Beta Redação entrevista Ana Amélia Lemos (PSD), candidata ao Senado pelo RS

Jornalista foi senadora entre 2011 e 2019 e tenta novo mandato pelo Rio Grande do Sul em 2022

Laura Rolim
Redação Beta
9 min readSep 26, 2022

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Ana Amélia Lemos durante conversa com a repórter da Beta Redação. (Foto: Beta Redação/Divulgação)

Para acompanhar as eleições de 2022 e ajudar os eleitores a escolherem seus candidatos no pleito geral deste ano, a Beta Redação — publicação do Laboratório Experimental de Jornalismo da Unisinos — decidiu entrevistar os candidatos mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto ao Senado no Rio Grande do Sul.

A série conta ainda com a entrevista exclusiva com Hamilton Mourão (Republicanos). A assessoria do candidato Olívio Dutra (PT) foi contatada, mas não respondeu ao pedido de agendamento da entrevista.

Natural de Lagoa Vermelha, Ana Amélia Lemos é jornalista e teve passagens por diversas empresas de comunicação, como na Rádio Guaíba, no Jornal do Comércio e no Grupo RBS. Foi eleita senadora pelo Rio Grande do Sul em 2010, quando recebeu 29,5 por cento dos votos válidos e permaneceu no cargo até 2019.

Em 2018, Ana Amélia decidiu não concorrer à reeleição ao Senado para disputar a Presidência da República na chapa de Geraldo Alckmin — na época, candidato do PSDB.

Também foi secretária estadual de Relações Federativas e Internacionais do governo do Estado na gestão Eduardo Leite, quando atuou em pautas como a homologação da adesão do Rio Grande do Sul ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF).

É autora de leis para a saúde, entre elas iniciativas voltadas aos pacientes com câncer, e também em áreas como agricultura, municipalismo, finanças e economia.

A Beta Redação conversou durante 30 minutos, na última quarta-feira, dia 14 de setembro, com a ex-senadora e candidata do PSD nas eleições de 2022. Ela falou sobre o início na vida política, os motivos para concorrer outra vez ao Senado e os avanços de pautas específicas para o Estado.

Confira abaixo a íntegra da entrevista exclusiva feita por videoconferência:

Beta Redação: como foi o início da vida política. O que a levou para esse meio?

Ana Amélia: quando eu encerrei a minha carreira na atividade jornalística, em 2010, é porque todos nós temos prazo de validade naquilo que fazemos. Eu havia esgotado já. Eu sabia todas as respostas que os entrevistados dariam. E aí, a nossa profissão perde um pouco de originalidade e a novidade. O jornalismo é uma constante mudança. Em poucos instantes as coisas mudam, os fatos acontecem.

Na minha cobertura política e de economia, que eu fazia comentários, havia uma repetição das coisas. Nesse momento, entendi que havia esgotado. Até pelo advento das redes sociais, cada cidadão passou a ser um jornalista, um divulgador, um repórter das coisas que ele via e divulgava. Por isso, o fenômeno dos chamados influenciadores digitais ou blogueiros.

Eu entendi que depois de ter pensado e sido convidada muitas vezes para entrar na política como candidata, porque tinha muita visibilidade, por conta da televisão, eu decidi aceitar o desafio. Porque eu entendo que a política e a comunicação tem muitas coisas em comum. Essa afinidade das duas funções. Da função pública do jornalismo, da responsabilidade com a verdade, com a transparência e a transmissão dos fatos como eles são e análise crítica. E a política também permite esse exercício. Respeitando sempre as peculiaridades de cada assunto, de cada tema. Alguns com componentes ideológicos, outros com componentes étnicos, mas você tem que sempre transitar diante do senso médio, senso comum e do bom senso, sobretudo, sempre que for possível.

Beta Redação: o que lhe motivou a concorrer novamente ao Senado?

Ana Amélia: para não me culpar amanhã ou depois. De pensar: “Ah, eu poderia ter dado a minha contribuição’’. A experiência que eu tive foi muito rica em oito anos, e fui me acomodar para fazer as coisas que eu gosto, num egoísmo que não é do meu perfil pessoal. Na verdade, eu não preciso da política para me satisfazer financeiramente ou pessoalmente, a política para mim é uma missão. E como tal, eu decidi de fato, dar a experiência que eu adquiri em oito anos de mandato, de 2011 a 2019.

