Exposição provoca debate sobre representatividade negra nas artes

‘Arte Negra Parede Branca’ é a primeira exposição individual de Estêvão da Fontoura

Marina Salazar
Redação Beta
4 min readMay 20, 2018

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(Foto: Maria Lehmann/Beta Redação)

A abertura da exposição Arte Negra Parede Branca, do artista multimídia Estêvão da Fontoura, ocorreu na última quinta-feira (17), no Centro Histórico-Cultural Santa Casa, em Porto Alegre. A primeira mostra individual do artista tem curadoria de Ana Albani de Carvalho e conta com trabalhos que ‘apostam na conexão entre arte e política pelo viés crítico da ironia e do bom humor’, como a própria curadora descreveu no material de apresentação da exposição.

Logo na entrada da galeria, o título da exposição escrito em letras garrafais instiga no mínimo duas reflexões: o que é arte negra e o que significam as obras penduradas em paredes brancas? Arte negra é toda e qualquer arte produzida por artistas negros mesmo que não sejam sobre o tema. A representatividade surge na tentativa de achar uma explicação para tantas paredes brancas. Estêvão da Fontoura é professor e artista negro e quis provocar o racismo estrutural e institucional das artes. Pensou nas paredes brancas para representar as instituições e a dificuldade que artistas negros encontram para expor suas obras nos museus da cidade.

“Participei de várias exposições, mas todas coletivas e a maioria delas em espaços alternativos, não em uma instituição. Com o projeto Casa Grande, eu e mais oito artistas fundamos um espaço alternativo de arte, um espaço negro. Parece que para o artista negro esses são os espaços que restam. Resta buscar espaços alternativos porque os espaços institucionais estão com as portas fechadas”, conta.

Entre as obras, três chamam mais a atenção por dialogarem com o debate proposto. Um “Quadro Negro” informando importantes dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Anistia Internacional que denunciam o racismo e as desigualdades sociais no Brasil. Outra é um papel preto escrito com letras brancas a escrita é branca, intitulado “A História do Brasil” . Por fim, “Bala Perdida” insiste em encontrar jovens negros nas periferias das grandes cidades do país.

Estêvão também provoca um debate fundamental com a obra “O Papel do Artista”, onde aplica um adesivo sobre rótulos de embalagens de papel higiênico. “ Eu não estou dizendo que o artista é um papel higiênico ou que o artista vai limpar a sujeira. O que eu estou perguntando é que papel a sociedade dá pro artista hoje”, conclui Estêvão. Para ele, a visibilidade é fundamental para que a sociedade avance no debate das relações étnico-raciais.

A artista carioca Renata Santos Sampaio concorda e relata que a visibilidade negra em exposições de artistas negros quebra o mito de que o Rio Grande do Sul é um estado onde não existem negros e negras e que podem estar aonde quiserem. “Quando um artista negro faz um trabalho como esse e expõe num lugar como a Santa Casa, ele representa muita gente, coloca uma realidade em choque com pessoas que talvez não a conheçam. É muito importante, eu me sinto muito feliz quando entro num lugar desses e me sinto representada no que estou vendo,” conta Renata.

(Fotos: Marina Lehmann/Beta Redação)

SERVIÇO

ARTE NEGRA PAREDE BRANCA

Artista: Estêvão da Fontoura

Curadoria: Ana Albani de Carvalho

Quando? 18 de maio de 2018 a 15 de julho de 2018

Horários: Terças a sábados, das 9h às 18h, Domingos e feriados, das 14h às 18h

Local: Centro Histórico Cultural Santa Casa — Sala de Múltiplos Usos I — 1º andar (Av. Independência, 75 Bairro Independência Porto Alegre — RS)

Sobre o artista:

Estêvão da Fontoura é artista multimídia, graduado bacharel e licenciado em Artes Visuais, pelo Instituto de Artes da UFRGS (2003 e 2018), e professor de arte no IFRS — Campus Osório. Participou do Projeto Casa Grande, um dos vencedores do Prêmio Funarte de Arte Negra 2012. Tem participado da trienal internacional para jovens artistas Eksperimenta! (Tallinn, Estônia) desde a primeira edição, em 2011, quando integrou o juri internacional, e na segunda e terceira edições, em 2014 e 2017, foi curador da mostra brasileira.

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