Futebol brasileiro tenta se adaptar ao árbitro de vídeo

Após tentativas isoladas em 2017 e 2018, Confederação Brasileira de Futebol implementa uso do VAR neste ano

Henrique Bergmann
Redação Beta
4 min readJun 18, 2019

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No começo de 2019, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decidiu que o sistema do vídeo arbitragem, popularizado como VAR, será usado em todos os jogos da série A do Campeonato Brasileiro com o intuito de auxiliar os árbitros em lances decisivos.

Apesar de acertos em lances decisivos do campeonato nacional, o uso do árbitro de vídeo também gerou discussões e polêmicas. O jogo entre Botafogo e Palmeiras, por exemplo, foi anulado depois que o clube carioca reclamou, junto ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), de suposto uso indevido do VAR. CSA e Bahia foram outros times que entraram com pedido de anulação de jogos que tiveram intervenção do vídeo.

Para o comentarista do Grupo RBS, Diogo Olivier, erros de arbitragem não são necessariamente culpa do VAR, mas de uma cultura que impede o total funcionamento da ferramenta. “Acho o VAR um sucesso e eventuais erros decorrem muito mais do fato de nós não estarmos preparados para utilizar essa nova tecnologia, do que por falhas do sistema”, explica.

O comentarista explica ainda que o estranhamento com o árbitro de vídeo é normal, já que o mundo do futebol vive, sem esse recurso, há 100 anos. Pode demorar para que o universo do futebol se acostume, mas a mudança deve trazer benefícios para o esporte. Olivier também entende que questões relativas ao VAR precisam ser melhoradas, como a transparência da vídeo arbitragem. Segundo ele, a divulgação da comunicação entre os árbitros e a súmula do VAR deveriam ser feitos com a intenção de eliminar aparentes erros. “A filosofia do VAR é a de errar menos e realizar a justiça do campo”, completa.

Para o ex-árbitro da Federação Gaúcha de Futebol, Fabrício Neves Corrêa, falta coragem aos juízes do futebol brasileiro. Para ele, os árbitros estão se apoiando muito na tecnologia, o que tira a autonomia do juiz e interrompe muito o jogo para a revisão de lances. “Os assistentes estão só esperando a vídeo arbitragem interferir e, isso, não é legal. Por mais que a ferramenta tenha a função de auxiliar, não se pode perder a essência e a vontade de acertar dentro do campo”, comenta.

Assim como Diogo Olivier, Fabrício também defende mudanças para aperfeiçoar o uso da ferramenta, como a transparência da comunicação entre o árbitro de vídeo e o árbitro de campo. Ele também defende a implementação de regras já consagradas em outras modalidades esportivas que se valem do árbitro de vídeo. “Sou a favor que os lances de vídeo sejam como no tênis e no vôlei. Cada equipe poderia ter um ‘desafio’ por tempo. O capitão do time pediria ao árbitro para revisar um lance de pênalti ou de agressão. Acredito que essa prática deixaria a decisão de revisar mais neutra”, afirmou.

O VAR começou a ser testado no futebol profissional em 2016, mas foi implementado oficialmente em 2017 em campeonatos populares como o Italiano e o Alemão, a Copa das Confederações e a Libertadores da América. A Copa do Mundo de Futebol Masculino, realizada na Rússia, em 2018, foi a primeira a se valer do uso do VAR na história dos mundiais. No futebol brasileiro, a vídeo arbitragem foi utilizada pela primeira vez nas fases decisivas da Copa do Brasil do ano passado.

Cabine do Árbitro de Vídeo na Vila Belmiro para a partida entre Santos e Cruzeiro pela Copa do Brasil 2018. (Fonte:João Moretzsohn / CBF)

Entenda como e quando o VAR deve ser usado

O VAR é um espécie juiz de futebol que acompanha o jogo fora do campo, vendo a partida através de câmeras que monitoram os quatro cantos do campo de futebol. Ele tem a função de ajudar o trio de arbitragem oficial nas decisões tomadas para o andamento das partidas. De acordo com a Federação Internacional de Futebol (Fifa), o VAR só deve auxiliar o árbitro de campo quando ocorrem erros claros em lances de gol, pênalti, cartão vermelho ou “confusão de identidade”. Dessa forma, segundo informações do site da Fifa, passam a valer as seguintes regras:

GOL: O VAR deve ser usado nesta situação para determinar se houve ou não uma infração para decidir se o gol deve ser validado.

PÊNALTI: O árbitro de vídeo auxilia para que não haja um erro claro em uma marcação de pênalti.

CARTÃO VERMELHO: O VAR é utilizado para que não ocorra um erro em expulsão ou não de um jogador

CONFUSÃO DE IDENTIDADE: Caso o árbitro de campo dê cartão amarelo ou vermelho para o jogador errado, o VAR deve interferir e auxiliar o juiz.

PROCEDIMENTO: Após algum lance dos citados acima ocorrer, o árbitro de vídeo informa ao juiz de campo lance em questão deve ser revisto. ou então o próprio juiz de dentro do gramado pede o auxílio do vídeo para rever tal lance.

O replay do lance é assistido pelo árbitro de vídeo, que diz para o juiz de campo se houve erro ou não na decisão. Depois disso, o juiz da partida pode tomar duas decisões: aceitar a informação que o VAR lhe passou ou assistir o replay ao lado do campo de jogo para tomar a ação correta. Lembrando que o replay deve ser passado na velocidade normal de jogo, nunca mais lenta.

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