Exercícios físicos são aliados da saúde mental

TDAH e Síndrome de Burnout podem ter sintomas amenizados com a prática esportiva

Ketlindesiqueira
Redação Beta
5 min readNov 29, 2021

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Durante e após a prática de atividades físicas, nosso cérebro libera diversos neurotransmissores, como a endorfina e a serotonina. (Foto: Freepik/Banco de Imagens)

Com uma rotina exaustiva causada por longas horas de trabalho, estudo e a necessidade de estar conectado muitas horas do dia, o estresse tem sido comum na vida de pessoas de todas as faixas etárias. Como resultado, as pessoas estão desenvolvendo, cada vez mais, a Síndrome de Burnout e o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

Os sintomas da Síndrome de Burnout incluem falta de atenção, esquecimentos constantes, redução da velocidade mental, problemas com impulsos, irritabilidade, tristeza, desamparo e desesperança. De fato, muitos destes sintomas são exatamente os mesmos encontrados no TDAH, mas a prática regular de atividade física pode ajudar no tratamento destas doenças psíquicas.

Não é novidade que, entre os benefícios da atividade física, está a melhora do condicionamento, a redução da taxa de gordura corporal e o desenvolvimento psicológico, mas para quem tem Transtorno de Déficit de Atenção, os efeitos da prática esportiva são ainda mais significativos. “Para uma criança com TDAH que costuma ter um acúmulo maior de energia, que não consegue ficar parada e que é mais curiosa do que as demais, é essencial ser inserida no mundo do esporte”, comenta a psicóloga Patrícia Manica.

Bernardo frequenta a escola na parte da manhã e àtarde faz natação ou jiu jitsu (Foto: Arquivo Pessoal/Andreia Zuchi)

Bernardo Zuchi, 8 anos, foi diagnosticado com TDAH, e atualmente, realiza sessões de terapia juntamente com a prática de natação, além de jiu jitsu e ciclismo. “Antes de ser diagnosticado, ele somente fazia natação, mas com a recomendação da psicóloga, incluí ele em mais atividades. Eu já vejo uma grande mudança no dia a dia e, principalmente, na escola, como no respeito com os colegas, na dedicação e no foco nos estudos”, relata a mãe Andreia Zuchi.

Conforme o instrutor e atleta faixa preta de jiu jitsu, Adriano Smalti, esta modalidade tem o objetivo melhorar a concentração da criança, proporcionar autoestima, disciplina e saúde com total segurança. “Muito mais do que apenas golpes e posições marciais, há o objetivo de fortalecer a relação de amizade entre os colegas, formar o caráter e possibilitar que a criança atinja a adolescência com seus princípios morais já formados”, conclui.

As aulas de jiu jitsu para crianças têm como objetivo melhorar a concentração, proporcionar autoestima, disciplina e saúde. (Foto: Divulgação/Academia Smalti)

Segundo a Psicóloga Patrícia Manica, durante os exercícios, a pessoa libera dopamina e serotonina, hormônios que possuem efeito semelhante aos medicamentos estimulantes. Assim, as crianças passam a desenvolver a habilidade de manter o foco e também de alternar tarefas, além de melhorar o desempenho na matemática e na leitura. Dessa forma, os sintomas de TDAH diminuem significativamente e ainda trazem avanços na vida escolar.

“Além das atividades de educação física que a própria escola oferece em seu currículo escolar, uma atividade extracurricular é uma ótima opção. É importante incluir exercícios físicos durante a semana”, comenta a psicóloga.

Conforme o Ministério da Saúde, o TDAH é um transtorno neurobiológico de causas genéticas, caracterizado por sintomas como falta de atenção, inquietação e impulsividade. Aparece na infância e pode acompanhar o indivíduo por toda a vida. O transtorno crônico atinge cerca de 3% a 6% da população.

A atividade física também é prioridade na rotina

O caso da Síndrome de Burnout ou Esgotamento Profissional é um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, que já pode ser diagnosticada em 30% dos mais de 100 milhões de trabalhadores brasileiros, conforme pesquisa realizada pela International Stress Management Association (Isma).

Trader e representante comercial, Gabriel Duarte, 25 anos, foi diagnosticado com Síndrome de Burnout em 2021. Ele relata que, diante do excesso de trabalho, começou a se sentir estressado e cansado, física e emocionalmente.

O psiquiatra recomendou a Gabriel a prática de exercícios regularmente. (Foto: Arquivo Pessoal/Gabriel Duarte)

“Comecei a reparar nas minhas atitudes, pois não tinha mais apetite, ficando muitas horas consecutivas sob condições psicologicamente desgastantes, com mudanças bruscas de humor, dificuldade de concentração, pensamentos negativos e diminuição do prazer pelas tarefas diárias”, diz Gabriel.

Depois de duas crises de ansiedade, Gabriel foi diagnosticado por um psiquiatra que avaliou seu histórico e os sintomas que estava apresentando. De acordo com a psicóloga Patrícia Manica, a síndrome se assemelha à depressão e à ansiedade, mas é causada diretamente por tensões no ambiente de trabalho.

“A pessoa fica muito triste, pensando nas coisas que deveria ter feito e não fez. Para diagnosticar Burnout não basta apresentar sintomas, mas também observar o tempo, intensidade e frequência com que vem ocorrendo, dentro do contexto de vida da pessoa, em manifestações mais leves. Muitas vezes a psicoterapia pode ser suficiente, mas há casos que necessitam de mudanças de hábitos e medicação”, comenta a psicóloga.

Foi o que aconteceu com Gabriel, que passou a ficar menos tempo em frente ao computador, tomar medicamentos e realizar atividade física todos os dias. “Continuo nas minhas sessões de terapia, mas sinto que é o exercício físico que mais me ajuda. Faço musculação cinco vezes por semana e, no final de semana, pratico uma caminhada. Não deixo mais de fazer alguma atividade, pois virou prioridade, como é o trabalho”, comenta.

Conforme a educadora física, Cristiane Delai, a prática regular de exercícios ajuda no tratamento da Síndrome de Burnout, demonstrando ser um excelente coadjuvante na minimização dos sintomas da doença, porque diminui a ansiedade, a depressão e melhora a autoestima do paciente.

“Com a atividade física, a pessoa libera neurotransmissores relacionados à sensação de bem-estar, como serotonina, dopamina e endorfina, que durante a prática de atividades físicas tem resultados benéficos para o corpo. É importante encontrar o exercício mais adequado e prazeroso. É necessário praticar a atividade física com regularidade e consistência, fortalecendo o hábito”, destaca Cristiane

A psicóloga Patrícia também destaca que o exercício físico previne uma série de comprometimentos funcionais ligados a um processo de hiperativação do sistema nervoso simpático, que é acionado em situações de estresse, e a Síndrome de Burnout se enquadra nesta situação. “Com a mente ocupada com o exercício, temos uma folga de nossas preocupações e emoções negativas. É por isso que muitas pessoas utilizam o exercício físico como uma forma de ‘terapia’. A saúde mental só tem a ganhar quando se associa a atividade física a outros desafios cognitivos”, conclui.

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