Fumicultura sobe para segundo lugar nas exportações do agronegócio gaúcho em outubro

Dados divulgados pela FEE mostram que o tabaco ultrapassou o setor de carnes no RS

Alessandro Sasso
Redação Beta
3 min readNov 22, 2017

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Rio Grande do Sul é o principal produtor fumageiro do país. (Foto: Pixabay)

A exportação de fumo e seus produtos derivados fechou outubro no valor de US$ 280,8 milhões, segundo pesquisa divulgada pela Fundação de Economia e Estatística (FEE), em 17 de novembro. O dado é referente à produção gaúcha, que no mesmo mês do ano passado foi de US$ 243,6 milhões. Os números evidenciam um aumento de 15,3% nos últimos doze meses, ultrapassando a indústria das carnes, que em setembro estava em segundo lugar entre os setores exportadores do agronegócio gaúcho, atrás apenas da soja.

A indústria fumageira atualmente exporta seus produtos para mais de 30 países, sendo a China a principal importadora. O crescimento ocorre apesar de 33 mil famílias terem reduzido a área de plantio de fumo nos últimos dez anos, segundo a Associação dos Fumicultores do Brasil (AFUBRA). Esse decréscimo se deve, de acordo com Mauro Flores, presidente da Comissão do Fumo da FARSUL (Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul), à falta de incentivo que os produtores recebem do governo federal. “O número de famílias está diminuindo, mas isso acontece com as outras culturas também. Muitas pessoas têm saído do campo para ir trabalhar na cidade. Para praticar alguma atividade do tabaco, a pessoa precisa ser maior de idade e, para a maioria, já é muito tarde para começar”, relata. Outro ponto é a alta carga tributária sobre a venda de cigarros, atualmente em 82%, fator que estimula a fabricação e o comércio clandestino do produto.

Conforme o previsto, o mês de setembro registrou recorde de demissões na indústria do fumo. Segundo a FEE, 3.861 empregos de carteira assinada foram perdidos no setor. Essa situação é comum, pois na cultura fumageira existem os chamados safristas, que são admitidos com contratos temporários para suprir a demanda da produção do fumo, com início sempre no último semestre do ano.

A abertura da colheita de fumo deste ano aconteceu em 27 de outubro, em Venâncio Aires, um dos municípios líderes na produção da folha no RS. É a primeira vez que a data é celebrada de forma oficial e contou com a presença do governador José Ivo Sartori, reforçando a importância desse setor para a economia.

A renda dos produtores de tabaco é de R$ 4.601,65 ao mês, em média, segundo pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, valor consideravelmente alto. Isso corresponde a quase quatro vezes a renda média do trabalhador brasileiro. As campanhas para que a população não fume ou diminua o consumo, a legislação restritiva — como a proibição do fumo em locais fechados — e a alta taxação vão de encontro aos interesses dos produtores, que veem na produção do tabaco uma possibilidade de obter uma boa renda em propriedades de pequeno porte e, em alguns casos, com relevos não planos.

“A perspectiva para esse ciclo que se iniciou é de colhermos de 660 a 670 mil toneladas nos três estados do Sul, sendo que 52% da produção é feita no Rio Grande do Sul. A colheita de fumo é a segunda cultura em termos de exportação na cadeia produtiva do agronegócio de um modo geral. São mais de três mil pessoas trabalhando de forma permanente”, explica Mauro Flores.

Ele afirma que para quem pretende produzir tabaco em suas terras o mercado é garantido e pode ser feito em pequenas propriedades. “Nenhuma outra atividade permite esse estilo de plantação com poucos hectares e com a mesma garantia de lucratividade. Se não fossem as restrições que o governo impõe, como essa implantada no fim de 2014 (a proibição de fumar em locais fechados e cobertos), a indústria estaria crescendo ainda mais”, acredita.

O preço médio do custo de 1kg de fumo é de cerca de 9 reais, segundo Mauro Flores. Para chegar até este valor são avaliados 458 aspectos — como uso da terra, horas de serviço, preços dos insumos — por três entidades, que são Federação dos Trabalhadores na Agricultura do RS (FETAG), AFUBRA e FARSUL. Este ano a negociação da produção dos agricultores com as indústrias está marcada para 6 de dezembro.

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