“A música é meu ar”, diz o fundador da banda A Virgo

Rafael Decarli fala sobre felicidade, o grupo, amizade e muita música

Luana Ely Quintana
Redação Beta
17 min readJun 15, 2021

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Cantor, compositor, guitarrista, tecladista, saxofonista. Rafael Oliveira Decarli, 25 anos, líder e fundador da banda A Virgo, de Novo Hamburgo, tem a música no sangue: desde criança, quando via os pais cantando, depois na adolescência, quando começou a compor para si mesmo, e até hoje, com a banda e o recente lançamento de seu primeiro álbum, Sofá 7.

Rafael diz que a atividade não traz grande remuneração, mas se diverte ao imergir em seu quarto, vulgo estúdio de gravação, para experimentar batidas e ritmos novos. Apesar da constante autocrítica, ama o que faz e considera a música como o ar sem o qual ele não pode viver.

Em conversa via Whatsapp, realizada em junho de 2021, Rafael fala de seus sonhos, da banda, amizade, composição, shows, pandemia e futuro.

Rafael Oliveira Decarli, 25 anos, é cantor, compositor, guitarrista, tecladista, saxofonista, além de baterista, baixista e fundador da banda A Virgo (Foto: Douglas Hanauer)

Pra você, quem é o Rafael?

Eu acho que eu ainda estou tentando descobrir quem é o Rafael, então eu não sei. Mas quando eu tiver uma respostas eu te mando ela. [risos]

Desde quando a música está na tua vida?

Acho que a música está na minha vida desde sempre. Uma das primeiras memórias que eu tenho, de quando eu era pequeno, são meus pais cantando, ouvindo música — no carro, em fitas — ou tocando algum instrumento mesmo. E lembro de sempre ouvir, então eu acho que desde sempre a música está na minha vida. Mas eu comecei a tocar mesmo foi com uns 14 anos. Eu lembro que antes disso eu sempre queria tocar bateria e a minha mãe não gostava muito porque iria fazer barulho pra cacete.

O que a música significa pra você?

Poxa, hoje em dia, ela [a música] é meu “ar”. É uma impossibilidade de não existir. Ela precisa existir sempre e a todo momento ela está existindo dentro da minha cabeça. Mesmo que não seja, necessariamente, eu fazendo alguma coisa mas, sim, pensando alguma coisa. Sempre tem algum ritmo, sabe? Em algum lugar ali, na minha cabeça, está batendo um ritmo. Nem que seja quando eu estou falando, como nesse exato momento. [risos]

Por que você compõe músicas?

No começo, na minha adolescência, foi porque eu já tocava, cantava, e aí foi uma mistura da angústia de querer falar e jogar coisas para fora que eu não queria, necessariamente, que alguém ouvisse, então eu gravava e ficava só pra mim; e, ao mesmo tempo, a incapacidade de tocar coisas dos outros. Eu sempre tive preguiça de aprender a tocar as músicas das outras pessoas. Então fazer as minhas próprias [músicas] era muito mais fácil porque não tinha errado, não tinha certo. Inclusive, hoje em dia, muitas músicas d’A Virgo saem de eu pegando a guitarra, me lembrando de uma música de alguém, tentando tocar e tocando outra coisa, daí acabo gostando e passando adiante.

Para Rafael, a música é como o ar e está com ele a todo momento. (Foto: Douglas Hanauer)

Compor letras e sons vem naturalmente para ti?

Hmm. Mais ou menos. São casos e casos. Os sons às vezes vêm muito fácil, como em uma onda, e parece que simplesmente existe dentro dela [da onda] e faz o que ela te manda; e às vezes é um processo mais lento, trabalhado, entroncado, pra achar exatamente o acorde que tu quer, a melodia que tu quer, ou as palavras que tu quer.

Mas as palavras, a minha escrita lírica, é muito mais automática. Eu escrevo um monte de coisa e, depois de um tempo, eu vejo que aquilo significava alguma coisa, ou não, né, depende muito da letra. Não! Sempre significa alguma coisa. [risos]

Quais as tuas principais inspirações?

Então, isso vai variando muito, de acordo com o tempo. Já variou muitas vezes durante a minha vida inteira. Quando eu comecei a tocar, por exemplo, minhas principais inspirações vinham do grunge, daquele pessoal que tocava guitarra alto demais e cantavam meio alto demais, tipo Nirvana, Alice in Chains, Soundgarden. Quando eu comecei a tocar essa era a vibe, era isso que me inspirava.

