Estudantes de Sapucaia do Sul vão às ruas contra o feminicídio

Proposta de discutir o tema nas escolas da cidade partiu da 27º Coordenadoria de Educação através do projeto "Em frente mulher"

Bábiton Leão
Redação Beta
4 min readDec 1, 2021

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Professor Gelson e alunos se organizando para a saída de campo. (Foto: Bábiton Leão/Beta Redação)

No dia 25 de novembro comemora-se o Dia Internacional de Luta Contra a Violência à Mulher. A data foi escolhida para homenagear as irmãs Mirabal (Pátria, Minerva e Maria Teresa), dominicanas que ficaram conhecidas como Las Mariposas e se opuseram à ditadura de Rafael Leónidas Trujillo, sendo assassinadas em 25 de novembro de 1960. No Brasil, em 7 de agosto de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei Maria da Penha. Com 46 artigos distribuídos em sete títulos, ela criou o mecanismo para prevenir e coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher.

Em 2021, muitas pessoas ainda não entendem como formalizar as denúncias. Algumas nem sabem da existência da lei e dos direitos assegurados às mulheres. Visando a importância do assunto, a 27º Coordenadoria de Educação apresentou para as escolas o projeto “Em frente mulher”. O programa foi implementado para conscientizar os estudantes com base na lei Maria da Penha, divulgando o tema para além do ambiente escolar. Com esse objetivo, os alunos dos 6º ao 9º da EEEF Maria Medianeira, de Sapucaia do Sul, foram às ruas na sexta-feira, 26 de novembro, levando cartões e cartazes produzidos por eles próprios para distribuir e conscientizar as pessoas em um semáforo próximo da instituição.

Coordenados pelo professor de história, Gelson Freire, os estudantes do turno da manhã se reuniram no pátio da escola às 9h30 e, os alunos da tarde, às 14h. Os colegiais foram divididos em um cruzamento com quatro semáforos. Cada grupo tinha um aluno que oferecia cartões aos motoristas que por ali passavam, enquanto que na faixa de segurança os demais posicionavam os cartazes com frases de alerta contra o feminicídio.

Alunos segurando cartazes de conscientização à violência contra a mulher em frente aos carros no semáforo. (Foto: Bábiton Leão/Beta Redação)

Os motoristas abriam os vidros dos automóveis para receber o material. Alguns condutores, após lerem os cartazes, buzinavam e colocavam os braços com punhos cerrados para fora dos carros em gesto de apoio à manifestação.

Os alunos do 6º ano, Victor Rodrigo de Borba e Nícolas Pinheiro consideram a iniciativa proposta pela escola relevante. “Eu não sabia que podíamos ligar para pedir ajuda até para um vizinho”, relata Nícolas. “Foi muito legal compartilhar esse trabalho com os meus colegas, pois nem todos sabem que essa lei existe”, completa Victor.

As estudantes Lívia e Stephanie mostram os cartões de conscientização produzidos pelos próprios alunos. (Fotos: Bábiton Leão/Beta Redação)

Era visível a euforia dos estudantes por fazerem parte da ação. As alunas do 9º ano, Stephanie Tech e Lívia Freitas ficaram encarregadas de entregar os cartões para os motoristas. Corriam de um lado para o outro, tentando não deixar nenhum condutor sem o alerta da campanha.

Lívia entrega os cartões para os motoristas no semáforo. (Foto: Bábiton Leão/Beta Redação)

“Eu achei ótimo trabalhar isso com os meus colegas na escola, principalmente os meninos. Assim, desde já eles vão ter a consciência de que a violência contra a mulher é errado. Isso pode fazer a diferença ali na frente”, destacou Lívia.

A aluna Stephanie relatou que, a partir do momento em que a iniciativa foi apresentada pelos professores, a turma aceitou participar no mesmo momento. "Poder trabalhar isso dentro da escola é fundamental para todos”, destacou.

Os cartões produzidos foram distribuídos em 20 minutos. Quando o professor Gelson avisou que eles poderiam voltar para a escola, foi possível ouvir um som de lamentação. Por eles, a campanha duraria mais tempo.

O professor Gelson conta que foi gratificante trabalhar a causa com os alunos. Os trabalhos para a saída de campo estavam sendo feitos desde o início do mês de novembro. “Quando recebemos o projeto da 27º Coordenadoria de Educação e passamos a nossa ideia, a aceitação foi espontânea. Os estudantes entenderam a importância do tema”, relatou.

“Durante a realização dos cartazes e cartões, os alunos descobriam ainda mais sobre feminicídio e a lei Maria da Penha. Não são todos que discutem esse importante tema em casa”, referiu. O educador ainda recordou uma antiga campanha de conscientização que foi trabalhada de maneira semelhante e que gera bons resultados até hoje: “Quando eu era criança ninguém usava cinto de segurança. A campanha de conscientização para o uso do cinto também foi feita nas escolas. É um trabalho de mentalização similar”, completou.

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