Gestão correta de resíduos infectados pode evitar contágio do coronavírus

Em Esteio, recomendação é a de que materiais contaminados sejam colocados sempre em saco separado

Guilherme Pech
Redação Beta
4 min readApr 14, 2020

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Com a pandemia de Covid-19, o consumo elevado de materiais de higiene, como luvas e máscaras cirúrgicas, pode resultar em resíduos sólidos contaminados além das zonas hospitalares, pondo em risco a saúde pública e o meio ambiente (Foto: cocoparisienne/Pixabay)

Segundo orientação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), uma das formas de conter a proliferação do novo coronavírus é o gerenciamento correto de resíduos sólidos, sobretudo nas residências. Durante a pandemia, um grande volume de materiais infectados e hospitalares, como máscaras, luvas e outros equipamentos, está sendo acumulado em todo o mundo.

Em Esteio, que já possui quatro casos confirmados de Covid-19 — entre eles, de profissionais da saúde — , a prefeitura não realizou divulgações específicas sobre o descarte de máscaras e demais resíduos com possível contaminação. A orientação da Vigilância Sanitária do município é a de que todo o lixo contaminado seja colocado sempre em saco separado. A coleta deste tipo de material, que também segue o padrão de recolhimento dos demais resíduos sólidos, incluindo o hospitalar, é terceirizada pela empresa Stericycle. No município de pouco mais de 80 mil habitantes, a Vigilância Sanitária informa que tanto a coleta quanto a destinação dos resíduos residenciais estão ocorrendo do mesmo modo geral. Além disso, as instruções dos profissionais da saúde permanecem as mesmas das inerentes a esse trabalho.

O hospital do município, a Fundação de Saúde Pública São Camilo, dispõe do obrigatório Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRSS). A informação é da responsável técnica pelo programa, a enfermeira Maria Helena Dutra. No âmbito da Covid-19, a técnica relata que os resíduos são 100% incinerados, sendo o tratamento final terceirizado pela empresa Stericycle. “Os resíduos são segregados na área de geração em recipientes fechados e com pedal, embalados em sacos na cor vermelha”, informa. A coleta interna é realizada pelo serviço de higienização, com uso dos equipamentos de proteção individual (EPIs), como máscaras, óculos, vestimenta e luvas, sob orientação e supervisão da equipe de controle de infecção do hospital, para ser, então, encaminhado ao serviço de epidemiologia de Esteio.

Alguns moradores do município estão buscando realizar uma gestão correta para o lixo residencial. É o caso do padeiro Alexandre Ramos, 23 anos, que utiliza luvas e máscaras cirúrgicas para higiene e proteção pessoal. “O lixo normal deixamos para os caminhões, mas esse tipo de material levamos direto para um descarte adequado”, comenta. Já o servidor público Frankie Côvolo, 32, adere desde antes da pandemia à coleta seletiva do condomínio onde mora. “Separo o material conforme o tipo especificado nos tonéis da coleta, entre lixo comum, papel, plástico e vidro. Mas não houve nenhuma alteração nesse processo com a pandemia”, explica.

Em Pelotas, na região sul do estado, com o aumento dos resíduos contaminados gerado pelo descarte incorreto de luvas e máscaras na coleta seletiva, a prefeitura e o Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (Sanep) disponibilizaram à população sacos de lixo na cor vermelha, que devem ser utilizados para descartar esse tipo de material apenas no lixo orgânico.

Empresas relatam aumento na demanda de itens para higiene pessoal

Segundo a startup VG Resíduos, criadora de um software online de gestão de resíduos, de Belo Horizonte (MG), o crescimento no consumo de itens para higiene durante o isolamento social aumenta significativamente o descarte de papel-toalha e embalagens, ou seja, a quantidade de resíduos sólidos contaminados. Por isso, o problema vai além das zonas hospitalares, as quais já recebem coleta e tratamento adequado estabelecidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A plataforma global de vendas AliExpress, por exemplo, registrou 200% a mais de vendas de produtos voltados para higiene pessoal e de proteção à saúde no Brasil desde março. O principal item foram as máscaras protetoras, que apresentaram um aumento de 500%. As consultas relacionadas a máscaras foram quase três vezes maiores, em comparação a fevereiro.

Já um levantamento da plataforma Zoom demarcou 916% de crescimento da procura do produto, na segunda semana de março, em comparação à primeira. O aumento verificado na plataforma, conforme investigado em matéria do jornal Extra, se deve à proliferação de casos de Covid-19 no país e, em parte, pela desinformação.

Medidas incentivadas pelos governos

A utilização de máscaras para evitar o contato com o novo coronavírus, no início da pandemia, era recomendada somente para pessoas sintomáticas e para profissionais da saúde. O Ministério da Saúde, entretanto, fez algumas ressalvas no último dia 1°, explicando que as máscaras podem ser usadas por toda a população. Para a OMS, os governos que sugerirem o uso geral do material devem orientar a população sobre como usar, higienizar e descartar as máscaras.

Alguns governos estaduais e municipais brasileiros já estão divulgando medidas para o descarte correto de materiais recicláveis, alertando a necessidade da população estar bem informada para preservar, inclusive, os trabalhadores de limpeza urbana, como o caso do Maranhão. Alagoas também reforçou a importância de redobrar os cuidados com estes materiais, explicando que, em caso de pessoas com suspeita da doença, a instrução é para separar uma lixeira exclusiva no cômodo de casa, usando sacos de lixos mais resistentes.

Em âmbito municipal, a cidade paulista de Indaiatuba foi exemplo. A prefeitura do município recomenda que o descarte correto do lixo residencial no período de isolamento social também ajuda a diminuir riscos de contágio do novo coronavírus.

Duração do vírus em superfícies sólidas

(Arte: Guilherme Pech/Beta Redação)

A Abes publicou também um material informativo sobre a gestão de resíduos em situação da pandemia do novo coronavírus. Acesse AQUI.

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