Com o tempo eu fui passando para outros estilos de música, outros artistas, como o John Frusciante — guitarrista do Red Hot Chilli Peppers. Ele tem uma carreira solo que sempre me instigou muito a fazer as minhas próprias coisas, porque ele tem vários ‘estágios’ dentro das fases dele que são de acordo com a vida dele. Pra mim isso faz sentido e sempre me acompanhou durante um grande tempo de desenvolvimento meu. E, atualmente, quem mais tem me inspirado de verdade é o Prince; porque ele tem muita coisa, muito material de muitos estilos diferentes e tem sido uma jornada muito interessante e grandiosa pra mim, pra descobrir essas coisas.

“Fazer as minhas próprias músicas era muito mais fácil porque não tinha errado, não tinha certo”

Além disso tem muita gente nos entremeios. Muita gente que tem tanta influência quanto os “majoritários”, digamos. Por exemplo, eu tenho ouvido muito o álbum da Véronique Vincent & Aksak Maboul. Eles têm um álbum que se chama Ex-Futur, que eu tenho ouvido muito, ele tem muita bateria eletrônica, muita composição diferente e eu tenho ouvido MUITO esse álbum específico, embora eu não conheça direito os artistas. Mas eles têm me influenciado muito nas minhas próprias composições, tanto quanto as pessoas que eu admiro mais, como Prince, Mac DeMarco, Thundercat e muitos outros. Fazer as minhas próprias músicas era muito mais fácil porque não tinha errado, não tinha certo.

Você acha que a música ainda pode mudar a forma como as pessoas pensam hoje em dia?

Eu acho que não só pode, como muda. Muito, inclusive. Tanto liricamente, com os temas que as músicas abordam, quanto em estado geral da sociedade, de acordo com as suas sonoridades, batidas e influências. As músicas passam muitas emoções diferentes, que podem ser diversas, de acordo com o que está na moda naquele momento. E acho que essa questão pode, muito bem, influenciar o jeito que as pessoas pensam.

Como é a sua relação com a cena cultural da sua cidade?

Novo Hamburgo é uma cidade meio esquisita. Ao mesmo tempo que tem muita gente desenvolvendo projetos, as coisas tomam muito mais uma proporção de hobby e diversão, do que de realmente fazer e falar alguma coisa. Esse é o sentimento que eu tenho da cena daqui.

A minha relação é de tentar propor coisas e de tentar desenvolver coisas que sejam sérias e que sejam de verdade, que não sejam apenas, sei lá, palavras ao vento, e tentar fomentar as coisas que eu vejo valor. Muito mais do que fomentar só por fomentar, ou só pela moda, só pelo hype de fazer alguma coisa e falar alguma coisa que tu nem sabe o que dizendo de verdade.

Um grande sonho do músico é se apresentar no Lollapalooza (Foto: Douglas Hanauer)

O que você define como arte? Você se considera um artista? O que você busca atingir com a sua arte?

Eu não sei o que é arte. Até hoje eu não sei o que é arte. Eu tenho muitas ideias sobre o que é, ou como ela é, ou como ela não deve ser, mas, no fim do dia, é sempre uma incógnita pra mim. Acho que é uma visão muito pessoal até. Por exemplo, se alguém pega e joga um barro na parede e diz que é arte, eu não vou ir lá e dizer que é arte também. Mas eu também não posso dizer que não é, entende? Porque vai de acordo com o ponto de vista da pessoa. Enfim — [suspira] — essa é uma pergunta difícil pra caramba pra mim.

Se eu me considero um artista? Eu me considero, porque o meu produto acaba virando arte e tem o apelo artístico de criação intelectual e de criatividade. Então me considero sim, apesar de que não tanto. Porque pra mim, fazer música é muito mais um processo de diversão e de reflexão pra mim mesmo e das coisas da minha vida, muito mais do que algo a ser admirado necessariamente, sabe? Então, eu não tenho certeza. [risos] Mas eu acho que sim.

