Evento discute os entraves enfrentados pelos povos indígenas ao direito à terra
A terceira Semana de Estudos Amazônicos discutiu o embate dos índios pela terra e a luta para manter a sua cultura viva
A preservação ambiental e a liberdade de expressão das comunidades indígenas foram temas discutidos na 3ª Semana de Estudos Amazônicos (SEMEA), evento realizado entre os dias 16 e 18 de outubro, no Auditório Central da Unisinos. Durante os três dias do encontro, palestras contaram com a presença de lideranças indígenas como a ex-candidata à vice-presidência, Sonia Guajajara, do PSOL.
No dia 18, a mesa da manhã intitulada Terras e Territorialidades na Amazônia trouxe o debate de como os povos indígenas lidam com os entraves relacionados ao direito à terra. Com mediação do Pe. Vanildo Pereira, do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), os representantes Paulo Marubo, da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Joaquim Melo, do Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) e Dorvalino Cardoso, líder indígena Kaingang, pautaram suas experiências.
Formado em Pedagogia pela UFRGS e líder de sua comunidade desde que completou a maioridade indígena (13 anos), Cardoso abriu o evento falando sobre a preservação dos costumes identitários indígenas como a língua e as danças típicas de cada etnia. “Isso foi o que restou das nossas identidades depois que o povo branco colocou igrejas e escolas dentro das tribos”, relatou o líder kaingang.
Olhando para o lado de sua formação, o pedagogo citou propostas pedagógicas que, dentro da escola, precisam abranger diferentes etnias. “Como eu vou ter somente uma proposta pedagógica para o índio, o alemão, o italiano, se as raízes dessas crianças não são as mesmas?”, questionou.
Ao discutir o tema central da mesa, Paulo Marubo relatou a dificuldade da luta em defesa da territorialidade, acarretada por questões como a devastação florestal, a poluição dos rios, e a pesca e caça ilegais. De acordo com Marubo, essas questões geram transtornos psicossociais em toda a comunidade da tribo. “Vira um círculo vicioso, pois com a devastação das matas perdemos alimentos, que vão desde os animais até as frutas. Com a poluição dos rios, além de perdermos água para beber e fazer nossos rituais, também perdemos alimento. Não existem peixes em águas poluídas”, desabafou.
Ao dissertar sobre a questão da territorialidade, Joaquim Melo, do CNS, salientou que os problemas para a demarcação de terra ocorrem em todo o país. “Há uma quantidade enorme de parentes que morrem todos os dias tentando defender suas terras”, relatou. Ele lembrou ainda que a maior briga não é por espaço vasto de terra verde, mas sim por lugar com espaço mínimo para que a tribo possa se desenvolver e, principalmente, com um rio que não seja poluído com o passar do tempo. “Eu me pego pensando, várias vezes, que o nosso povo é o que mais valoriza e tenta preservar as coisas que Deus fez e nos deu. Porém, não temos o mínimo de apoio de quem deveria estar 100% ao nosso lado: as igrejas”, revelou Melo.
Para finalizar o evento, as pessoas puderam fazer questionamentos acerca do que foi conversado. De maneira geral, a fala da comunidade acadêmica ali presente foi ao encontro do que os representantes falaram, reforçando a importância da territorialidade e o bem-estar do povo indígena.