Global Student Entrepreneur Award (GSEA), que ocorreu nos dias 16 e 17 de abril deste ano. Após passar por classificatórias regionais, realizadas em Porto Alegre, e nacionais, em São Paulo, ela foi escolhida como a melhor jovem empreendedora universitária do país e é a primeira mulher a representar o Brasil na competição em nível mundial. Com participantes de 55 países, a final do evento deste ano foi vencida por um estudante de Porto Rico que faz pós-graduação no Massachusetts Institute of Technology (MIT).

O Global Student Entrepreneur Award (GSEA) reuniu participantes de 55 países em 2018. (Foto: Fabiane Kuhn/Arquivo Pessoal)

O próximo passo da startup, segundo Fabiane, é iniciar a venda do sistema. “Estamos finalizando a etapa de testes com agricultores no Rio Grande do Sul, então nós planejamos começar as vendas nos próximos meses. Depois disso, queremos formar parcerias com empresas que produzam grãos e que vendam sistemas de irrigação, para que consigamos chegar mais facilmente até o grande agricultor. E, claro, também pretendemos desenvolver cada vez mais a nossa tecnologia”, finaliza.

Veja como funciona o sistema da Raks Tecnologia Agrícola:

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