[pausa]

Eu acho que eu busco trazer algum sentimento bom. Seja nas músicas tristes, seja nas músicas felizes. Um sentimento bom de que existe alguém fazendo alguma coisa, existe alguém pensando alguma coisa, alguém dizendo alguma coisa, que tu já pensou em dizer, e consiga se conectar com a minha ideia. Agora, o que atinge mesmo, eu não sei.

Qual seu sonho de lugar pra se apresentar?

Olha, um sonho muito grande é de me apresentar no Lollapalooza, seria sensacional. E eu já sonhei muito com isso. Mas, ultimamente, o que eu mais quero é só voltar a tocar mesmo, porque é muito ruim não estar se apresentando. Mas eu tenho muita vontade de tocar, por exemplo, no Agulha, que é uma casa de shows de Porto Alegre que eu acho muito massa e gostaria muito de tocar lá mas nunca.. Nunca não né, ainda não não tive a oportunidade.

Até hoje eu não sei o que é arte. Eu tenho muitas ideias sobre o que é, ou como ela é, ou como ela não deve ser, mas, no fim do dia, é sempre uma incógnita pra mim.

Rafael começou a tocar instrumentos aos 14 anos de idade, embora a música esteja em sua vida desde pequeno (Crédito: Arquivo pessoal)

O que é felicidade pra você?

Poxa, pra mim — [pausa] — não é um “estado de espírito constante”, como a gente é ensinado a vida inteira. Não é algo como “ah, quando eu fizer tal coisa eu vou ser feliz” ou “quando acontecer tal coisa comigo eu vou ser feliz”. Eu acho que é muito menos isso. Eu acredito que felicidade é um estado de tranquilidade, digamos, com tudo que acontece. Não é “ficar tranquilo” por ficar tranquilo; é as coisas acontecerem, elas [as situações] terem seus altos e baixos, e a gente estar ciente disso e cientes também de que o nosso objetivo é manter esse “estado de felicidade” consciente, mesmo que não estejamos nele no momento. Saber que é algo que vai voltar, eventualmente, e vai ir embora de novo. É sempre uma onda pra mim. Não sei se consegui explicar, mas é isso.

Acho que felicidade é uma onda.

Se tu pudesse dar um conselho para o Rafael do passado, qual seria esse conselho?

Olha, eu acho que não ia fazer a menor diferença. Porque o Rafael do passado nunca ia ouvir o conselho, mesmo que fosse do Rafael do futuro. Porém, eu provavelmente diria pra ele fazer exercícios e praticar mais os instrumentos… e a ser sempre melhor.

A banda hamburguense ‘A Virgo’ é composta por Gabriel Ost (à esquerda), Rafael Decarli (centro) e Pedro Meyer (à direita) (Foto: Douglas Hanauer)

“Se precisasse definir a banda em uma palavra, provavelmente seria: RISADA”, conta o músico e fundador d’A Virgo

A Virgo nasceu em 2016, em Novo Hamburgo/RS, tendo lançado seu primeiro EP, Psicotropical, um ano depois. Desde o início, a banda carrega influências diversas da música estrangeira e nacional. Seu estilo abrange Indie-rock, Neo-psicodelia e Dreampop. Em 2019, após lanças três singles duplos, a banda começou a organizar shows independentes, com a ajuda de parceiros. Em 2020, foi o ano de lançamento de seu primeiro álbum completo, Sofá 7. O grupo é formado pelo fundador da banda, Rafael Decarli (guitarra, voz, teclados); Gabriel Ost (bateria); e Pedro Meyer (baixo). A banda já fez vários shows em diversas cidades da Região Metropolitana. Confira a segunda parte da entrevista com o músico Rafael Decarli.

Rafael Decarli, guitarrista, vocalista e tecladista (Foto: Douglas Hanauer)

Como vocês se conheceram e como a banda surgiu?

Poxa, então, a banda surgiu em 2017. Mas o projeto começou em 2016, que foi quando eu gravei umas coisas, gravei o EP [Psicotropical] e lancei ele em 2017, mas ainda não tinha banda nenhuma, era só eu. Na sequência eu conheci o João Lucchese, que foi o nosso primeiro baterista, e a gente fez uma troca: eu comecei a tocar baixo numa banda com ele, que fazia covers em bares, e ele a tocar bateria na minha banda [risos]. Ele me deixou gravar algumas coisas no estúdio dele lá e tal. E, dentro disso, já veio o Gui Schmidt, que foi nosso primeiro baixista, que era amigo de um baixista que eu tinha numa banda anterior, e eu conheci ele no meio desse “rolê”. E foi isso, foi meio aleatória essa primeira formação. Aí juntei esses guris e a gente tocou. Esse foi o começo.

