Exposição que critica governo Bolsonaro é encerrada na Câmara Municipal de Porto Alegre

Charges e cartuns foram consideradas ofensivas pela vereadora Mônica Leal (PP), presidente do órgão

Alessandro Sasso
Redação Beta
4 min readSep 4, 2019

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Exposição havia sido aberta no dia anterior ao seu fechamento. (Foto: GRAFAR/Divulgação)

A exposição “Independência em Risco” foi encerrada e retirada da entrada do plenário da Câmara Municipal dos Vereadores, nesta terça (3), sob ordem da vereadora Mônica Leal (PP), presidente do órgão, a pedido do vereador Valter Nagelstein (MDB).

No dia anterior (2), por volta das 18h, diversos dos artistas colaboradores participavam da abertura da exibição — realizada pelos Grafistas Associados do RS (GRAFAR) — dos 36 cartuns e charges que tratam do cenário político nacional. Tradicional desse estilo de ilustração, a sátira está presente nos traços dos autores que fazem críticas, por exemplo, à relação do presidente Jair Bolsonaro com os Estados Unidos, queimadas na Floresta Amazônica, demarcação de terras de povos indígenas e vazamentos das mensagens de celular de Sérgio Moro, Ministro da Justiça.

Abertura da exposição “Independência em Risco” (Foto: Alessandro Sasso/Beta Redação)

Na ocasião, o artista gráfico e presidente da GRAFAR, Leandro Bierhals, conhecido como Hals, falou sobre a importância da arte para a reflexão crítica. “A ideia da charge é usar o humor para contar uma situação e desenvolver um pensamento a partir dela”. Na mesma linha de raciocínio, Carlos Henrique Latuff, outro colaborador, aprofundou dizendo como a charge e o cartum são pontos de partida para análises maiores. “Serve para simplificar temas complexos. Essas manifestações conseguem condensar tratados políticos em uma única ilustração”.

Menos de 24 horas depois, Nagelstein declarou em sua conta no Twitter que a exposição “é uma ofensa ao presidente do Brasil”, destacando a ilustração de Latuff que retrata Bolsonaro lambendo os sapatos de Donald Trump e entregando o Brasil em uma bandeja, indicando uma relação de subalternidade. De acordo com reportagem do Jornal do Comércio, Mônica Leal se posicionou afirmando que o vereador Marcelo Sgarbossa (PT), que apoiou a iniciativa artística, tinha apresentado charges de outro teor. “Os cartunistas podem acusar a Câmara de censura. A exposição é ofensiva e não tem cabimento”, afirma.

Charge do artista Latuff, considerada uma ofensa a Jair Bolsonaro pelo vereador Valter Nagelstein (MDB). (Foto: Alessandro Sasso/Beta Redação)

Por coincidência ou não, durante a abertura da exposição, no dia anterior, Latuff tinha se posicionado com preocupação sobre a relação do atual Poder Executivo com a esfera cultural. “Quando você ataca a cultura, você tenta tirar das pessoas a capacidade da autocrítica e da compreensão da realidade”. E completou: “Assim fica mais fácil para um governo desse caráter governar. Desse jeito não teremos pessoas que questionem e façam reflexão”.

Charge de Schroeder que retrata a relação do Poder Executivo com os povos indígenas. (Foto: Alessandro Sasso/Beta Redação)

Após o encerramento da exposição que duraria até dia 19 de setembro, os cartunistas e chargistas participantes se manifestaram contra o ato. “Censura baseada na ideia deturpada da defesa da honra de um presidente ilegítimo”, afirma Hals. Compartilhando do mesmo pensamento, Eugênio Neves, outro artista colaborador, disse: “Os que defendem que temos que aceitar Bolsonaro só porque ele foi eleito são os mesmos que derrubaram de forma ilegítima Dilma Rousseff”, rebatendo Nagelstein, que afirmou que “o presidente foi eleito pela vontade soberana do povo”.

A GRAFAR reuniu seus integrantes na noite de terça-feira para definir seu posicionamento em relação ao ocorrido. A nota de repúdio ao fechamento da exposição foi divulgada no Facebook, com apoio de outras instituições, entre elas estão a Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões RS (Sated-RS). Além disso, há a previsão de um Ato contra a Censura e pela Liberdade de Expressão no dia 5 de setembro, em frente à Câmara dos Vereadores de Porto Alegre.

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