Digo para você, com toda a franqueza e com toda a sinceridade, aprendi mais nos oito anos como senadora do que em 40 anos como jornalista. Porque o exercício da política no Senado era a habilidade de você conviver com as diferenças, respeitando, podendo transitar com liberdade e com resultados no trabalho. Obtendo apoio das correntes divergentes pela argumentação que eu fazia das teses que eu defendia lá. Projetos muitos importantes de interesse da saúde pública, especialmente das mulheres. Então, eu só consegui isso graças ao respeito que eu tive no relacionamento com os meus adversários políticos.

Beta Redação: as mulheres são, hoje, a maioria da população, mas ainda são pouco representadas na política. Como você avalia e a que atribui esse quadro? Como foi estar em um ambiente majoritariamente masculino? Enfrentou algum tipo de preconceito?

Ana Amélia: no jornalismo, quando eu comecei, só eram homens. Eu era a única mulher que fazia jornalismo econômico no Rio Grande do Sul. Quando eu cheguei em Brasília, lá em 1979 como jornalista, a maioria eram homens. Quando eu fiz a faculdade, 90% eram homens. Isso é da libertação da mulher, da consciência das mulheres no sentido de buscar uma profissão, buscar o seu mercado de trabalho, buscar as suas escolhas e não ficar determinada a noivar, arrumar um namorado, casar e achar que a independência é o casamento. Não. Hoje é um conceito muito mais moderno de realização pessoal.

Então, você vê, quantas mulheres estão na política hoje? Um índice muito menor do que qualquer país avançado no mundo. Nós somos um número muito menor, um percentual muito menor de mulheres na política. Mas em compensação, no Brasil, você tem um número cada vez maior de mulheres nas carreiras do Estado. Como juíza, como procuradora, promotoras de justiça, como policiais, como delegadas. Você tem na diplomacia, você tem até nas Forças Armadas ou na Brigada Militar.

Então, um número cada vez maior. Mas o acesso a essas carreiras é pela via de um concurso público. Ela se torna uma servidora pública estável. Já na política é instável. E, para ela, entrar nessa atividade política é via voto. E o voto também é uma barreira, uma dificuldade, um empecilho. Com um sistema de fundo partidário ou fundo eleitoral, se tornam muito restritos os espaços da mulher.

Aquela que tem maior visibilidade, mais viabilidade, tem maiores condições, evidentemente. Mas, você tem que abrir espaços mais concretamente para as mulheres. As cotas de 30% da nominata já foram um avanço. Só que ela não estava combinada também com o mesmo percentual de recurso para financiar a campanha eleitoral da mulher. Até o tempo que a Justiça Eleitoral determinou que 30% do recurso do fundo teria que ir para as mulheres. Então, isso aí deu mais equilíbrio.

Quando eu cheguei no Senado, em 2011, eram 12% de mulheres e 8% na Câmara Federal. E olha que a Câmara são 513 e o Senado só 81, então, em 2011, o número de mulheres no Senado, proporcionalmente, era maior que na Câmara. Hoje, é o maior número. Na Câmara já subiu para 15% e no Senado também já aumentou o número de mulheres. Eu acredito que isso é gradativo. Não pode ser de uma maneira forçada. Você não pode forçar.

As mulheres estão tomando muita consciência da sua capacidade, da sua presença como o maior número de eleitores no Brasil, que são mulheres. Pela primeira vez, numa disputa eleitoral que eu estou participando, eu percebo a manifestação concreta das mulheres. Elas olham para mim e dizem: “eu vou votar em você porque você é mulher. Porque você trabalhou muito. Você é honesta, você me representa, então eu vou votar em você”. Então, o primeiro indicador do voto é: “eu sou mulher”. E o voto é da mulher.

Esse é um sinal novo. Se ela está disposta a votar e a decidir o destino que vai ter na ação política, escolhendo um bom parlamentar, seja deputado estadual, federal, ou senador, ela também está dando demonstração de que ela poderá amanhã ou depois entrar na carreira política. Como vereadora, deputada, enfim, na carreira que parecer mais conveniente para ela.

Beta Redação: nos oito anos de Senado, o que a senhora aprendeu? Até onde um senador consegue avançar em pautas específicas do seu Estado em um ambiente de muita disputa política e de discussões que muitas vezes ficam distantes da vida das pessoas?