“A gente começou a tocar um monte de coisas e ele ficou assustadíssimo porque tudo isso foi do nada”

Gabriel Ost, baterista (Foto: Douglas Hanauer)

E os atuais, que são o Pedro Meyer e o Gabriel Ost.

O Ost eu conheci na Unisinos, na verdade, eu estudava lá, e aí eu tinha recém feito o EP Psicotropical da banda e estava com os EPs pra vender. Aí um dia eu fui ali no Bar do Alemão com uma colega minha e ela sentou na mesa que estavam mais um monte de gente. Sentei ali, fiquei conversando com as pessoas, fiquei conversando com esse belo rapaz, que se chama Gabriel Ost, e ele pareceu muito interessado no trabalho da banda, comprou um EP e foi super querido comigo, falou que era baterista também, que tocava em uma banda. Aí nós conversamos um pouco, viramos meio amigos, tipo aqueles conhecidos que tu vive longe mas pensa “pô, esse cara é legal, queria ser amigo dele”. Quando o João [Lucchese] estava pra sair da banda eu lembrei que o Ost tocava bateria, abordei ele no meio da Unisinos um dia e perguntei “Ô, meu, não quer vir fazer um teste com a gente?”. Mas um teste mais ou menos, né, eu chamei de teste, provavelmente, mas na real já era só pra ter certeza que ele conseguia segurar duas baquetas, basicamente. [risos] Ele disse que sim, que ‘pilhava’ e tal. Na verdade, eu nem sei como foi pra ele, é uma questão interessante, um dia eu vou perguntar pra ele como que foi. Enfim, ele chegou pra fazer o tal do teste que, no caso, nem era um teste, já era um ensaio com transmissão ao vivo pelo Facebook. A gente começou a tocar um monte de coisas e ele ficou assustadíssimo porque tudo isso foi do nada. Mas foi, basicamente, assim que eu conheci e comecei a tocar com o Gabriel Ost.

Gabriel Meyer, baixista (Foto: Douglas Hanauer)

O Pedro [Meyer] foi… eu não tenho certeza. O Pedro estava em alguns shows da banda no início. Depois que o Ost entrou, o Pedro assistiu alguns shows mas eu conheci ele muito de longe. Fui conhecer ele melhor quando a gente tinha um espaço cultural aqui em Novo Hamburgo, na frente do Bourbon Shopping, e a gente fazia alguns eventos ali, algumas festas, algumas jams e o Pedro ‘colava’ ali às vezes. E foi assim, a gente foi conversando. No começo, eu não queria que o Pedro entrasse na banda porque eu não achava que ele teria o perfil, sabe? Eu sabia que ele tocava baixo mas pensava “bah, vamos tentar outras pessoas antes”. Ele tem esse estilo meio grunge metal, ‘cabeludão’, estava sempre vestido de preto e, apesar de ser o mesmo background que eu, não achei que ia encaixar muito bem na sonoridade da banda. Por fim, tentei ele, já não achando que ele ia tocar muito o que eu imaginava que ele deveria tocar, mas ele tocou super bem e fez tudo sensacionalmente bem, além de ser um querido. E aí funcionou bem pra todo mundo. Além de que, ele já tinha ouvido a banda antes, quando nossas músicas tocavam na Rádio Unisinos FM. Segundo o que ele me fala, os pais dele gostaram da banda e ele contou para os pais que ia tocar junto da banda um dia. [risos] Foi massa.

Quais foram as principais inspirações da banda?

No início, teve uma trinca de Boogarins, Tame Impala e Melody’s Echo Chamber, acho que essas foram as três bandas que mais influenciaram naquele momento. E aí tinha o background também de Júpiter Maçã, background de Pink Floyd… Começou pra ser bem rock psicodélico mesmo. Hoje em dia já mudou, mas no início era isso.

Se precisasse colocar em uma única palavra, como tu definiria a banda A Virgo?

