GIL: um espetáculo dançado pela voz do Brasil

Grupo Corpo apresenta turnê com trilha sonora de um dos maiorias músicos brasileiros

Laura Hahner Nienow
Redação Beta
3 min readNov 6, 2019

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U ma hora e meia antes do espetáculo começar, o saguão do Teatro do Sesi, em Porto Alegre, já estava cheio. Na noite de sábado (2), dezenas de pessoas se enfileiravam no applause caffé. Grande parte dessas, depois de atendidas, iam procurar um lugar para sentar-se enquanto bebericavam o espumante que acabaram de comprar. Outras, conversavam enquanto folheavam o encarte do espetáculo. No tamanho A4, o folder chamava a atenção por sua cor amarelo canário. Nas 16 páginas, o Ministério da Cidadania, Petrobras e Governo de Minas Gerais apresentam o espetáculo GIL, do Grupo Corpo.

No cenário de Paulo Pederneiras, Grupo Corpo encena o espetáculo GIL (Foto: José Luiz Pederneiras/Divulgação)

Às 21h, a montagem Sete ou oito peças para um ballet, de 1994, foi representada e, às 22h15, o show, com a música de Gilberto Gil, começou a seduzir os bailarinos coreografados por Rodrigo Pederneiras. Composta exclusivamente para o número de integrantes do Grupo Corpo, a trilha sonora de Gil apresenta 16 faixas, coincidentemente, o mesmo número de bailarinos e bailarinas que subiram ao palco. A trilha é, em sua grande maioria, formada por músicas instrumentais. A impressão era de que, a qualquer hora, Gilberto iria sair das coxias com seu passo tímido.

Os 16 vestiam macacões pretos justos ao corpo, projetados pela figurinista Freuza Zechmeister, que facilitaram o movimento dos bailarinos e a visão do público sobre eles, fascinando a plateia. As sequências de oito eram habilmente repetidas em ritmos, ângulos, tempos e formações diferentes. Tal proposta precisa ser bem planejada e bem executada. O risco é que a dança fique maçante, mas Pederneiras coreografou com maestria. A dança também fugiu do óbvio a poupar o rebolado e, somente uma vez ou outra, algum dos bailarinos arriscou uma sambadinha.

Dezesseis bailarinos dançam a trilha de Giberto Gil. (Foto: José Luiz Pederneiras/Divulgação)

Na segunda parte do espetáculo, os corpos dos bailarinos viraram borrifadores de suor. A cada movimento era possível ver as partículas sendo lançadas no ar. O novo linóleo amarelo no cenário, combinado com o courino das sapatilhas, fazia-nos ouvir o som das pisadas dos bailarinos. Normalmente tal ruído é tido como falha e falta de leveza dos dançarinos. No caso do Corpo, certeza que não foi. Particularmente, o som até me faz sentir o movimento dos que dançavam.

As luzes se apagaram e aplausos exaustivamente foram entregues ao Grupo Corpo, que lotou o teatro naquela noite.

Grupo Corpo

Fundado por Pederneiras em 1975, em Belo Horizonte, o grupo firmou seu nome no cenário da dança brasileira dez anos depois, quando representou Prelúdios, leitura cênica da interpretação do pianista Nelson Freire para os 24 prelúdios de Chopin, no I Festival Internacional de Dança do Rio de Janeiro.

Nos anos 1990, o Grupo Corpo intensifica sua agenda internacional e atua como companhia residente da Maison de la Danse, de Lyon, na França, fazendo neste período a estreia europeia de suas criações Bach, Parabelo e Benguelê. Hoje, com 39 coreografias, a companhia tem se apresentado em lugares como Islândia, Coreia do Sul, Estados Unidos, Líbano, Itália, Cingapura, Holanda, Israel, França, Japão, Canadá e México.

Ficha técnica — GIL

Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Música: Gilberto Gil
Cenografia: Paulo Pederneiras
Figurino: Freusa Zechmeister
Iluminação: Paulo Pederneiras e Gabriel Pederneiras

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