Ana Amélia: no jornalismo nós dizemos o que queremos. Nós não temos contestação. Nós emitimos a nossa opinião e, raramente, quando você chega num grau de maturidade e de respeito perante a opinião pública, a tendência é que o telespectador, leitor da sua coluna ou ouvinte de rádio, concorde com o que você está dizendo, porque você está representando o pensamento médio da sociedade e era isso. Eu aprendi muita coisa. Os 3,4 milhões de votos que eu recebi em 2010 foram o julgamento que eu tive como jornalista. O reconhecimento dos eleitores gaúchos que me deram aquela votação extraordinária. Então, esse foi um lado.

Por outro lado, como eu aprendi como jornalista, era eu que falava. Era eu que emitia a minha opinião. Quando eu chego no Senado, tem uma divergência e uma diversidade de posições lá dentro. Tem a oposição, tem a situação que defende o governo. Tem as pessoas que são intermediárias entre governo e oposição. Então, é esse exercício de convivência com as diferenças ideológicas, políticas, partidárias, que fazem você ter um exercício novo de convivência respeitosa.

Porque, para você ter um apoio para aprovar uma lei, como eu aprovei muitas leis, eu preciso ter o apoio dos divergentes pelo convencimento. Não é no grito. Não é no desrespeito. Pelo contrário, é na argumentação, na fundamentação e de você mostrar por “A+B”, para aquele adversário político teu, que aquele projeto é importante para a sociedade. Não é para o meu partido. Não é para a Ana Amélia. É importante para a sociedade. Quando você tem essa capacidade de convencimento, você consegue um resultado muito efetivo.

Beta Redação: há uma polarização muito forte e presente nas eleições deste ano. Como você enxerga e de que forma isso pode ser tornar um obstáculo?

Ana Amélia: a polarização é normal na política e na democracia. Você não pode entender a polarização como uma coisa ruim, negativa. Não, ao contrário. O que seria de nós se todo mundo torcesse pelo mesmo time? Se todo mundo gostasse só do amarelo ou só do verde, do azul, ou só do vermelho? A política é a diversidade. Você tem que transitar dessa forma.

A polarização faz parte da natureza política, se não, seria ditadura. Nós vivemos uma democracia. O que não é bom é a radicalização, é o estabelecimento de grupos de ódio, essas coisas radicais. Isso não é bom, porque isso afasta. Você divide mais a sociedade. Mas o debate político, o enfrentamento, tudo isso faz parte da democracia.

Eu acredito, sim, sinceramente, que nós vamos chegar nessas eleições com muita naturalidade. Vamos fazer uma eleição limpa, tranquila. Pode haver um ou outro caso no País. O Brasil é enorme, gigantesco. É uma das democracias mais sólidas do mundo. Eu acredito muito nas Forças Armadas, no compromisso. É um compromisso democrático. Essas instituições estão do lado da democracia e vão permanecer na democracia com o apoio da sociedade, que também preza muito desse valor da liberdade e da liberdade de expressão.

Beta Redação: caso seja eleita, o que será diferente nesta nova passagem pelo Senado?

Ana Amélia: eu já chego com uma experiência que tive do primeiro mandato. Que foi muito rica. Isso vai me ajudar a ampliar o espaço que eu tenho para trabalhar mais ainda em todos os temas que eu trabalhei. Eu cheguei lá trabalhando muito pela agricultura, continuei e nunca abandonei, mas dando uma atenção muito grande pela saúde, porque temos muitos problemas na saúde. O atendimento do SUS. Pessoas esperando tanto tempo na fila para um exame especializado, para fazer uma cirurgia.

Todos esses dilemas batem lá no Congresso Nacional. O problema das Santas Casas, da tabela do SUS que não é reajustada, dos recursos que precisam ser repassados para hospitais comunitários, todo esse dilema eu aprendi muito a transitar na relação boa com o Governo Federal.

Passei por todos os governos, de direita, de esquerda, e convivi com muita responsabilidade. Na mesma coisa em relação ao nosso Estado. O senador é o representante do Estado. Eu vou usar essa experiência que tive com mais informações. No meio desse caminho teve uma pandemia, em que você teve mais desafios para enfrentar no campo da saúde. E do mesmo jeito que dei apoio na agricultura, vou continuar dando.

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