Essa palavra provavelmente seria: RISADA. Porque é basicamente o que a gente mais faz, a todo momento. Seja em show, seja em ensaios, seja conversando uns com os outros. E é uma delícia, simplesmente.

Videoclipe do single “Camel Blue”, lançado em 2 de abril de 2020

“Às vezes a gente tende a mistificar muito a arte e o entretenimento, quando na verdade eles são só um escape”

Quão importante você considera o trabalho da banda, que pode durar muito tempo depois de você estar morto?

Eu considero mais uma pedra no rio. Eu não penso muito sobre o que vai ser depois. Pô, não cabe a mim, cabe à sociedade do futuro. [risos] Seja ela qual for. Isso SE a gente tiver um futuro, né, mas enfim.

Então eu considero importante, tanto quanto outros trabalhos que também são importantes. Eu acho que às vezes a gente tende a mistificar muito a arte e o entretenimento, quando na verdade eles são só um ‘escape’ em meio a tantas coisas subjetivas e meio ruins que a gente vive. A arte tá sempre ali pra nos alegrar, então eu acho que é importante, tanto quanto todos os outros.

O que você mais gosta em se apresentar com a banda?

Errr… Não sei. [risos] Realmente não sei, porque geralmente depois dos shows eu não me lembro direito como foi o show. Talvez porque eu sempre toque com o olho fechado e ai eu não vejo passar. Mas acho que o mais divertido é tocar e ter uma resposta instantânea do público, sabe? Tipo, quando tu faz um solo, às vezes de um jeito até meio estranho, que gera uma resposta do público. Mas é, acho que é isso. Essa é a parte que eu mais gosto e mais tenho saudades. Quer dizer, eu tenho muita saudade da brincadeira toda também, do estado antes do show, e de conversar com as pessoas depois do show também, é muito legal. Então, muitas coisas, aparentemente. [ri] Principalmente agora que está com um gostinho muito mais saboroso de saudade.

Qual o maior sonho da banda?

Esse sonho vai escalando. A gente tinha o sonho de ter muitas views, e a gente conseguiu. Tinha o sonho de lançar um álbum, e a gente lançou. A gente tinha o sonho de fazer show com bastante gente, com, sei lá, 20 pessoas, a gente fez; 30 pessoas, a gente fez; 60 pessoas, a gente fez. O último foi com 150 pessoas e foi sensacional. Então eu acho que o maior sonho é o próximo sonho. Agora, pra mim, é tocar pra, sei lá, mil pessoas. Vai ser incrível se isso acontecer um dia.

Além disso, acho que gravar as coisas com mais qualidade, porque quem grava tudo sou eu, aqui na minha casa, no meu quarto, com o meu computador… E as minhas habilidades são muito limitadas pra desenvolver um trabalho que seja competitivo. Então, esses são os dois grandes sonhos: tocar pra bastante gente e gravar as coisas do melhor jeito possível.

No ano de 2020, durante a pandemia da Covid–19, A Virgo lançou seu primeiro álbum (Foto: Douglas Hanauer)

Qual é o papel da amizade quando se trata de estar em uma banda?

Olha, eu acho que amizade é essencial. Eu já estive em banda com gente que eu não era muito amigo e já estive em banda com gente que eu era muito amigo. Independente de qual banda soava melhor, eu sempre me sentia muito melhor nas bandas que a gente tinha uma camaradagem muito grande, uma amizade muito bonita envolvida.

“Eu acho que o maior sonho d’A Virgo é o próximo sonho”

No caso d’A Virgo, os maiores benefícios que isso [a amizade] traz é a gente estar sempre de boas e sempre tranquilos uns com os outros. Se a gente brigar, ter a capacidade de olhar no olho do outro e discutir isso como gente civilizada, e não com mágoa ou com qualquer coisa assim. Também a possibilidade de tu poder ser honesto quanto à sonoridade das coisas. É muito difícil tu ser honesto, falar que o timbre da pessoa tá sendo uma bosta quando tu não conhece direito a pessoa. Mas pro teu amigo tu fala ‘suave, bem desse jeito. [ri]

Mas eu acho que o maior papel é, realmente, se sentir à vontade. Se tu tá se sentindo à vontade com as pessoas dentro da banda, o resultado final vai ser melhor. Acho que é por isso até que, muitas vezes, os nossos shows são melhores que as gravações. Porque no show a gente tem toda essa bagagem que são as nossas vivências e a nossa camaradagem. Eu acho que o maior sonho d’A Virgo é o próximo sonho.

