Gás de cozinha tem alta pelo 17° mês consecutivo no país; entenda o aumento
Especialistas explicam que os preços, atualmente 9,27% do salário mínimo, podem seguir em alta
Seja por cozinhar em casa ou por comer fora todos os dias, todo mundo já sentiu, direta ou indiretamente, o efeito da alta nos preços do gás de cozinha. Em outubro deste ano, o aumento desenfreado chegou ao seu 17º mês consecutivo. Os dados são do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo — IPCA do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística — IBGE, que também apontam a crescente de 3,80% no mês de outubro e que o acumulado do ano chega a 31,65%.
Segundo o Monitor dos Preços do Observatório Social da Petrobrás — OSP, o valor atingido é o maior do século. Proprietário do restaurante Milton’s Buffet, de Novo Hamburgo, há mais de 18 anos, Milton Wolffenbüttel, conta como a estatística reflete na cozinha, no caixa do estabelecimento e, consequentemente, na vida pessoal. “Anos atrás eu me preparei para não trabalhar mais hoje. Os planos sucumbiram e atualmente chego a trabalhar 15 horas por dia, com 62 anos”, conta.
Para o empreendedor, quem é do setor gastronômico sofre duplamente. “Ainda estamos em uma retomada das nossas atividades e, portanto, não recuperamos nossa média de clientes”. Ele contabiliza que no período anterior à pandemia eram vendidos cerca de 300 buffets todos os dias, número que depois da retomada gradual gira em torno de 150 a 200. No auge da pandemia essa queda foi para 20 por dia.
Tudo isso se une à disparada da inflação, responsável por estufar o valor da carne, combustível e do gás de cozinha. “São coisas que nós até conseguimos contornar. Nós temos que contornar. O que não se contorna é falta da clientela que também é afetada por tudo isso. Acaba que a gente precisa abrir mão totalmente do descanso para não ter que fechar”, conta Milton, que tem ajuda da esposa Marli, 63 anos, e da filha Débora, 32 anos. “Depois que fecha, nós continuamos aqui dentro adiantando todo o trabalho de abastecimento da cozinha para o próximo dia”, relata.
O quadro de funcionários do Milton’s Buffet é composto por três cozinheiras, mais dois garçons. “Durante o almoço eu também sou o churrasqueiro. Precisaria de mais gente. Mas se torna insustentável fazer novas contratações neste momento”. Por isso a família espicha os horários para dar conta de ser empreendedor e funcionário ao mesmo tempo.
Em levantamento apurado pela Reportagem, que consultou diretamente 12 distribuidoras de gás de Novo Hamburgo, o valor mais baixo encontrado na cidade é de R$ 105,00 enquanto o mais alto bate os R$ 115,00. Os preços são relativos ao produto com tele entrega; para retirada no estabelecimento há descontos que baixam o custo para até R$ 95,00.
Por que o preço sobe?
A resposta está na composição do valor. Conforme a Petrobras, o processo ocorre da seguinte forma: O gás de cozinha (gás liquefeito de petróleo — GLP) é comprado pelas distribuidoras para ser revendido. Seja a granel ou em caminhão-tanque no meio industrial; ou também a granel, em cilindro ou botijão no setor residencial, institucional e comercial. A partir dos gastos de aquisição por meio do fornecedor, cada distribuidora acrescenta sua taxa de lucro de comercialização e se chega ao montante final pago pelo consumidor direto.
No gráfico, é detalhada a divisão dos encargos aplicados na composição do preço final do botijão convencional de 13kg, no exemplo: R$ 102,60.
A média se movimenta conforme a variação da arrecadação de imposto em cada estado. No que se refere ao Rio Grande do Sul, este fica na nona colocação em escala de custo mais alto sob o botijão, que, conforme relatório da Petrobras, fica em torno de R$ 102,00 e representa 9,27% do salário mínimo atual no Brasil, de R$ 1.100,00.
Já quando o assunto é o imposto estadual, o RS se destaca positivamente: é o terceiro a cobrar a menor taxa, ficando atrás apenas de Santa Catarina e do Rio de Janeiro, respectivamente.
No Rio Grande do Sul, de janeiro a outubro deste ano, o botijão de gás de 13kg saiu da margem dos R$ 75,00 para ultrapassar a marca de R$ 100,00. É o que mostram os dados atualizados periodicamente pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Antes de baixar, pode subir ainda mais
Com a influência do dólar, moeda que protagoniza a exportação petroleira do Brasil, especialistas especulam que antes ocorra uma movimentação de baixa, o teto ainda vá aumentar.
A reportagem de Juliana Elias do CNN Brasil Business, atualizada em 17 de novembro de 2021, informa que: “ o banco de investimentos norte-americano Goldman Sachs fala em um barril chegando aos US$ 90 ainda neste ano”.
E o diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura Pedro Rodrigues, para a CNN, afirma: “O petróleo é uma commodity mundial, então o que sempre explica as altas ou quedas de seu preço é a pura e simples lei da oferta e da demanda”.
Conforme o jornal de negócios inglês canadense Financial Post, o Bank of America Corp. a prospecção é de que os atuais US$ 80,00 do petróleo Brent (comercializado na bolsa de Londres) cheguem a casa dos US$ 120,00 até junho de 2022. O que deve se manter assim ao longo de todo 2023 e assegurar que mais altas nos preços vem por aí.
As especulações não garantem certezas, mas uma leitura provável do futuro cenário deste mercado no Brasil.