Álbum Sofá 7, lançado em julho de 2020.

Como está a produção durante a pandemia? Vocês lançaram o primeiro álbum da banda, Sofá 7, em 2020, já estando em toda essa situação?

Sim, vai fazer um ano de lançamento do Sofá 7 mês que vem, em julho. E depois disso a nossa produção foi ficando mais lenta, porque quando eu fiz o álbum, ele era pra ter 11 músicas e eu coloquei 16 no final. E isso acabou ‘gastando’ muito a composição que eu queria ter desenvolvido melhor, mas não desenvolvi porque eu queria lançar de uma vez, sabe? Eu já estava meio cansado de ficar mixando, remixando, masterizando, remasterizando…fazendo esse processo várias vezes pra que ficasse numa qualidade relativamente boa, ou boa o suficiente. Mas, obviamente, não adiantou. Quando lançamos eu queria voltar e fazer tudo de novo.

Single d’A Virgo chamado ‘Meu Amor’, composto por Ana Maria Oliveira Decarli e Loreni Romeu Decarli (foto), pais do vocalista Rafael Decarli

Enfim, a produção de músicas mesmo está voltando agora, nesse momento. A gente lançou um single novo recentemente, que é uma composição dos meus pais que eu gravei, que se chama Meu Amor. E tem algumas coisas ainda na gaveta, só que eu não sei como a gente vai fazer os lançamentos, se será um novo EP, ou guardar pra um futuro álbum, ou até lançar como singles, não sei ainda.

Então neste entremeio, desde o lançamento do álbum, a gente tem pensado em outros tipos de conteúdo. Lançamos um clipe, da música 419 Tupi, que está no álbum. Vamos lançar mais um videoclipe da música Gin, que vai ser em animação, com parceria de uma amiga nossa de São Paulo. E é isso, dentro disso, temos seguido um passinho de cada vez. O que a gente quer mesmo é tocar. Era o que planejávamos e é o que continua no nosso desejo: tocar em vários lugares possíveis, o máximo que a gente conseguir.

Você se considera o seu maior crítico?

A resposta curta é sim. [risos] Eu acho que eu sou a primeira pessoa a pensar em todas as possibilidades críticas pro meu trabalho. Isso para que eu não seja surpreendido por nenhuma crítica. É meio que uma autopreservação, talvez, não sei.

Mas eu sempre penso em tudo que não está perfeito pra eu saber quais são as dificuldade que eu tenho, pra eu conseguir melhorar no futuro. Aí eu utilizo todo o meu senso crítico para me criticar primeiro. Isso não quer dizer que eu diminua o valor das coisas que eu faço. Eu só tenho a consciência de que não está o melhor possível que poderia estar, mas está o melhor possível que eu posso fazer, basicamente.

“Eu acho que eu sou a primeira pessoa a pensar em todas as possibilidades críticas pro meu trabalho. É meio que uma autopreservação”

Videoclipe da música “419 Tupi”, laçada em 3 de novembro de 2020

Para finalizar, qual o seu maior sonho perante a carreira/vida musical?

Eu acho que o maior sonho é conseguir desenvolver o mesmo trabalho que eu desenvolvo, só que com mais qualidade e sendo pago pra isso, o que seria ótimo. Porque eu não teria que gastar grande parte do tempo trabalhando em outras funções, como é o que eu faço hoje. É um sonho bem normal, né? [risos] Podia ser um sonho estratosférico de, sei lá, tocar no Faustão, mas não é. Sendo bem honesto, ele [o sonho] é bem simples e direto. Claro, isso tudo tendo a mesma felicidade que eu tenho hoje, desenvolvendo o meu trabalho, e, se for possível, fazer isso com uma verba fixa remunerando.

Último show da banda banda A Virgo, antes da pandemia da Covid-19, no Abbey Road Bar, em Novo Hamburgo, no dia 31/1/2020. (Foto: Douglas Hanauer)

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Luana Ely Quintana
Redação Beta

Jornalista e estudante de História na Unisinos. Constantemente bebendo café e descobrindo cinema novo. Sempre lendo, porém (quase) nunca finalizando os livros.